quinta-feira, 17 de maio de 2018

Cap.6: Monismo (AGS)

A partir daqui a Voz explica o método adotado. Trata-se de seguir o fluxo natural do processo evolutivo, mostrando de forma compreensível o porquê das repetições (desenvolvimento cíclico) que, apesar de aparentar sempre retornar ao mesmo ponto, a cada processo completado  (ciclo) sofre a adição de um novo ingrediente, fazendo com que o mesmo conceito (posição angular) passe a ser visto de forma mais ampla (distanciamento radial, traduzido em potência de relacionamento com outras vertentes da vida). Assim se desenvolve a espiral evolutiva, com pequenas aberturas ao longo de seu progredir espaço-temporal, tornando-se cada vez mais vasta.

"Avanço seguindo uma espiral que gradualmente aperta suas volutas concêntricas e, se passo de novo pela mesma ordem de ideias, toco o raio que parte do centro num ponto cada vez mais próximo dele. Guio vosso pensamento para este centro."
AGS (grifos meus)

O conceito será posteriormente melhor desenvolvido (Cap. 33 a 37), com introdução de diagramas gráficos e exemplificações a partir das últimas descobertas da ciência. 


Pascal: consciência monista. Santo e gênio.
Não devemos observar isso tudo a partir de nosso ponto de vista - por mais difícil que seja vê-lo de forma diversa. O uso de desenhos em papel é uma degradação de um conceito somente plenamente compreensível em dimensões superiores, que extrapolam as barreiras do espaço e do tempo. Logo, o progredir de nosso tempo relativo (que findará um dia) na forma de trajetória angular, é apenas um modelo para dar uma ideia que possa permitir à nossa (pobre) mente começar o processo de maturação interior, se colocando em seu devido lugar, isto é, aprendendo a ver suas limitações. A humildade é o início do ímpeto evolutivo na vertical mística. 

Da mesma forma pode-se dizer que o distanciamento radial do centro - ponto de contração máxima da consciência - representa um ganho de liberdade. Quanto mais área a nossa 'trajetória consciencial' abarca, maior o grau de livre arbítrio. O ponto de partida é o que o humano moderno, crente cegamente na ciência restrita/materialista, valoriza e reconhece como artigo de fé: a matéria. Não à toa, a partir do capítulo X inicia-se o estudo da fase matéria. Estudo orientado pelas premissas. 

"Penetro, sintetizo e aperto num monismo absoluto os imensos pormenores do mundo fenomênico, incomensuravelmente vasto se o multiplicais pelo infinito do tempo e do espaço; canalizo a multiplicidade dos efeitos – dos quais a ciência, com imenso esforço, vislumbrou algumas leis – nos caminhos convergentes que conduzem ao princípio único. Farei desse mundo, que pode parecer caótico a vossas mentes, um organismo completo e perfeito.

A complexidade que vos desanima será reconduzida e reduzida a um conceito central único e simples, a uma lei única, que dirige tudo."
AGS (grifos meus)

Essa complexidade a ser sintetizada num conceito central, único, é o que pode-se chamar de monismo. Ele não nega o dualismo: engloba-o. Eis o porquê de vivermos num universo dual. Eis o porquê de nosso mundo estar repleto de contradições desde o início da nossa trajetória civilizatória, com embates entre grupos, religiões, teorias, partidos, pessoas, profissões. No entanto a jornada sempre continua, de uma forma ou de outra. Existe um senso de orientação no íntimo de cada ser vivo que aponta para essa meta suprema, que visa (re)construir a integridade do Ser, tornando-o Uno em si e com o Universo. Trata-se da imanência de Deus.

A ascese é um treino interior que devemos fazer para que
a potência de uma vida superior possa se manifestar em nós.
Todos mestres apontaram para isso. Ela pode ter várias formas:
jejum, oração, celebração, serviço, confissão, silêncio,
solitude, meditação, contemplação, reflexão, entre outras.
Cada um deve buscar a mais apta a si.
Deus é imanente para permitir nossa evolução (salvação), atuando no íntimo, na intenção, no ímpeto criador de cada criatura, cada qual a seu nível e com sua responsabilidade. Deus é transcendente porque supera tudo que conhecemos, e permanece como a meta infinita e eterna, Senhor do espaço-tempo e dimensões superiores. Logo, do estado perfeito em que fomos criados, quando optamos por criar nossas leis e segui-las, caímos por estas serem imperfeitas. Mas o Criador veio até nós (imanência) para sofrer e ajudar-nos a subir. Mas permaneceu no domínio absoluto, além das dimensões que conhecemos (transcendência). 

Sofrer? Deus?

O fato de haver uma entidade perfeita não implica que esta não sinta (logo, sofra e se alegre). Mas trata-se de um sentimento superior. Tão superior que é a perfeição, o supra-sumo. A sublimação completa das emoções humanas colima no sentimento divino, inexpugnável fortaleza do espírito que derrete todos maquiavelismos da mente. 

Deus não é um androide, ou exterminador do futuro com qualidades terrenas infinitamente expandidas. Ele É. Revelar sentimento não é sinal de fraqueza, porém de força. A questão é superar a dicotomia sentir = fraqueza e maquinar mentalmente = astúcia = força = sucesso. Somente o fracasso sentido, sangrado, sofrido e adequadamente engolido e elaborado poderá lançar as bases para a ascensão inidividual e consequente libertação do modo de vida atual, atrasadíssimo para quem percebe a finalidade de estarmos aqui, neste mundo cego e enfastiado de distrações e cisões. Apenas a vergonha que carregamos de nossos sentimentos mais profundos tornam eles fracos e vulneráveis aos julgamentos do mundo. 

O monismo é acima de tudo um estado de consciência. Ele é a progressão orientada do monoteísmo. E o grau de percepção ao qual ele nos conduz é tão vasto que deixamos de vê-lo como uma simples continuidade da vertente religiosa - pois ele funde ciência e religião, reforma íntima e justiça social, homem e mulher, pessoal e coletivo. Chegar-se-à a uma percepção que deixará o bandeirante da evolução solitário e desolado, pois ninguém o compreenderá plenamente. Este ser terá uma árdua tarefa pela frente, cuja maior virtude a ser conquistada é uma só: paciência. A conquista dessa virtude, de modo pleno e definitivo, será um tormento e uma batalha cotidiana, que exigirá uma elaboração interior fantástica. As tempestades da alma terão de ser lidadas simultaneamente com as inúmeras bestialidades do mundo, que despeja atividades burocráticas que nada acrescentam ao ser ou ao meio (meras convenções), não coopera, não compreende, ignora, espalha meias-verdades (mentiras) e provoca (tentações) de todos modos imagináveis. Isso irá drenar uma quantidade enorme de energia desse ser, que obrigatoriamente opera em duas frentes: uma humana, do mundo, outra espiritual, da consciência. Sentirá constantes alterações de humor, cansaço profundo, solidão terrena. Resta procurar companhia na solidão e no silêncio - único lugar no qual Deus pode se manifestar e derramar a linfa divina que permitirá a progressão da jornada e o cumprimento do destino.

Quem realmente deseja expandir a consciência deve estar preparado para isso. 

"Atentai mais aos conceitos que às palavras. Por vezes a ciência acreditou ter descoberto e criado um conceito novo, só porque inventou uma palavra. E o conceito é este: como do politeísmo passastes ao monoteísmo, isto é, à fé num só Deus (mas sempre antropomórfico, pois realiza uma criação fora de si), agora passais ao monismo, isto é, ao conceito de um Deus que é a criação."
AGS (grifos meus)

Espinoza: também ignorado, rejeitado e perseguido.
"Alinhar nossa vontade com a vontade de Deus, quer isso
nos pareça bom ou ruim.", é sua grande visão.
Em larga medida entramos em querela por palavras. Por vezes o que se deseja é  a mesma coisa, mas as diferenças de definições e métodos cria terreno para uma luta insuprimível que leva à morte, ódio, perseguições. Não é possível progredir efetivamente à base de formalismos da mente e da lógica. Deve-se ater ao conceito. É o que falo aos meus alunos - é o que falo a mim. Preciso me forçar cada vez mais a ver a essência das coisas, de modo que apenas possa falar disso quando tiver vivido (sofrido) suficientemente.

Quem domina o conceito é mestre do seu destino e liberto das correntes do mundo. Está solitariamente plenificado. 

"Cada novo horizonte que a razão e a ciência vos mostraram era apenas uma janela aberta para um horizonte ainda mais longínquo, sem jamais atingir o fim. Eu, porém, vos indicarei o último termo, que está no fundo de vós mesmos, onde a alma repousa. Progredindo da periferia para o centro, subiremos das ramificações dos últimos efeitos, ao tronco da causa primeira, que se multiplicou nesses efeitos."
AGS (grifos meus)

Rohden já disse: "a erótica é a mística da carne - a mística é a erótica do espírito."

O prazer do místico é prazer também - só que de outra forma. Essa percepção depende do que somos. O objetivo dessa síntese é introduzir um novo método de pesquisa, por intuição. Mas para isso é preciso que mudemos por dentro. Dessa forma estaremos receptivos (sintonizados) à correntes de pensamento superiores, que fará uma ponte entre o imponderável e nossa alma. Assim - e só assim - iremos resolver as questões que se nos apresentam hoje. Alguns meios humanos podem ser a ponte para isso, como  a visão sistêmica, ponte entre técnica racional e misticismo vivencial [1].

Referências e vídeos:
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/03/pensamento-sistemico-ponte-entre.html
[2] https://www.youtube.com/watch?v=2FQesPn9hvI - os últimos 15 minutos do filme dão uma ideia de monismo
[3] http://estudoubaldi.blogspot.com.br/2011/03/grande-sintese-uma-visao-geral-da-obra.html
[4] https://vidacontemplativa.wordpress.com/tag/ascese/

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