domingo, 13 de maio de 2018

Cap. 4 e 5 - Consciência, Mediunidade - Necessidade de uma Revelação

Como estamos observando, a primeira parte do tratado (cap. 1 a 6) levanta as premissas, que serão a base dos desenvolvimentos subsequentes. Como se trata de uma síntese do conhecimento humano em todas vertentes, incluindo os aspectos humanos não compreendidos pela mente (como o afeto), a Voz inicia a jornada descrevendo a essência de nossa inteligência atual (razão) e seu produto mais prático (ciência). Ao mostrar claramente as limitações do paradigma racional-analítico (~1600 - 1950), levando o leitor sincero a concordar, introduz na sequência uma nova forma de inteligência (intuição), que será a "razão do futuro". E mostra exemplos de homens da ciência (Pascal, Einstein) e da arte (Beethoven, Chopin) que nossa lógica hodierna é incapaz de enquadrar num sistema lógico. Não sabemos explicar, de acordo com nossos métodos e mentalidade, o porquê nem o como da gênese de certas teorias e sinfonias, chegando ao máximo a uma pobre e insuficiente aproximação - que alguns julgam suficiente por não ser capaz de andar além. Na sequência mergulhamos no significado das provas, supra-sumo da ciência materialista, na qual apenas admite-se algo se há uma demonstração objetiva, isto é, reproduzível em todos os ambientes, visualizável, sentida e ouvida por todos indivíduos (com esses sentidos). Caso contrário trata-se de um delírio, uma não-realidade. Nesse sentido podemos dizer que "falta de fé" é o que o mundo moderno possui, pois 'fé' vem de fides (fidelizar), que aponta para sintonização com uma fonte diversa, superior. Como a nossa biologia psíquica, em imenso número (quantidade) ainda não atingiu um grau de maturidade suficientemente refinado / orientado, é inadmissível que haja algo além do que a maioria numérica pode perceber - isso nos deixaria inconformados. Cria-se portanto uma explicação pobre, que o íntimo do ser percebe ser uma aproximação fraca que tende a ser abandonada em pouco tempo.  

Chega-se à questão da consciência e - no desenvolvimento maior desta - na mediunidade, o que colima na necessidade de uma revelação. Antes de adentrar nesse terreno, que já começa a levantar o instinto cético nos intelectualizados e cultos, vejamos em maior detalhe os paradigmas que (ainda) norteiam a mentalidade dos homens de poder e prestígio, cujos métodos e mentalidade ainda são admitidos como exemplo pelas massas. 

Figura 1: Paradigmas do pensamento
racional-analítico.
A Figura 1 mostra os três paradigmas da razão. A simplicidade afirma que deve-se separar as partes para entender o todo. Daí a mania humana de criar fronteiras geográficas, delimitar áreas do saber, compartimentalizando-as, dividir etnias e crenças, cindir correntes sociais ao invés de procurar pontos comuns. Esse paradigma tem nos brindado com diversos avanços no bem-estar, já que é necessário destrinchar a lógica de funcionamento dos elementos de um sistema. No entanto, com o aumento da complexidade da organização humana (ex: rede global de comunicação, aquecimento global, financeirização da economia, convergência ciência-filosofia-religião, desmoronamento dos sistemas representativos, entre outros), afetando o ambiente terrestre, percebe-se claramente que a solução não pode estar na simples intensificação das qualidades tecnológicas dos elementos, mais sim na interconexão deles, tanto individualmente quanto coletivamente. Entre elementos, subsistemas, sistemas e sistemas de sistemas. 

A estabilidade pressupõe que dadas as condições iniciais de qualquer situação, consegue-se traçar com precisão seu comportamento subsequente. Vemos que isso também possibilitou avanços, mas mostra limitações no mundo moderno, onde começam a brotar mentes mais esclarecidas. A meteorologia não é determinística. A Física Quântica, com seu Princípio de Incerteza de Heisenberg, aliada aos conceitos da Transformada de Fourier [1], demonstra empiricamente a impossibilidade de saber posição e orientação simultaneamente. Ou seja, o determinismo acaba concomitante ao método da razão, sequencial e segregadora. A partir daí recorre-se à Teoria da Probabilidade, que desemboca nos processos estocásticos [2]. Estas dão uma série de faixas e probabilidades, mas não especificam pontos certos. 

A objetividade é a cisão entre sujeito e objeto. Ela é consequência da simplicidade, que funciona à base da separação. Dessa forma, com toda personalidade vendo exteriormente um fenômeno, captando o pelos sentidos e processando-o sequencialmente, pela lógica, há a tendência de identificação e portanto construção de uma base sólida aceita pela mentalidade humana. Por fora todos vêem a mesma coisa. Esse paradigma permitiu a construção de teorias, ideias, inventos e métodos. Mas jamais explicou os milagres e outros fenômenos impressionantes como o modo como Einstein chegou à ideia de relatividade, ou Beethoven orquestrou, sem ouvir, a 9ª sinfonia, que impressionou o mundo e deixa as almas sensíveis prostradas diante de tanta beleza. 

Já se disse que somente compreende-se um fenômeno quem o viveu. De nada adianta estudá-lo e observá-lo de fora. Somente quem deu aula sabe o que é coordenar uma massa heteróclita para obter o melhor de cada um; somente quem se casou sabe a arte da convivência profunda; somente quem teve a responsabilidade de criar um filho sabe dos picos e vales que permeiam o cotidiano; somente quem chegou ao poder e teve de se sujar para fazer algo (ou tentar) sabe os meandros do processo. Estamos assim diante da limitação da inteligência humana...

Figura 2: Paradigmas do Pensamento
Sistêmico
O Pensamento Sistêmico propõe três paradigmas (Figura 2) em contraponto aos do Pensamento Racional-analítico. À simplicidade coloca-se a complexidade, de forma a forçar os nossos limites, afirmando que a simplificação amputa questões essenciais dos fenômenos estudados. Quando forçamos a realidade a se adequar aos nosso modelos mentais, construímos um mundo de ilusão que cedo ou trade trará seus frutos (amargos).  É momento de ascensão interior para expandirmos os limites da mente, criando novas ligações entre elementos consolidados.

À estabilidade coloca-se a instabilidade

Afirma-se:
"não conhecemos e queremos mudar nossa alma para capturar o significado desse novo mundo que se revela aos nossos olhos" 
ao invés de 
"conhecemos (pobremente) com base na teoria da probabilidade, e ela é suficiente para o que queremos" 

Ou seja, estimula-se a mudança, que deve vir de dentro. Nossa perspectiva deve mudar profundamente. Para resolver essa equação devemos ir além dos símbolos convencionais. Trata-se sobretudo de um sistema de equações filosófico que desemboca numa síntese mística. Isso só poderá ocorrer com a experiência da vivência. Temos assim:

Dor + Reação adequada (alto nível) + Tempo (longo) = 
Criação de novos valores (maturação) --> Compreensão / Paz

Ao contrário do método do mundo que vê de outra forma.

Dor + Reação convencional (baixo nível) + Tempo (curto) = 
Reforço da crença antiga (engessamento da personalidade) --> Ódio / Estresse / Fuga

A intersubjetividade é - da mesma forma- consequência direta da complexidade. O que a gente observa determina o grau de indeterminismo da parte complementar, e vice-versa. Nós, observando, afetamos o fenômeno, observado. Logo, quem observa mais à fundo (não necessariamente mais superficialmente, mas captando o significado daquilo que vê), se distanciando da enorme massa humana, irá sentir um indeterminismo mais compreensível. O mistério espanta menos e encanta mais. Não ouso avançar por medo de tropeçar...

"O sistema de pesquisa positiva, ao vos fazer olhar mais profundamente as leis da natureza, também vos fez descobrir o modo de transformar as ondas acústicas em elétricas, dando-vos um primeiro termo de comparação sensível daquela materialização de meios que empregamos.
Cap. 4, AGS (grifos meus)

Relaciona-se o inexplicável com o que já foi explicado.

"No mundo da matéria, temos primeiro os fenômenos; depois, vossa percepção sensória e, finalmente, por meio de vosso sistema nervoso convergente para o sistema cerebral, vossa síntese psíquica: a consciência."
idem

A formação da personalidade parte desse contato da consciência com o mundo tangível. Para os mais evoluídos, os impactos de fora moldam de forma diferente o interior. Trata-se de passar o centro de gravidade da vida mais próximo a uma consciência diversa: a latente, ainda não plenificada.

"Se descermos mais na profundidade, encontraremos a consciência latente, que está para a consciência exterior e clara, assim como as ondas elétricas estão para as ondas acústicas.A essa consciência mais profunda pertence aquela intuição, que é o meio perceptivo, ao qual é necessário chegar, como vos disse, para que vosso conhecimento possa progredir."
idem (grifos meus)

A consciência possui estratos. Diversas camadas, como uma cebola [3]. Compreendemos a parte que finda com a vida. Mas homens respeitados da ciência já atestam a sua sobrevivência [4], tendo passado anos trabalhando sob o mando do paradigma racional-analítico (tem portanto cuidado ao rasgar os limites do método, usando-o, e não impondo-o, ao mundo do inexplicável). 

"Apenas alguns indivíduos excepcionais, precursores da evolução, estão conscientes na consciência interior. Esses ouvem e dizem coisas maravilhosas, mas vós não os compreendeis senão muito tarde, depois que os martirizastes. No entanto esse é o estado normal do super-homem do futuro."
idem

Essa consciência profunda é a base da mais alta forma de mediunidade, ativa e consciente, como a de Ubaldi. É ela que permitiu elaborar a Obra e (especialmente, no auge da maturação) A Grande Síntese. Foram necessários 20 anos de dor e reação adequada para chegar a um grau de purificação que permitiu a abertura dos canais do espírito a vozes superiores. O estudo exterior serviu apenas como uma forma eficaz para organizar a substância, deixando-a compreensível para a ciência.

"Vossa consciência humana é o órgão exterior através do qual vossa verdadeira alma eterna e profunda se põe em contato com a realidade exterior do mundo da matéria. Por intermédio deste órgão, a alma experimenta todas as vicissitudes da vida; faz destas experiências um tesouro, assimilando-lhes o suco destilado, do qual ela se apodera, tornando suas estas qualidades e capa-cidades, que mais tarde constituirão os instintos e as ideias inatas do futuro. Assim, a essência destilada da vida desce em profundidade no íntimo do ser, fixando-se na eternidade como qualidades imperecíveis, de modo que nada, de tudo o que viveis, lutais e sofreis, perder-se-á em sua substância."
idem (grifos meus)

O que vale não são as obras, mas o processo doloroso que passamos ao concebê-las e mantê-las. Todos finitos se vão, mas a experiência do processo fica marcada para sempre, na alma.

Terminada essa exposição, fala-se na necessidade de uma revelação, único modo dos espíritos evoluídos, irmanados na visão do progresso, possam conduzir seus trabalhos terrenos de forma orientada, culminando na transformação do mundo.

"O estudo que vos exponho representa novo princípio para vossa ciência e filosofia, novo rumo para vosso pensamento. O momento psicológico que a humanidade atravessa hoje requer a ajuda dessa revelação. Não vos assusteis com essa palavra; revelação não é apenas aquilo de que nasceram as religiões, mas também qualquer contato da alma humana com o pensamento íntimo que existe na criação, contato que revela ao homem um novo mistério do ser"
Cap. 5, AGS (grifos meus)

No íntimo todos sentimos a necessidade de um conceito superior e vivido em parte. Não à toa admiramos - geralmente em silencioso jubilo - quando alguém supera uma convenção pútrida de forma corajosamente inteligente, estimulando a continuidade do desenvolvimento interior. 

"A mente humana procura um conceito que a abale, conceito profundo e mais poderosamente sentido, que a oriente para a iminente nova civilização do Terceiro Milênio."

Como disse Pedro Orlando, no momento em que formos conscientes no superconscientes teremos essa revelação. Trata-se da translação da faixe tríplice das inteligências (subconsciente, consciente e superconsciente).

A Voz explica do porquê da elaboração dessa síntese - o Evangelho da Ciência - quando aponta para a unificação das religiões sob um mesmo princípio, sem obrigá-las à abdicação das formas relativas, mas apenas causar uma mudança de substância em cada uma.

Referências:
[1] https://www.youtube.com/watch?v=MBnnXbOM5S4
[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2018/03/o-universo-e-deterministico-ou.html
[3] A animação Shrek tem uma fala que remete a essa analogia.
[4] https://www.youtube.com/watch?v=EgAPwSWuRog

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