quarta-feira, 11 de abril de 2018

O Cumprimento de um Destino

Começo este ensaio de modo abstrato. E assim permanecerei, até o seu fechamento - que nada mais é do que a constatação das leis da vida, operantes na profundidade, para vencer na e pela eternidade. Falo para aqueles com senso íntimo apurado. Minha voz se dirige a todos que buscam ver a realidade de forma um pouco mais profunda, despidos de preconceitos e narrativas prontas. Minha voz não visa impor ou expelir mágoas, magoar ou causar distorções. Para tanto ela será um registro para o porvir, para as décadas, séculos e milênios. E portanto deve ser hoje, em tempos de fúria irrefletida e neutralidades perversas, uma harmônia abstrata e de sentimento profundo, unicamente capturável pelos corações sensibilizados e pelas mentes amadurecidas. Mentes que começam a se submeter a uma inteligência universal, superior, atuante além do espaço-tempo. Uma inteligência capaz de elaborar sínteses fantásticas. Uma mente em contato com os sentimentos mais elevados, que intui a verdade sem exatamente saber explicá-la pelos métodos do mundo - e portanto permanecem quietas.

Há momentos em que o destino de um indivíduo se funde com o destino coletivo íntimo da humanidade. Esses momentos são vistos por muitos como um evento comum. Para outros como necessário. Para outros como banal. Para outros ainda como trágico. Para outros como um triunfo. Mas essas visões são superficiais, que apenas tangenciam a superfície de um bloco de ideias vasto, permeado de significado e conceitos. 

Esses momentos únicos, singulares, raros na História, não brotam do nada. Eles são construídos, inconscientemente, pelos povos e pelo indivíduo. Este, em menor ou maior grau, sentindo sua ascensão no mundo em prol de uma realização coletiva superior, se vê diante do desafio titânico de contrabalancear os métodos do mundo (tradições humanas) com o desígnios do Alto (consciência). A combinação é explosiva. O controle desse binômio exige uma personalidade ágil e astuta, mas ao mesmo tempo sincera e visionária. Pouquíssimos são os personagens capazes de orquestrar essa dança binomial dinâmica, suportando todos os ataques das forças do mundo, que fazem uso da neutralidade "inocente" das massas para desferir os golpes mais duros - e criar os piores contextos.

Somente quem foi martelado pelo mundo, tendo vícios amputados e virtudes cuidadas, podem compreender o significado de determinados eventos. É na reação à dor que vemos o íntimo das almas. Que conhecemos sua natureza. Sua verdadeira face. É daí que saem as explosões conceptuais dos gênios, os atos de bravura dos heróis, a vivência super-humana dos santos. É somente com a destruição do humano que revela-se a potência do divino. 

O ideal, para descer e se consolidar,
deve pactuar com o mundo - feliz
ou infelizmente. É lei inexorável
no Anti-Sistema (AS). Para um dia
chegarmos ao Sistema (S).
Um homem. Um destino. Marcado desde sua infância. Uma trajetória que possuía um plano pré-determinado, que se ajustava conforme às condições históricas se desenvolviam. Um homem como todos nós. Nascido na miséria. Filho de um povo, com todas suas características. Destino aparentemente traçado, pela análise do mundo. Mas eis que o desenvolvimento dessa trajetória se deu de maneira realmente conforme prevista e permitida pelo mundo, com seus poderes podres dominando quem sobe e quem desce. Ao mesmo tempo, esse desenrolar de destino se deu de forma completamente diferente daquele desejado pelas mesmas forças que julgavam manipulá-la. Enquanto esse pobre indivíduo, com poderes grandes mas temporários, com influência imensa das massas, e obediente ao sistema hodierno - mas ciente disso - fazia o seu trabalho, combinando espírito e matéria, céu e terra, ideal e realidade, os poderes assistiam no detalhe, prontos para, no momento certo, capturar um aspecto humano desse personagem, e mostrar que ele era não apenas igual, mas pior do que todos. Golpeou mas não eliminou.

Depois desse golpe nosso personagem cumpre os maiores feitos no campo da diplomacia internacional, da inclusão social, da democratização do ensino, sem no entanto deixar a desejar os indicadores econômicos. Sabia ele que essas alterações (pobres, poucas e deficientes) estavam muito aquém daquelas que poderiam - e deveriam - ser feitas -  para vivermos num mundo minimamente justo e livre. No entanto, os poderes estabelecidos possuíam um sistema tão rígido, com punições férreas a quem o transcendesse, que nosso personagem viu que nada poderia fazer. Tudo que fosse além dos seus pequenos planos poriam em risco vidas de pessoas. O mundo, e especialmente o nosso país, não está pronto para um sistema minimamente humano - não enquanto a falta de informação predominar, e a capacidade de reflexão for obliterada pelo ego, cheio de certezas e vazio de interconexões com o seu meio. E assim seguiu-se a trajetória. 

Compactuar com o mundo no nível do estritamente necessário para realizar um quid a mais deixa de ser pecado para se tornar dolorosa missão. Isso poucos compreendem, seja por estarem fascinados pelas novidades do momento ou pela urgência do alívio das tensões do cotidiano - tão miserável em todos aspectos. 

O mundo não permite saltos grandes. Natura non facit saltus. Logo, não podemos mudar nada substancialmente numa escala de tempo satisfatório às nossas ânsias mais sinceras, honestas e profundas. E nosso personagem sabia muito bem disso - tão bem que jamais deve ter falado a isso com alguém, exceto nos momentos em que realizava, a seu modo, solilóquios com o Criador, no íntimo de sua alma, nos poucos momentos de solidão com o mundo. Porque ficar plenamente com Deus implica em se desconectar temporariamente com todo aspecto humano. 

Estudar e compreender a Obra de Ubaldi lhe
dá os meios de compreender o ensaio.
Talvez nosso homem tenha sido ingênuo. Acreditou que os poderes iriam mudar um pouco. Compreender que o que estava sendo feito era bom para todos. Compreender que, mesmo tendo saqueado por séculos uma nação e um povo, com maior ou menor intensidade a depender das classes sociais, etnia, cultura, ele não desejava restituir nada à força - isso, sabia ele, cabia à Lei de Deus. E tendo essa firme convicção e essa ágil atuação ele conseguiu o que ninguém conseguira - por mais pequeno que fosse à nível de ideal. 

Eis que num momento de recessão econômica o mundo se vê diante de uma limitação de crescimento (insano) econômico. E aqueles que vivem de privilégios, naturalizando-os através de narrativas fantásticas, assimiláveis apenas a quem pouco reflete e sente, acionaram as engrenagens para garantir seu crescimento de "necessidades". Necessidades supérfluas. Superfluidades grotescas, construídas através do saque do trabalho daqueles que pouco ou pouquíssimo tem. Para acioná-las plenamente seria necessário alterar profundamente. Isso significava anular a história recente do país, remodelando-a conforme as suas necessidades. 

O primeiro passo era desmontar as leis que garantiam o mínimo de civilização numa sociedade. Trabalho, previdência, saúde, educação, direitos humanos, recursos naturais, entre outros. 

Segundo: confundir as pessoas, colocando no subconsciente uma concepção pobre e distorcida do papel do Estado, da relação público e privado e de ideias. 

Terceiro: destruir o símbolo que representou a abertura de uma fenda para um mundo pleno de possibilidades. Um símbolo que atuou como ferramenta, pobre ferramenta, para que quem soubesse perceber à fundo o fenômeno das forças da vida, usasse essa oportunidade pequena - mas infinita perante o nada que lhe havia sido dado nos último séculos - para iniciar um novo ciclo. Ciclo mais elevado e astuto, mais integrado e profundo. Isso é o que pode estar em formação nesse momento.

Nosso personagem sabia que toda posição de poder implica em uma responsabilidade perante o alto. Seu dever era com a eternidade e a história - não com sua imagem momentânea ou com seu conforto final. Ele, em seu íntimo, serve à vida da forma mais nobre, sabendo que quem deseja transformar deve sofrer. Quem quer servir ao Alto, qualquer que seja o grau, deve estar preparado para os ataques (gananciosos) dos poderes, apoiados em larga medida por setores inconscientes, neutros, "de bem", cheios de certezas, das massas. A neutralidade da maioria serve à perversidade daqueles que melhor manipulam a ciência do neutro. 

O indivíduo foi condenado pelo sistema do mundo. Mas sua alma está tranquila. Sabe no íntimo o que fez e para quê. Muitos choram e lamentam, se prendendo mais ao humano personagem do que à missão universal que lhe coube - e executou. Outros cantam e comemoram, na crença firme de que "agora vai pra frente", como títeres de um esquema maquiavélico. Poucos percebem o cumprimento de um destino. Que essa derrota humana é um triunfo divino a ser chancelado nos livros de história - e uma herança a ser desenvolvida por nós, revolucionários evolutivos do futuro, que tivemos nossas almas ligeiramente despertas. 

Trata-se de um aspecto temporário que revela o desespero do mal em encarcerar e destruir um símbolo. Mas se este permanece fiel e calmo, o mal começa a perder adeptos e assim seus métodos se tornam cada vez mais astutos e ferozes, cerceando liberdades, naturalizando barbaridades, destruindo os conceitos mais altos que as pessoas de bom senso tem de ciência, estado e arte. Pois o mal tem pressa, pois está preso ao espaço-tempo, que um dia irá terminar, e portanto age com pressa, atropelando todos os procedimentos legais  (que ele mesmo estabeleceu); ao passo que o bem age pacientemente, aceitando todos os golpes, pois sabe que a eternidade lhe pertence, bastando para isso manter fé inabalável.

Compreenda-o quem o puder, pois esses ditos são para poucos - e assim devem permanecer.

Esse é um texto para os arqueólogos do futuro, que viverão num mundo diverso, com mais possibilidades.

Até lá pouquíssimo posso fazer - como nosso personagem.

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