segunda-feira, 26 de março de 2018

A Consciência ignora a Grande Mídia

No dia em que o mundo for razoavelmente decente - e este dia chegará, nem que à custa de catástrofes apocalípticas - a maior profilaxia contra a doença da ignorância, que produz todos os tipos de miséria, será nos meios de comunicação, incluído aí canais de televisão aberta e fechada, rádio, jornais, revistas, folhetos, internet, anúncios, legislações direta ou indiretamente relacionadas e aplicação das leis. 

Enquanto os povos do mundo (e do país, num nível mais escrachado) estão se digladiando sobre questões superficiais, a plutocracia global continua imprimindo sua vontade através de seus agentes: os estados capturados, sua mídia de massa, seus bancos, sistema financeiro e suas correntes de pensamento difundidas em universidades e escolas. 

É triste constatar que quase sempre, quando se inicia uma conversa que poderia se tornar um processo de pesquisa racional e um irmanação de almas em busca de uma compreensão da verdade, unindo fragmentos, o desenvolvimento das falas iniciais não vão muito mais do que três palmos de profundidade no oceano da verdade. Os produtos são um reforço do desprezo por determinado grupo, partido, personagem, corrente de pensamento, religião, forma de ver o mundo, profissão, área do saber, ou qualquer outro relativo humano. Deseja-se expelir argumentos da forma mais apropriada a reforçar uma crença pessoal. Uma crença reforçada através da história do indivíduo e das correntes mentais que mais facilmente sintonizam com seus desejos. Amplia-se o que se deseja enxergar, tornando o aumento uma realidade; e diminui-se (ignorando, por exemplo, ou desmerecendo uma teoria com base em opiniões duvidosas) o que não se deseja enxergar, tornando a miniaturização um processo natural que não distorce. Dessa forma o ser humano reproduz, de forma pobre, o comportamento da grande máquina midiática que determina os rumos de nossa civilização. 

Noam Chomsky (1928). Não basta compreendê-lo. Devemos
identificar nossas misérias com seus conceitos, e após isso
desintoxicar nossa vida das mais diversas drogas - em seu
sentido mais amplo. 
Se alguém crê que o que está sendo dito é exagero aponto para um renomado ser humano, cuja perseverança e paixão pelos estudos ao longo de sessenta anos de carreira pública lhe renderam o título de "o maior intelectual da atualidade". Trata-se de Noam Chomsky

O que diz esse linguista, filósofo e ativista político norte-americano? Primeiro: os meios de comunicação (os grandes) confundem a população, ajudando no processo de fabricar o consentimento. O que seria isso exatamente?

Consentimento é aquela atitude que alguém tem em face a algo que lhe ocorre (bom ou não) ou é apresentado (como uma ideia). Se ela não questiona, não assume uma postura crítica, não busca meios de compreender os porquês daquilo nem o porquê do modo como lhe foi apresentado, essa pessoa está concordando (um voto) de que aquilo está "ok", e pode-se continuar com aquelas ações, sejam elas políticas de investimento, ideologia dominante, modo de interpretar leis, que tipos serão valorizados socialmente, entre muitas outras coisas. Ela está consentindo. Abaixando a cabeça e dizendo "certo. eu não vou fazer nada a respeito, deixarei essa visão de mundo se difundir, mesmo não concordando. mas minha vida é tão atribulada (alienação) e minha pressa em me aliviar das tensões (conspicuidade) é tão forte, que irei deixar por isso mesmo." E pensa - se é que podemos assim dizê-lo - ainda: "começar a destrinchar certos assuntos vai sujar minha imagem e me trará problemas. ficarei preso ao modo de comportamento da média para poder viver em paz." Esse indivíduo não é mau. Ou seja, não é culpado pelo mal que faz. Mas tem dívida imensa devido à sua neutralidade inerte que viabiliza a construção subterrânea do mal. Hannah Arendt explica (ver vídeo abaixo).


A mídia de massa coloca a imensa maioria das pessoas num estado de impotência tão monumental que as poucas reflexivas que restam são enquadradas pela imensa massa social cooptada pelos meios de comunicação dos (ou sob comando dos) plutocratas. E assim sobram os pouquíssimos que fazem frente ao absurdo que se tornou a sociedade humana, imersa no turbilhão de fluxos frenéticos de informação - mas ao mesmo tempo desinformada, com cada vez menos conhecimento e nenhuma sabedoria ou ânsia de adquiri-la.

A base do controle é a divisão. Se os 99% (digamos assim), que representam a classe média e o povo (incluindo os miseráveis), estão fracionados em diversos grupos, partidos, religiões, seitas, filosofias, classes, etc, jamais poderão fazer frente ao 1% que os controla, roubando-lhes o bem mais precioso que alguém pode ter: direitos humanos e liberdade. 

Enquanto a população se debruça sobre o julgamento de um personagem, ou discute novelas, ou discute eventos desconexos, ou repete dia após dia discursos, ou fofoca sobre o modo de um se vestir, amar, caminhar ou falar, ou procura remediação das dores (psíquicas e físicas) no consumo do supérfluo,...enquanto isso se der (e isso ocorre a todo momento, todo dia), nada irá mudar. Enquanto as pessoas estiverem se sintonizando com os grandes meios de comunicação, nenhum passo será dado em direção a um mundo melhor, com menos injustiça e mais eficiência. 

Para largar algo que te prende na ignorância antes deve-se perceber que aquilo está te escravizando. Isso é tomar consciência. Isso é difícil, e se dá em vários passos. Pequenos degraus. Pequenos mas imensos perto dos degraus paupérrimos da intelectualidade, alta cultura, potência física e sensações inebriantes que o mundo vê como avanços - mas que nada mais são do que ilusões que alimentam a ignorância humana. Debater em público, com amigos e colegas, as dez estratégias de manipulação das massas, terá muito mais efeito do que ficar na superfície dos ódios e esquemas (ver vídeo abaixo).

Raríssimas são as conversas nas quais é possível irmanar pensamentos e sentimentos. A fusão das almas envolve escutar, compreender, saber sofrer com seus conflitos interiores. Conflitos loucos para serem externalizados na forma de consumo vazio e fofocas áridas e distorções dolorosas. Não podemos permitir que isso aconteça. E isso está sob nosso controle! Precisamos usar as dores para construir algo melhor, com mais sentido, e assim brindar esse mundo que se chafurda na lama com algo diverso, resistente às críticas mais ferozes, aos ataques mais incisivos e que se torna cada vez mais claro - especialmente quando se tenta acobertar. Forjar um destino é a obra de arte mais bela deste universo.

É verdade que os avanços tem seu tempo. Por isso as construções devem ser no interior. Quando chegar o momento, a oportunidade de difundir será apresentada, bastando percebê-la e trabalhar para concretizar o que antes era utópico. Os maiores significados das vidas nascem assim. Coisas incríveis que, a depender do grau de maturação interior precedente, se tornam obras que ecoam pelos milênios. 

Dois mil anos de cristianismo não nos trouxeram a realização do Evangelho. Mas a possibilidade sempre está presente. Começam a surgir seres capazes de trabalhar em cima do trabalho de Cristo, aplicando, vivendo e modernizando (ex: Francisco de Assis e Ubaldi) princípios universais. Nessa grande corrente de almas concatenadas, auto-reforçantes, que começam a aparecer e imprimir ao mundo a sinfonia que grita o cântico da bela dor, vemos o preparo do mundo futuro. São raios de luz momentâneos que incitam as almas sedentas a buscarem melhor compreender os fins da vida. Dão coragem e inspiram. São eternos e imprimem um calor confortante, mesmo que neste mundo só restem escritos e relatos. Mas o princípio se propaga ao longo da linha da História, explodindo ora aqui ora acolá, em novas formas, mais elaboradas e adaptadas aos tempos modernos. Sentir esse transformismo nos liberta dos vícios dos meios de comunicação.

O tempo ruge. O ecossistema foi gravemente ofendido e a consciência do acontecimento tocou poucos corações. Talvez mais mentes tenham compreendido. Mas o número é pequeno. Portanto o trabalho se torna grande. 

Quem percebe e sente o absurdo da divisão humana deve encontrar o meio de espalhar a ideia. Deve se abrir ao diálogo profundo e aceitar os choques bem-intencionados, englobando verdades relativas e inserindo-as numa ordem harmônica maior, mais vasta, sem no entanto dar uma impressão de diminuição do outro - e sim uma sensação de despertar, que alivia. 

Somente dessa forma o Brasil e o mundo irá efetivamente progredir. De nada irá adiantar manter um sistema político inadequado às complexidades da vida moderna; de nada irá adiantar xingar e eliminar grupos, religiões, partidos e ideologias; de nada irá adiantar consumir e ignorar outros fragmentos da grande verdade; de nada irá adiantar se esquivar do processo evolutivo, que exige ousadia inteligente. 

Enquanto ocorre um desmonte não apenas de direitos, mas de conceitos de vida, em todo o mundo, com diversos graus de intensidade e frequência, estamos fazendo pseudo-batalhas, na superfície. E enquanto houver alguma ilusão ao qual possamos nos agarrar, temo que assim o será.

Desse ponto de vista devo concordar que "Sem Dor não há Salvação". Pois é a querida irmã dor aquela que mais nos recorda de que há algo profundamente anormal ocorrendo na sociedade.

Começar a perceber que a grande mídia é muito mais poderosa e nociva do que os governos - que são meras marionetes dos plutocratas, que controlam os meios de comunicação - é o primeiro grande passo. 

Daremos o passo ou rumaremos à degradação da vida em suas mais variadas formas?

Referência:
[1]https://medium.com/@caityjohnstone/mass-media-propaganda-is-the-only-thing-keeping-us-from-rising-like-lions-454c0b7df2c

Vídeos:
[1] https://www.youtube.com/watch?v=tTBWfkE7BXU
[2] https://www.youtube.com/watch?v=34LGPIXvU5M

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