terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Exercício de Conjugação

A partir daqui irei ensaiar movimentos de unificação conceptual. Meu objetivo, como sempre, é simples: revelar os liames ocultos nas interdependências entre sub-grupos e grupos; entre indivíduos; entre correntes de pensamento; entre fenômenos. Fá-lo-ei a meu modo, buscando expressar aqui ideias cuja gênese se encontra em profundas experiências de vida. Vivências interiores, de maturações de forte intensidade. Anos de perseverança e disciplina (em alguns aspectos) que culminaram em resultados concretos, plasmando a minha personalidade, me libertando de diversas amarras conceptuais - e consequentemente até materiais - pelo simples fato de terem sido absorvidas no âmago de meu ser. Nada de novo. Nada que não tenha sido dito há milênios. Nada que alguns já devem ter concluído por conta própria. Nada de mais. No entanto cada experiência finita, contada por um finito, tem seu valor se dita de forma sincera, sem recorrer a estudos prévios ou se apoiar em intenções de forma. Deixo portanto aqui o produto de pensamentos da mente e sentimentos do coração, que fundidos numa única experiência e indivíduo tornam o relato mais simples e sintético e a prosa mais lógica e coesa.

Não é de se espantar que as transformações pelas quais a humanidade passa são de envergadura assombrosa. Jamais tanta informação foi gerada. E diversas tecnologias começam a beirar os limites assintóticos estabelecidos pela natureza física de seus componentes-base e fenômenos sob os quais operam e dependem. Sim, existem limites, mesmo para os sistemas humanos e seu avanço tecnológico. Sim, muitos especialistas ainda se negam a admitir isso. Mas esse caminhar progressivo para a especialização não é exatamente a diferenciação que Sua Voz aponta no volume A Grande Síntese

Especializar-se é saber mais detalhes de um campo cada vez mais estreito, tornando o indivíduo ou grupo apto a se tornar referência para questões concernentes à sua especialidade. Diferenciar-se é uma consequência evolutiva a que todos tendemos. Trata-se de destacar-se da média (da espécie) em termos de percepção (sensibilidade) dos fenômenos circunjacentes. Concebe-se a vida de forma completamente diversa da imensa maioria, que dita a norma do comportamento humano, ditando o que deve ser tratado como patologia - e como esta deve ser tratada. 

O fenômeno evolutivo não se restringe à questão da biologia material / orgânica sistematizada por Darwin. Esta é apenas um aspecto peculiar da mesma, relativo a um ponto de vista, que considera a realidade dos genes e do meio, sem incorporar a questão psíquica-espiritual. Por que digo isso? Com que autoridade? É o que sinto e nenhuma são as respostas. Melhor dizendo (para a 2ª pergunta): com a minha própria autoridade de ser que busca apreender um aspecto oculto da Realidade, mesmo que ainda não esteja em condições de sistematizá-la. Porque as teorias são relativas e progressivas no devenir universal, o que implica que elas vão se apequenando conforme o tempo passa. Isso é fato. Observemos com atenção o que isso implica.

Imaginemos o homem medieval comum. Sua concepção geométrica da Terra é um tabuleiro plano. Ou seja, chegando-se nas bordas (que ninguém sabia exatamente onde estava) você cairia num abismo. E ponto final. Isso era aceito por todos. Por que? "Ninguém desejava sofrer perseguições, torturas e morte - além de uma bela condenação ao fogo eterno do inferno - por ensaiar algo diferente, e difundi-lo". Essa é uma resposta lógica. Mas qual a raíz desse comportamento (medo)? A intuição responde: o grau de consciência da época. Esse é o fator-chave. 

Quando o ser é incapaz de conceber (num determinado momento histórico) um mundo diverso daquele que lhe foi apresentado pela família, pela sociedade e (especialmente) pelas instituições, aceita-se tudo. Não há nenhum problema nisso. De nada adianta abrir as janelas para um ser que (ainda) é cego, com o intuito de tornar claro o recinto. É preciso que este desenvolva antes a capacidade de enxergar. E isso só se faz por maturação interior. Experiência individual, própria. Assim a vida me mostrou. O conhecimento e cultura podem ser auxiliares bons, muito bons. Mas apenas a experiência profunda que impacta o espírito na medula será capaz de tornar o ser receptivo a uma nova concepção de mundo. Uma concepção mais vasta, que em nada ofende a anterior, mas antes justifica-a, revelando suas limitações, e apontando para o seu porvir. 

Já falei sobre isso de diversas formas nesse espaço. Do ponto de vista da Arte, da Filosofia, da Religião, da Ciência, da Sociedade, da Economia, da Justiça. Agora mostro um diagrama que apresentei à minha turma de Iniciação à Ciência dos Sistemas (ICS) na última semana de curso. 

Figura 1.
A figura sintetiza o fenômeno humano em diversos aspectos, desde o mais amplo e poderoso, dos gênios e santos, que inclui o que está fora do ciclo e vêm de outras regiões (visão), passando pelo ciclo que o homem médio de êxito executa em suas atividades (sistematizar - apresentar- implementar - constatar - re-sistematizar - ...), e baixando até níveis mais incompletos, fragmentos do conhecimento, que muitas pessoas fazem (apenas uma etapa do imenso fenômeno).

Conforme o grau de consciência conquistado, o ser é capaz de operar sua vida incorporando e dominando cada vez mais fenômenos, até se chegar ao ciclo completo. A partir daí, o único modo de evoluir é avançar para um nível super-humano. Do normal integralmente assimilado inicia-se a jornada para o supra-normal desconhecido. É o caminho dos gênios e dos santos, ápice da humanidade presente e passada. 

Vejamos com maior cuidado a Figura 1, esmiuçando e hierarquizando os fenômenos nela presente. Iniciemos pelo fenômeno inconcebível, o vértice do pensamento e da paixão, fundidas numa única visão.

Figura 2.

Intuir é vislumbrar. Sentir o porvir. Perceber aspectos mais profundos da realidade manifesta. Ter atingido tamanha maturação requer uma trajetória permeada de erros e dores, além de atos de superação, traduzidas por esforço e amor. É a experiência assimilada plenamente que forja os maiores indivíduos, antecipações evolutivas. O conhecimento monstruoso do gênio é apenas mera ferramenta que plasma a realidade tangível. Sua genialidade reside, no fundo, em outra dimensão...

Alan Turing e Pietro Ubaldi representam seres com essa capacidade de vislumbre fora do comum (Figura 2). Quem assistiu ao filme Enigma: O Jogo da Imitação irá compreender o porquê de ter colocado o Sr. Turing no rol dos grandes. Quanto ao Ubaldi, basta observar sua vida, transmitida em sua Obra.

Figura 3.
Descendo à sistematização continua-se o processo (Figura 3). Traduz-se o intraduzível da melhor forma possível. O resultado são as belíssimas sinfonias, os magníficos escritos, os inesquecíveis filmes, as revolucionárias teorias, as vidas fora de série que plasmam o mundo - cada vez mais. Aí é imprescindível o domínio da técnica e ciência. Deve-se ser forte no conhecimento para captar o que se intuiu. 

Uma pessoa pode ser excelente em termos de sistematizar conhecimentos preexistentes, melhorando coisas velhas. Mas pode não ter nenhuma sensibilidade (maturação evolutiva) para captar as correntes de pensamento que estão em dimensões além de seu concebível. O indivíduo desse tipo geralmente sempre terá seu lugar ao mundo, do qual poderá desfrutar de certas regalias. Mas jamais, nesse plano, com esse método horizontal (mesmo que intenso), poderá trazer algo verdadeiramente novo. Conceitos revolucionários. Superações biológicas. Alargamento efetivo de horizontes. Apenas uma operação eficiente. 

Figura 4.
Descendo à apresentação/implementação de uma teoria, ideia, estamos observando o aspecto de comunicação de massa do fenômeno (Figura 4). A sistematização tratava da comunicação fina, mais elaborada, intelectual; esta segunda trata de uma comunicação mais ampla, que visa inclusive aplicar o que se teorizou em algum sistema ou subsistema, seja este natural ou humano. Os resultados são apenas efeitos dessa implementação. Chegamos assim ao nível mais concreto, que é visível a todos, do mais evoluído ao mais involuído. Há seres (humanos) que possuem capacidade plena apenas de observar resultados exteriores, capturáveis pelos sentidos. Suas capacidades de implementar - mesmo que atividades simples - são reduzidas, esboçando apenas ensaios. O homem pré-histórico é um exemplo. 

Figura 5.
Os resultados tangíveis podem ser observados por qualquer um. Mas apenas aquele com algum senso de constatação já desenvolvido será capaz de iniciar um processo de reflexão sobre o mundo circunjacente. O fenômeno terá mais sentido e será mais justo quanto mais se compreende sua natureza, tornando o ser mais integrado ao cosmos. E igualmente, mais harmonizado com a Lei que se manifesta em inúmeras leis (físicas, químicas, biológicas, humanas,...). Estamos diante do fenômeno de constatação (Figura 5), aquele capaz de estabelecer uma ponte sólida entre o que observamos (fatos) e nossas teorias (sistematização). Dessa forma fecha-se o ciclo humano do mundo objetivo ou racional-analítico.

Dessa forma tem-se inserido no ciclo que se repete indefinidamente, de modo cada vez mais expandido, assemelhando-se a uma espiral, uma fonte que o anima. Essa fonte vem de outra região. Do super-concebível (infinito e eterno), que de tempos em tempos sempre enriquece o ciclo humano com elementos novos, assimilados através dos séculos com práticas e formulações que se repetem, das mais variadas formas, ao longo dos séculos e milênios e além, permeando vidas variadas, que bebem dessa fonte eterna sem o saberem. 

A partir daqui pretendo esmiuçar melhor o diagrama, tornando-o mais próximo da nossa realidade, que tanto sentimos - e pouquíssimo compreendemos.

Fá-lo-ei no próximo ensaio.

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