sábado, 11 de novembro de 2017

Silêncio e Solidão

O mundo moderno está imerso num oceano de sons que não se harmonizam. Ao invés de uma sociedade unitária polifônica, um amontoado de sons que se interferem reciprocamente, gerando um caos multivariado em sua forma. Decorre daí um desperdício de tempo e recursos que torna a vida desgastante, extraindo até o último centil de energia - até daqueles que buscam harmonização. Vive-se o cotidiano de choques, permeado de inúmeros problemas que poderiam ser resolvidos bastasse todos adotassem os mesmos princípios fundamentais, fincados no íntimo de cada alma. 

Das premissas estabelecidas poder-se-à seguir o curso, construindo, desmontando e reconstruindo nossos sistemas - de valores, culturais, econômicos, políticos, tecnológicos,... - de acordo com os anseios da alma humana. Estabelecer-se-ia a harmonia entre os anseios espirituais do universo interior com as necessidades materiais (reais) do mundo exterior. As barreiras causadas pela ilusão tendem a se tornar mais transparentes. A opacidade da ignorância derrete com o calor da consciência. E com isso a luz se torna mais visível, atingindo mais almas com maior intensidade. Como ativar essa geração de calor?

Aqueles que mais refletem menos falam. Quando falam, muito dizem
Aqueles que menos refletem mais falam. Quando falam, pouco ou nada dizem.

Refletir não é pensar analiticamente - apesar de ambos poderem se relacionar. Trata-se de sintonia entre sentimento e pensamento. É um não-pensar, superando a barreira do puro pensamento humano, analítico, para adentrar no pleno pensamento total, sintético. Esse é o destino que a evolução nos reserva. Glorioso destino. Mais cedo para alguns, mais tarde para outros. O processo depende da vontade de cada um. Sua determinação (libertação de vícios desgastantes); sua compreensão da realidade (abordagens variadas); sua capacidade de atuar considerando o longo prazo (paciência e construção); sua disposição a evoluir (aprofundar conceitos). Todo esse trabalho é um não-trabalho do ponto de vista terreno. Uma perda de tempo. Para muitos, entrar num estado de sintonia com algo mais profundo se traduz em doença, loucura, raiva, rancor. Faz-se de tudo para atrair o elemento para perto. Torná-lo mais "participativo". Deseja-se não apenas ouvir, mas ouvir o que lhe agrade, no momento "certo". Estamos diante da psicologia no Anti-Sistema, da qual todos devemos fazer um esforço titânico para superar. Nada é mais árduo do que essa superação. Os atordoantes processos intelectivos da ciência, da técnica, dos sistemas humanos, nada mais são do que aspectos de superfície comparados aos fenômenos da natureza humana, ainda pouquíssimo abordados pelas instituições. 

Alegoria da experiência pela qual o autor passou. O cenário é
ilusório, imposto pelo mundo. Superá-lo implica em antes
sentir as forças do imponderável agindo. Consciência tranquila
é fundamental.
A constatação deve ser contínua, assim como a retenção das experiências substanciais. Assim é possível traçar com exatidão a sua verdadeira trajetória - e descobrir o verdadeiro significado de cada vida que cruzou com a sua, cada evento que lhe golpeou, cada sentimento despertado. Tudo neste mundo começa a parecer menos importante por estar mergulhado numa ordem divina, que martela continuamente nas almas sensíveis. Mas não se abandona o mundo. Vive-se nele, mas de outra forma. Forma estranha, forma sem sentido...

significa fidelizar, no sentido de entrar em sintonia. Com uma fonte, que emite antes do advento do espaço-tempo, e após a extinção deste. Uma fonte situada em outro plano, além do espaço e do tempo, no campo do super-concebível para a imensa maioria. Criar um ambiente para receber inspiração implica em silenciar sua boca e mente, mergulhando em regiões desconhecidas. A solidão vem junto, como parceira inseparável. Pois quem é silencioso afasta os sedentos por barulho, por fofocas, por piadas, pelo burburinho, pelos processos sistemáticos. A simples atitude gera o ambiente. 

Pessoas que encontram força e inspiração no silêncio e solidão já compreenderam a finalidade da sua existência. A sua consciência já é monista, buscando além das palavras - penetra-se nos conceitos contidos em cada vocábulo, cada frase, cada vida, cada teoria, cada som, gesto, toque. A forma dá lugar à substância. 

No início da Grande Síntese, no capítulo I (Ciência e Razão), a Sua Voz deixa claro:

"Ouvi-me, pois. A razão por vós utilizada é um instrumento que possuís para prover o essencial, as necessidades mais externas da vida: conservação do indivíduo e da espécie. Quando lançais este instrumento no grande mar do conhecimento, ele se perde, porque, neste campo, os sentidos (que muito servem para vossas necessidades imediatas) somente esfloram a superfície das coisas, e sua incapacidade absoluta de penetrar a essência vós a sentis. A observação e a experiência, de fato, deram-vos apenas resultados exteriores de índole prática, mas a realidade profunda vos escapa, porque o uso dos sentidos como instrumento de pesquisa, embora ajudado por meios adequados, vos fará permanecer sempre na superfície, fechando-vos o caminho do progresso."
(grifos meus)

Continuando, no capítulo II (Intuição), revela-se gradativamente o que ela quer dizer com "a realidade profunda vos escapa":

"Deixareis de lado, para uso da vida prática, vossa psique exterior e de superfície, a razão, pois só com a psique interior, que está na profundeza de vosso ser, podereis compreender a realidade mais verdadeira, que se encontra na profundeza das coisas. Esta é a única estrada que conduz ao conhecimento do Absoluto. Só entre semelhantes é possível a comunicação; para compreender o mistério que existe nas coisas, deveis saber descer no mistério que está em vós."
(grifos meus)

E no capítulo VI (Monismo), após o trabalho anterior, Sua Voz vai pontualmente ao significado da obra que se inicia - um verdadeiro tratado da fenomenologia universal:

"Farei desse mundo, que pode parecer caótico a vossas mentes, um organismo completo e perfeito. A complexidade que vos desanima será reconduzida e reduzida a um conceito central único e simples, a uma lei única, que dirige tudo.

A isto podeis chamar de monismo. Atentai mais aos conceitos que às palavras. Por vezes a ciência acreditou ter descoberto e criado um conceito novo, só porque inventou uma palavra. E o conceito é este: como do politeísmo passastes ao monoteísmo, isto é, à fé num só Deus (mas sempre antropomórfico, pois realiza uma criação fora de si), agora passais ao monismo, isto é, ao conceito de um Deus que é a criação. Lede mais, antes de julgar. Farei que lampeje em vossas mentes um Deus ainda maior que tudo o que pudestes conceber. Do politeísmo ao monoteísmo e ao monismo, dilata-se vossa concepção de Divindade. Este tratado, pois, é o hino de Sua glória."
(grifos meus)

A alma é capturada pelas palavras, transbordantes de significado (para os que buscam conscientemente) e mistério (para os que buscam inconscientemente). Ainda são poucos estes. Muitos, se percorressem as páginas, veriam apenas palavras bem colocadas - ou incompreensíveis. São os céticos, negadores ou (pior) zombadores, dos quais o nosso mundo está repleto. Não falo isso para menosprezar, ofender ou me elevar. Apenas constato que a assimilação desses conceitos podem trazer a revolução mais efetiva e portanto sustentável na humanidade. Em todos os níveis e esferas. A vida assim me demonstrou, através de experiência concreta, impossível de negar. Diante do desconhecido que lhe salva só resta à alma gratidão e profundo senso de dever perante a lei única que rege tudo e todos.

É mister ser sincero, mesmo que isto implique em adotar palavras fortes e desagradar muitos. Não se busca flores e reconhecimentos - tão comuns nas instituições, de todos tipos. O ímpeto é um só: se aproximar gradativamente do Absoluto (atração). E com isso transmitir uma experiência profunda para aqueles já dispostos (dever). Deve-se buscar experiências com qualidade cada vez maior. Por isso esse blog, para quem o acompanha, só deve servir até o ponto em que a pessoa seja capaz de continuar seguindo por conta própria - chegando às grandes almas, com suas grandes obras.

Nada é mais libertador do que a sensação de paz por ter sintonizado a sua vontade com a vontade divina. Todas as forças negativas do mundo irão se afastar gradativamente. E as forças da vida, que visam a evolução, sempre irão garantir o melhor para sua jornada. Jornada de silêncio e solidão, que é cada vez mais intensa interiormente e pacífica exteriormente. 

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