sábado, 25 de novembro de 2017

Desenvolvimentos explosivos

É muito difícil compreender as (reais) causas dos males. No entanto, a maioria sente-os, direta ou indiretamente, pela vida que levam. Dia após dia há uma enxurrada de eventos que demandam todo nosso esforço humano. Dispendemos tempo e depositamos nossas emoções nas atividades que "fatalmente" nos foi dada pelas forças das circunstâncias. E assim vivemos, dia após dia, levando as tarefas da forma como nos foi ensinada. E no tempo que resta - dito "tempo livre" - cuidamos de outras atividades essenciais, que se impõem através das férreas leis materiais às quais estamos presos. Subtraindo tudo isso de uma existência, o que realmente temos para nós, sem nenhuma obrigação, é um lapso de tempo. Um lapso atirado ao vento e enterrado com distrações que nos iludem. Assim se passam vidas...

Desde o momento em que alguém nasce neste mundo, existem duas garantias: a de que haverão dores - nas mais variadas formas, advindas da ilusão - e um fim material. Certezas férreas deste mundo, sem dúvida. Mas serão elas as únicas certezas da vida? Será essa dupla (morte e dores) a única realidade da existência neste mundo? Essa foi minha busca. E agora, em posse da certeza de que essa realidade é um átimo dentro de uma lógica muito mais vasta, poderosa e além do concebível, me prostro diante do abismo da incerteza. O que fazer? O que fazer?...

De dentro para fora.
Sempre que inicio a escrever não faço nenhum planejamento. Faço apenas o que o sentimento me impele a fazer, à seu modo, em momento inesperado, da forma que posso. Tento acompanhar esse sentimento, essa inspiração, essa visão à medida que escrevo. Mas as palavras sempre esmorecem diante da substância que quer ser revelada através das mesmas. O mundo, a matéria, o homem, quando se lança a tentar compreender realidades superiores, que escapam aos sentidos e à mente, se vê impotente desde o início, quando os primeiros passos são dados. Se alguém vê, chovem risadas, humilhações e piadas. Veem um pobre ser. Enganado pela utopia de grandes visionários. Despido materialmente pela sua bondade. Ignorado pela cúpula do saber e prudência. Visto como não-sério. Esse é o início da jornada. E diante desses sinais, o ser logo percebe que, se deseja continuar em paz, deve ser altamente seletivo [1]

O verdadeiro desenvolvimento da personalidade não se dá quando o ser assimila os conceitos passados pelo mundo - sociedade, família, instituições, valores. Seu início ocorre quando o ser se emancipa das ondas psíquicas que regem o funcionamento do mundo, de modo a abrir fendas em novos territórios, desvendando mistérios e aprofundando verdades. Quando é acionado um sentimento sincero que se une a uma reflexão profunda ocorre uma forma de atuar que intensifica a reação do entorno. O ser, ao insistir, prepara uma horda de invasões. Os assaltos do mundo levarão-o à tentação. Tentarão desesperadamente lançá-lo diante de atitudes e atos que podem desqualificar por completo sua busca, e assim confirmar a (triste) realidade da vida no plano humano-animal. Isso é o que a atual lógica do mundo faz com aqueles que começam a ameaçar seu império. Um império poderosíssimo e impiedoso. Até mesmo aqueles que compartilham sua visão e anseiam por uma transformação, param em certo ponto, deixando-o cada vez mais só, desacompanhado, desprotegido...Por vezes até ocorre resistência. Esse abandono pode levar ao colapso psico-físico. Mas é justamente aí, num vale lamacento e desprezado, que pode se dar a catarse.

Esse blog é produto de uma série de acontecimentos concatenados harmonicamente, sem os quais ele jamais teria ocorrido. Cada ideia, palavra, frase, montagem de figura, diagrama, representa uma vontade imaterial que deseja existir. Tornar-se concreta. Ou melhor, elevar a matéria, aproximando-a um pouco mais do espírito, tornando o convívio destes dois mundos menos áspero e mais sincero. Pelo bem do mundo, e não do espírito, diga-se. Pois este já é, enquanto aquele ainda o será. A evolução dos textos nada mais representa do que o amadurecimento do autor, que se torna cada vez mais transparente e ágil ao transmitir conceitos que estão no íntimo das almas. Conceitos pouco tratados, pouco vividos, e por isso transformados em meros objetos de distrações em raros momentos. Distorce-se o Alto para diversão ocasional. Mas de fato, ao esfregarmos nossa matéria no sagrado, no ideal, no espírito, condenamos a nós mesmos, atestando que desejamos ficar presos a uma realidade triste, que se faz a cada dia mais intensa, deixando-nos cada vez menos espaço (físico e metafísico) para atuar e viver plenamente. Triste cegueira do homem iludido pelo império da razão! E é desse ponto que começamos a descer às aplicações práticas dessas teorias (aparentemente) desligadas da vida cotidiana. 

Quando afirmei alhures [2] a respeito do desenvolvimento de minha personalidade (o verdadeiro desenvolvimento!) me arrisquei enormemente. O processo iniciou-se em 2011, justamente após o período mais tranquilo de existência, momento em que tudo parecia estável e dali pra frente a vida seria muito suave. Ledo engano. Engano terrível. Deu-se o inesperado, que levou a outra cadeia de eventos inesperados. Golpe após golpe, o desespero fluiu em progressão crescente de modo a levar todas fibras de meu organismo à loucura, resultando num efeito de retroalimentação: quanto mais me interiorizava com minha dor, mais o mundo repelia-a (e a mim) na vã expectativa de me ver melhor. E assim progredi na queda...

Chega um ponto em que se atinge o vértice inferior, e nada mais lhe agrada. Isso é perigoso. Mas no caso de minha experiência, ao invés de buscar uma simples retomada pelos métodos do mundo, afirmei interiormente: "Quero uma verdade que me rasgue. Me encante. Me deixe prostrado. Uma verdade que alimente minha alma sedenta de explicações e conforto. Uma verdade que englobe todas verdades e supere esta triste realidade, que não é apenas minha, mas de todo mundo. A diferença é que eu encarei esta realidade, sem levá-la na brincadeira, sem fugir dela, até à raiz, no momento de dor mais intensa, quando todos abandonam a dor e se voltam ao mundo, iludindo-se à medida que se aliviam. E creem estar curados! Creem ter superado essa doença terrível chamada desânimo e depressão. Ledo engano! Tudo que sinto me diz que as almas continuam imersas numa ignorância. São superações superficiais. A ferida não foi regenerada, mas apenas tapada e tratada com artificialismos. Quero saber se há algo a mais! Quero nada esperar nem possuir. Apenas quero compreender a essência dos fenômenos, mesmo que isso me destrua. Eis a minha ardente e sincera vontade diante de Ti, Ó Senhor. Errei ao tentar traçar o caminho da bondade e do ideal. Não estava preparado e paguei tomando o amargo cálice da dor. Eu, um inerme. Meu destino está em Suas Mãos!" 

A parir da nova atitude ocorreram fatos banais ou interessantes. Mas eles em si não eram o mais interessante. O que impressiona é o momento, o tempo de duração e o modo como ocorreram. Formou-se uma sequência que levou um evento a reforçar outro. Coisas boas intercalavam-se a coisas ruins. Mas a cada golpe, ao invés de me afogar na sociedade, no consumo, na alienação laboral, decidi mergulhar no meu Ser e conhecer a realidade fenomênica através dele. E assim iniciou-se a atuação de várias forças, que se materializaram em vários fatos bons, que sustentam minha vida em todos aspectos, e ajudam minha personalidade a se desenvolver cada vez mais. O mundo classifica tudo isso como "acaso". Eu sinto a Lei de Deus. Lei que atua para todos, se cada um souber tomar rédeas de sua dor e assim forjar um glorioso destino. Destino que, antes de ser concretizado, deve ser batizado por dores abissais. Destino que, durante sua gloriosa edificação, deve prestar contas ao Alto, trabalhando em prol do Espírito, não cedendo às tentações do mundo. Varando as ilusões que se lhe apresentam, como um raio e luz. Reprimindo, naturalmente, como um trovão, qualquer convite a compactuar com o mundo que quer permanecer como mundo - e jamais se superar. Eis um pequeno fragmento de ascensão, que dá uma parca ideia do que pode significar superar o plano atual.

Ascensão.
A mudança profunda desse ano provavelmente se relaciona à saúde. Foge-se de uma realidade cruel para se abrigar em outra, menos cruel - mas ainda longe, muito longe do ideal. Para quê? Para ter mais tempo, condições e paz. Para quê? Para continuar nessa batalha perpétua (Grande Batalha) pela difusão da verdade, da vivência intensa, da criação de novos conceitos. Para adquirir coragem para - quem sabe - um dia dar um passo mais ousado. Inteligentemente ousado [3]. Um passo que seja mais do que simplesmente compreender, refletir e otimizar dentro dos limites da realidade atual. Porque o espírito anseia mais do que a mera eficiência e conhecimento. Ele anseia pela superação efetiva de uma realidade triste, com prazo de validade. A superação de uma forma mental que sustenta um sistema incapaz de atender necessidades fundamentais. Um sistema que opera, atualmente, na base da distração e intensificação de superficialidades para criar uma casca grossa em solos férteis. Solos nos quais a semente do espírito foi semeada há muito tempo. Solos que são corações e mentes sedentos pela superação, mas que carecem da ousadia potente. O medo ainda domina - mas não será para sempre...

O fato da maioria da população desconhecer como é a realidade global, e como a nossa História foi construída (pelos poderes), torna-a cega às causas. Marcha-se em nome do fim da corrupção. Mas coloca-se atores piores no poder, no mesmo sistema, que continua com pleno controle. No fundo deseja-se apenas extravasar sentimentos de ódio calcados em verdades de superfície. Verdades que desmoronam tão logo começamos a aprofundar as ideias e expor experiências que sejam contraponto àquilo defendido ferreamente. Eis a "potência" das manifestações sociais - especialmente aquelas de 2015, que nada tinham de sinceridade - apesar de serem permeadas de imbecilidade...Diga-se: não se trata de defender um grupo, pois sabe-se que as forças da vida estão muito além e aquém dos grupos humanos, e a estes só é conferido certo poder enquanto eles cumprem certa finalidade, sendo varridos logo após isso. 

O ditado popular diz: "o buraco é mais embaixo." Eu diria: ele está muito abaixo do que imaginamos. E justamente por isso tudo torna-se tão desesperador para quem vê a lógica deste mundo. 

O preço do custo de vida sobe a uma progressão geométrica. Ganhos de trabalho, - especialmente aquele verdadeiramente útil - se crescem, seguem uma progressão aritmética. Saúde, moradia e educação. Direitos universais cada vez mais inacessíveis para uma parcela. Contraditoriamente, vê-se um crescimento da riqueza per capita gerada no globo [4]. Para os pobres, jamais haverão serviços essenciais, sendo seu sofrimento uma "fatalidade". Para aqueles mais "afortunados" da classe média, pode-se sentir um esmagamento com o passar do tempo. Uma realidade na qual, por mais que se esforce e se crie e seja otimizado o modo de vida, o custo de vida corrói os ganhos, sobrando cada vez menos para o futuro - e nada para ajudar o próximo. A automação não encarece, mas barateia (a médio e longo prazo). Logo, pode-se perguntar: o que está ocorrendo de fato? No caso do Brasil, ignorar uma simples realidade [5] pode dizer muito a respeito do porque nossa indignação ter pouco efeito. Ela está calcada na superfície. Ignora que fenômenos como corrupção são sistêmicos e partem do ser e da lógica, pensamento, que inunda o planeta. 

A lógica hodierna centra a finalidade da vida no lucro. Diz-se que este irá trazer conforto. E assim, em todas decisões, ponderamos quais serão nossos ganhos e perdas, optando pelo melhor. Mas é justamente aí, em cada decisão, que perdemos a noção do que é realmente certo e errado. Porque operamos num horizonte cego, de ganhos e perdas imediatos, deixando sempre para o lado a construção do porvir. Não o porvir externo, mas o interno. Tão desprezado pelo homem. Tão ansiado pela alma. E o consumo desenfreado começa a ser visto como uma doença - abandonando sinal de status e progresso. Minimizar o consumo, se atendo ao que realmente é essencial, começa a ser tratado como questão séria [6] por pessoas que já perceberam que o acumulo de objetos obstrui canais de conexão com aspectos importantes da vida.

DICS: Dados, Informação, Conhecimento, Sabedoria.
Um plano domina o outro (de baixo) e é guiado pelo
subsequente (de cima).
Estar apegado a itens supérfluos consome tempo, desvia energias, traz preocupações desnecessárias com segurança, aguça o sentimento de que alguém quer algo seu, entre outras enfermidades psicológicas. Talvez aí esteja o primeiro passo para superar a realidade. E a desintoxicação inclui  se desprender de jornais, revistas, redes sociais, televisão, checar emails regularmente, entre outras coisas. Passa-se criar um "espaço vazio" que traz consigo a sensação de limpeza. Ele poderá ser preenchido com atividades úteis, ou mesmo reflexão. A ideia é não crer que se está perdendo, e sim se livrando. A informação se tornou uma faca de dois gumes. A mídia que chega fácil aos nossos olhos, ouvidos e mentes é de superfície, cobrindo eventos e nada mais. Ela não adentra no terreno do comportamento - muito menos na questão da estrutura. Isso deixa as pessoas em constante estado de consternação diante dos acontecimentos da vida. O modo como tudo é apresentado (e sempre repetido) dá uma sensação de impotência diante das forças que controlam o mundo. Nos tornamos meros espectadores. Inconscientes sobretudo...

Esse progredir da personalidade envolve o desprendimento de tudo desnecessário. Bens, serviços, informação e falatório. E evitar repetições. O desenvolvimento do ser é dinâmico, ardente, impulsionado. Morre-se para renascer. Conceitos são superados por outros mais vastos, que dão maior sensação de liberdade. Vivências capazes de suportar mais restrições e enfrentar mais reveses de forma elegante. É um metamorfosear-se, deixando tudo para trás, sabendo-se que no fundo nada foi abandonado, mas adquirido. Fluem quantidades, cresce qualidade.

Nossa humanidade possui conhecimento mas carece de sabedoria. Conhecimento é da mente, do intelecto, da razão. Sabedoria é do sentimento, da intuição, da síntese. Mesmo fora do superconsciente, somos guiados pela consciência universal. E assim será até descobrirmos em nós essa nova inteligência, capaz de ir além do pensamento comum, de ponderação e argumentação. Já desenvolvi alhures as limitações desse tipo de lógica [7].

A vida canta um canto silencioso e eu percebo que estamos muito longe das soluções. Progredir além implica em deixar para trás o terreno da solidez ao qual nos aferramos tanto. Implica em novos inícios e não repetidos continuísmos. Implica em compromissos com seu íntimo - e nada mais. Implica em estar disposto a ir até o fundo em suas buscas. Sermos verdadeiros cientistas, plenos de fé. E verdadeiros religiosos, munidos de ciência. Porque a unificação, no íntimo, fala mais alto e liberta. Um conceito universal, arrebatador, que impressione e inspire.

Rumo à Verdade.

Referências
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html
[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2017/01/11-12-14-17.html
[3] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2013/12/aconquista-de-aqaba-importancia-da.html
[4] http://slideplayer.com.br/slide/1265505/
[5] https://www.cartacapital.com.br/sociedade/combatida-no-exterior-corrupcao-privada-nao-e-crime-no-brasil
[6] http://outraspalavras.net/destaques/adeus-ao-consumismo/
[7] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2017/10/racionalismo-em-cheque.html









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