sábado, 24 de dezembro de 2016

Uma Observação

Extraído de um iluminado (UBALDI, P.)

"Antigamente, as revoltas dos subalternos eram todas ilegítimas, porque era inconcebível que eles tivessem direitos. 
Isto produziu um inevitável estado de desconfiança, sobretudo por parte dos dependentes em relação aos dirigentes. 
Por isso não existe colaboração entre os dois extremos, mas sim um antagonismo dificilmente sanável. 
Pudemos observar na Europa casos em que o velho instinto de revolta do servo contra o patrão  voltando à tona  induziu os primeiros a não aceitarem propostas para sua própria vantagem, oferecidas a eles por patrões inteligentes. 
Estes as ofereciam porque tinham compreendido que, nos próximos anos, ver-se-iam constrangidos a concedê-las à força. Então, antecipando os tempos, tinham decidido oferecê-las por sua espontânea vontade, em vista de seu interesse futuro 

A vantagem, para eles, consistia em assegurar à sua própria indústria um longo período de paz, o que significa uma produção maior e portanto uma utilidade maior, pelo fato de eliminar a dispersão de energias provocada pela luta, associada a greves, vandalismos, sabotagens, escasso rendimento de trabalho, discussões com sindicatos etc. As concessões queriam prevenir tudo isso e os consequentes prejuízos, procurando resolver o problema da violência através da eliminação de suas respectivas causas, para instaurar assim um regime de justiça. É seguindo este exemplo que os dirigentes demonstram ter compreendido o quão mais conveniente é darem prova de justiça e generosidade  concedendo aos seus dirigidos espontaneamente aquilo que estes, mais tarde, conseguiriam pela força  do que continuarem a explorá-los e a oprimi-los. 


Pois bem, nestes casos pudemos observar que os dirigidos recusaram estas pacíficas ofertas, realmente vantajosas para eles, preferindo palmilhar o método da ofensiva e da sucessiva extorsão pela violência. 

Isto porque foram induzidos pelo seu instinto, fruto de longa experiência no passado, a desconfiar da oferta, que foi interpretada então como uma enganosa armadilha. 


Este instinto os leva, portanto, a não aceitar tal proposta, porque eles acreditam que, somente conseguirão algo de verdade extorquindo-o pela força. 

Nem é possível se esperar uma atitude diferente de indivíduos habituados a desconfiar durante milênios. 

Até ontem, os servos nem sequer conheciam quais eram os seus direitos. Sabiam apenas que o mais forte os tinha todos e que o mais fraco não tinha direito algum, sendo qualquer reclamação sua julgada e punida como uma revolta."

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