sábado, 12 de novembro de 2016

Quando a Roda Viva era Viva

A entrevista de Noam Chomsky no Roda Viva ocorreu em 1996, quando o programa não sofria uma visível manipulação do governo do estado - que durou até aproximadamente 2013~14.

O que ele fala é atual, se aplica a qualquer época. E revela, logicamente, o que vem ocorrendo no mundo há décadas.



Acompanho-o há anos e posso dizer que suas observações não se perdem em análises de "especialistas", que descarregam dados infindáveis (e teorias que pouquíssimas pessoas compreendem) para sustentar uma visão de mundo relativa. O que a mídia, as instituições de peso e as pessoas que controlam os recursos globais não revelam, não debatem e não estudam, é tema central dos estudos de Chomsky.

No fundo trata-se de uma questão de bom-senso em seu aspecto mais substancial.

Trata-se de uma lógica que às vezes não aparenta como tal porque supera (engloba) a lógica aceita inconscientemente pela humanidade. Uma lógica de crescimento econômico infindável, de consumo de bens e serviços cujas finalidades (para o indivíduo, para a sociedade, para a vida e o planeta) são duvidosas. Uma lógica de combater o (pequeno) terrorismo - que provêm do grande terrorismo, implementado sob o império das leis cambiantes do lucro - sem se preocupar com a fonte das misérias humanas.

O Neoliberalismo não é nem novo nem liberal. Se formos analisar em sua essência, nada há de inovador em seus métodos. Trata-se apenas de uma nova forma de exploração de oportunidades, recursos, tempo, vidas em prol da saúde de um mundo abstrato: as finanças. Muitos acabam se identificando com essa corrente porque colocam peso nos seus instintos. Logo, usam da sua razão ao máximo para defender a expansão da lógica neoliberal. Nem que seus filhos vivam uma vida sem saúde, sem educação, sem previdência, sem perspectiva por causa disso...

Percebo que há pessoas que defendem "contenção de gastos", afirmando que trata-se não de cortes, e sim de disciplina. A culpa sempre recai sobre a esfera Pública. O outro mundo (esfera Privada) raramente é tangenciado. Por quê?

De nada adianta mostrar a Verdade para pessoas que estão presas a uma lógica estática, que não se abre para a expansão. Para a superação de suas limitações. Uma lógica que não sabe lidar com contradições. Uma lógica que parou num discurso parcialmente verdadeiro: um discurso que pode ter sentido sim, mas em certos momentos, condições e para casos específicos. Essa lógica combate a "doutrinação ideológica" arduamente, usando muitas vezes frases feitas para captar o desespero das pessoas e aliciá-las facilmente. Para consumirem de acordo com suas vontades (instintos). Isso não é liberdade em seu aspecto mais pleno.

Liberdade é alguém poder passar sua visão de mundo e não sofrer riscos de não ter saúde, educação, comida, abrigo, vestimenta, higiene e voz suprimidos. Isso não há em nenhuma instituição humana, mas especialmente na grande maioria das corporações. Nas grandes, inexiste;

Liberdade é se superar continuamente, rasgando o véu de uma forma mental que explica A, B, C mas não explica D, E;

Liberdade é saber lidar melhor com as contradições;

Liberdade é estar livre de formas mentais - especialmente as que se dizem ser livres de toda ideologia...

Liberdade é perceber que ideologia é uma materialização de um aspecto dum único IDEAL UNIVERSAL, e que seu exagero é ruim;

Liberdade é abraçar uma ideologia conscientemente, por um tempo, e colocá-la a serviço da Vida.

Liberdade é perceber que a não-ideologia é uma ideologia emborcada, que deseja atuar de forma intensa e extensa, para isso usando as fraquezas humanas para aliciar facilmente seres para alimentarem um sistema em vias de extinção. Um sistema centrado no paradigma do crescimento sem fim, da tecnologia como um fim, da robotização dos sentimentos humanos;

Liberdade é um conceito tão amplo que eu nem sequer sou capaz de defini-lá. Pior é saber que uma corrente mental se diz propagadora da mesma, mas está em vias de aliciar a liberdade de bilhões em ter acesso a itens fundamentais - para o crescimento próprio e do entorno. Com o argumento de que está sendo responsável, pois irá evitar uma catástrofe. 

Pesquisem nos indicadores internacionais. O mundo jamais produziu tanta riqueza per capita.

Alguém que defende o "corte de gastos" fala sobre,

 - Taxação de grandes fortunas;
 - Sonegação dos grandes grupos privados;
 - Paraísos Fiscais (Ladislau Dowbor);
 - O que gera e alimenta o Terrorismo (Chomsky);
 - Democratização dos meios de comunicação;
 - Especulação financeira em bens sociais;
 - Diferenças entre "Trabalho" e "Emprego" (DeMasi, Russell)

?

Mudar sim. Mas mudar o quê?

Percebam: a pessoa logo procura desviar do assunto assim que começa a se aprofundar neles. Isso é muito estranho.

Há uma miríade de pessoas que caíram na armadilha de procurar o que elas querem para "resolver" o problema. Aborda-se um aspecto exaustivamente - sempre haverá muitos dados, teoria, informação e fatos para sustentar qualquer coisa, até as mais nefastas...) e repete-se à força.

É algo assustador.

A entrevista de Chomsky pode trazer luz às questões mais fundamentais.










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