quarta-feira, 1 de abril de 2015

A VERDADEIRA INDEPENDÊNCIA (uma visão analítica-sistemática)

Eu falei anteriormente da verdadeira independência de um ponto de vista místico-idealista. Isso é suficiente para aqueles que sabem "ouvir com o coração". Para os humildes sábios [1] e seres do tipo é desnecessário provar aquilo que é intimamente sentido.

Agora me volto para a mente racional-sistematizadora, investigativa e empírica. Me volto para aqueles que demandam provas antes de aceitarem. Para aqueles que veem o humano e a natureza como entidades desconexas - exceto para extrair bens - e o Divino como uma fantasia inútil de mentes ignorantes. Falarei a linguagem desses, usando os fatos e os métodos do mundo para mostrar para onde tudo aponta.

Bom, antes de tudo devo ressaltar que existem duas independências:

Uma delas ilusória e outra Real. 
Uma delas relativa e outra Absoluta. 
Uma delas reconhecida e outra dificilmente atingível.

Quando eu falo verdadeira me refiro à Real independência: física e espiritual.

Você já parou para pensar que trabalhar para ganhar dinheiro não é a finalidade da vida? Me refiro a um "trabalho" que sirva apenas para "manter a roda girando" e não despertar as potencialidades latentes. Um pseudo-trabalho que o mundo declara trabalho. Quero dizer...você acorda cedo, pega o carro (ou ônibus), enfrenta trânsito, entra num lugar fechado, cumpre suas obrigações da forma que te pedem, conversa com colegas, fala sobre as notícias, conta piadas, ora concorda com os outros ora discorda, mas se a discordância for muito saliente guarda para si e prefere não entrar em debates acalorados profundos. Depois de 9 ou 10 horas num espaço - sempre igual - sem poder manifestar suas mais profundas idéias, mesmo que relacionadas ao serviço, você volta pra casa, enfrenta trânsito e com sorte chega com um pouco de energia em casa. Senso de dever cumprido. Mais por sofrer do que por fazer! o íntimo de alguns diz. Mas não há nada a fazer, exceto cumprir seus deveres perante a família e/ou sociedade, não se tornando um farrapo humano...

Às vezes existe alguém profundamente sintonizado com nossas idéias e ideais. Mas estabelecer essa intimidade colocaria em risco nossa estabilidade. Ambos usamos máscaras para garantir o pão nosso de cada dia. Aliás, todos. Mas ao mesmo tempo nosso íntimo clama por ascensão. Expansões que queimam a alma. Necessárias a partir de um ponto. Se irmos além de uma fronteira, nos aprofundando numa realidade poderosa, e nos alegrando com isso, a inveja circunjacente cerca e começa a investigar. Muitos se interessam, mesmo sem saber o porquê. Chegam perto ocasionalmente, quando podem. Entendem pouco e compreendem nada, mas admiram e sorriem silenciosamente. Desejam o sucesso. Desejam que algo novo comece. Mas ao mesmo tempo existe a força autoritária que pouco convive com os pequenos seres, e é capaz de captar qualquer coisa estranha. E a classifica como ameaça. É assim que a imensa maioria do mundo concebe o despertar da alma...

Primeiro a produção 100% voltada para o mundo. Um pouco
de mente, nada de espírito.
O diferente em si ameaça a segurança dos pequenos eus. Um diferente, um anormal, que se associa a um outro anormal é assustador. E quando ambos sentem e demonstram uma realidade mais vasta, e portanto mais fascinante, o anormal passa a ser supra-normal. Todos querem classificá-lo como infra-normal, mas são incapazes. O íntimo deles impede...

Bom...mas a questão é a seguinte: você "trabalha" e ganha o dinheiro. E quanto mais "trabalha" (cumprindo uma obrigação, agradando alguns, mostrando que "você é importante", mostrando "serviço"), mais procuramos buscar algo que pague bem. E também, ao ganhar nosso soldo, nada mais lógico do que gastá-lo para compensar nossas frustrações - que não dizemos abertamente de onde vem...

E qual o modo mais fácil de gastar dinheiro em pouco tempo? Shoppings, bares, restaurantes, enfeitando nossas mulheres / agradando nossos homens, indo a baladas, comprando casas imensas em condomínios ultra-protegidos e carros de luxo para mostrar que "trabalhamos duro" aos nossos vizinhos, fazer viagens para nos sentirmos um pouco afastados da vida cotidiana. Viagens que no fundo nunca realmente te levam muito além de sua vida cotidiana...Mesmos locais turísticos, mesmos restaurantes, mesma rotina de viagem. E variações dessa mesma substância. Dinamicidade-material lá para compensar a dinamicidade-material aqui. Engessamento espiritual, sempre.

Ou alguém aqui já ouviu alguém dizer que trabalha 50 horas por semana e ganha 10 mil e prefere frequentar eventos culturais em espaços públicos, pegar livros na biblioteca, ter um carro simples, fazer academia no parque, comer mais em casa e se contentar com sua casa? Se existem tais seres devem ser raros...

A própria dinâmica exaustiva sugere a pessoa a "compensar" o cansaço nos "espaços adequados". Nos espaços que lhe proporcionarão a "felicidade". E no entanto, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, sentimos a mesma sensação incômoda sem saber diagnosticá-la. Sexo, comida, ruídos (que chamam de música), pseudo-romances, posses,...nada nos traz uma felicidade definitiva. Apenas algo temporário. E nada que é temporário é essencial. E após um tempo alguns percebem que foram enganados. Não sabem por quem nem pelo quê. Porque foram eles próprios, por não possuírem consciência do seu potencial interno, deixaram-se arrastar pelas forças externas da sociedade. Forças que influenciam e acabam ditando nossas vidas...

Pouco tempo, muito dinheiro. Fórmula potente para o consumismo. A força centrífuga se torna irresistível. É um sistema estruturado para o consumo desmedido - inclusive de relações e amizades!

Depois...livres para gastar em coisas que "precisamos".
E assim a roda gira...
Você pode falar o que quiser, mas se parar para pensar a fundo, verá que todas suas ações são norteadas pela necessidade de compensação. Já que tenho renda alta, por que economizar? Por que sofrer economizando, não gastando o que ganhei merecido? Gastamos anos e vidas em algo que não cremos e depois o mundo - em compensação - nos dá a recompensa das disneylândias e prazeres. É uma ilusão.

Eu nunca gostei de ir em bares, por exemplo - nada contra quem vai. Mas a questão é que eu fui me dando conta de que muitas pessoas gostam de se reunir e conversar e rir nos finais de semana após o expediente para "relaxar". E geralmente em lugares com som (alto), que cobram caro por uma simples bebida e impedem qualquer pessoa de falar de algo realmente substancial. Apenas o lugar-comum. Senão é "chato", é "intelectual-arrogante", é "místico-delirante". Etc. E tudo isso poderia ser feito na casa de um ou de outro, ou num parque ou praça, de forma mais tranquila (para conversar de verdade) e barata. 

BARATA!

Pense bem: é a mesma coisa. Nada de importante foi tirado, exceto o fato de você não estar consumindo para se divertir. E inclusive crescendo...

O que custaria 50 - 100 reais passa para 5 ou 10 (ou nada, se você apenas quiser bater um papo com colegas degustando um sanduíche).

Poucos param pra pensar nisso. E o mais assustador (para quem é do mundo) E fascinante (para quem não é do mundo) é que isso se aplica a diversas esferas da vida!

Restaurantes bons possuem comidas caras e serviços bons, mas novamente você pode comer em casa muito mais barato. E às vezes, se você sabe cozinhar algo e tem alimentação saudável, será muito melhor fazer sua comida. Mas novamente, como para não virar um farrapo temos pouco tempo, dificilmente teremos energia - e tempo - para nos enveredarmos por esse caminho.

E assim economizarmos nos alimentando melhor...

Alguns podem estar me achando unilateral pelo seguinte motivo: o mundo precisa girar! A roda da economia tem que girar! Já falei sobre isso em outro ensaio [2] e me aprofundei em detalhes antes [3] Mas repito: estamos saturados disso em nosso íntimo.

Por que eu causo mal à economia mundial por consumir pouco e me sentir bem e o outro que consome em excesso e sempre tem recaídas depressivas está ajudando?

Enquanto um prejudica o meio-ambiente, se engana, compensa ausência da presença com presentes e sexo animalesco, paralisa a mentalidade, vive o mesmo de formas cada vez mais barulhentas; o outro, apesar de cutucar a economia, joga menos detritos, consome menos energia, usa menos água, cria com pouco, se questiona, ama mais intensamente e arrisca "perder" amigos e amores por seguir sua consciência.

Provocações...

Oras, se o povo sempre foi obrigado e conseguiu - com sucesso criativo ímpar - se adaptar às necessidades do mercado, porque este, tão "dinâmico", tão "resiliente", tão "universal", não quer se adaptar às necessidades do povo, representação de uma coletividade de SERES - cada década mais conscientes?

Por que as forças que dominaram até hoje não admitem o que eles tanto propagam: a humanidade muda: os costumes, os sistemas, surgem novos paradigmas [4], novas relações, novas prioridades,..

Não se trata de destruir algo e sim remanejar pesos [5].

O que torna a vivência difícil é o mundo de aparências que nos induz a escolher profissões que não nos façam morrer de fome. Exemplo: poucos se sentem estimulados a cursar música ou filosofia ou artes ou ciências humanas ou mesmo ciências naturais puras porque: (1) dependerão de outros para o sustento na maioria dos casos; (2) não se sentem suficientemente bons para se destacarem a ponto de realmente inovarem na área, e portanto garantirem um sustento num órgão público (geralmente); (3) temem serem ridicularizados pela sociedade ou família ou parceiro(a) ou tudo junto, por darem peso às opiniões do mundo - mas pouco às suas...E cobrar da pessoa coragem para seguir seu ideal não é sensato.

Pessoas bem orientadas e conscientes não são santas. Elas apenas se deram conta do caminho e começaram a percorrê-lo. Para superar a morte - da matéria - abraçando a vida - do espírito. São iniciados, segundo Rohden.

Ou seja, seguir uma via alternativa é difícil mesmo para quem é muito consciente, equilibrado e vive de forma simples. A lucidez pode ajudar (e muito!), mas não torna as coisas tão fáceis. Os espinhos da rejeição ainda doem e o mundo continuará com sua cegueira.

Mas a batalha compensa. Porque é uma batalha pela SUA EVOLUÇÃO. É arriscado e você, meu amigo, minha amiga, estará sozinho, e cada vez mais, à medida que você decide ser fiel à sua verdadeira pessoa, buscando fazer o que gosta, do jeito que gosta.

O mundo financeiro tentará te punir e ridicularizar. E o seu entorno provavelmente também. Intensamente, inconscientemente.

Mas meu amigo, minha amiga, lhes perdoe, pois "eles não sabem o que fazem".

Este blog, cujos textos estão todos concatenados, tenta ajudar qualquer um - de qualquer meio, com qualquer crença - a despertar para si mesmo.

Não falo em espírito e imponderável e Deus porque quero impor tudo isso.

Digo isso porque sinto no meu íntimo a presença de uma realidade tão profunda quanto enigmática, que fascina e assombra simultaneamente. Minha vida e a vida de uma pessoa muito querida é a prova viva disso. De que existe uma força imponderável que, se analisada cirurgicamente, tirará a autoridade do diagnóstico de "acaso".

E mais: crendo no "mais", tudo se tornará mais suportável, mais claro, mais orientado e com sentido. Mesmo que ele não exista. 

Portanto sinta-se livre para seguir seu caminho nessa jornada.

Quero finalizar invocando a cena inicial do filme "O Grande Ditador" [6].

Quando o capitão - ou seja lá que patente for - pede para seu inferior certificar que um projétil falho esteja em ordem. Cada um que recebe a ordem, ao invés de executá-la, passa para seu inferior hierarquicamente. A falha maior nesse quadro: o comandante supremo, que deveria dar o exemplo comprovando assim sua grandeza. E também dos outros, que poderiam fazer isso. E assim funciona a humanidade, causando guerras e criando ilusões, delegando serviço sujo para quem pode e ignorando a verdade.

Somos dependentes de uma mentalidade arcaica e "livres" na matéria.

Somos prisioneiros de uma forma mental...

Mas podemos mudar isso.
Com trabalho duro.
Trabalho real, árduo e compensador.
Trabalho prestes a nascer nos próximos séculos...

Eu não estou sozinho nessa batalha [7]. E portanto - ainda longe de ser um místico ou gênio que não se importa com o meio -me tranquilizo e continuo o meu serviço.


Referências
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_81.html
[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/outras-rodas-devem-girar.html
[3] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/08/democracia-diretautopia-hoje-vir-ser.html
[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Paradigma
[5] Para uma compreensão detalhada recomendo a leitura de toda teorização da idéia nos seguinte
      estudo: Sistematização do Aspecto Evolutivo, subdividido em partes (1, 2.1, 2.2, 2.3, 2.4, 2.5 e 3)
[6] https://www.youtube.com/watch?v=4NtBnaarXfg    --> os primeiros 5 minutos.
[7] http://www.jasondemakis.com/category/money-2/  --> excelente blog!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário