domingo, 28 de dezembro de 2014

NUOVOMONDO

O cineasta italiano Emanuele Crialese já dá sinais de genialidade em seu campo de trabalho, apesar de possuir apenas dois filmes em seu currículo, incluindo o poético e memorável “Respiro”. Seu terceiro longa só reforça essa tese, e, a meu ver, coloca o novo diretor na categoria de verdadeiros cineastas do século XXI.

Novo Mundo” é um filme original e envolvente. Salvatore Mancuso (Vincenzo Amato) é um camponês que deseja partir para o continente americano em busca de uma vida melhor e menos sofrida. Na primeira cena nos deparamos com uma vasta paisagem. Silêncio. Apenas o vento e dois homens andando pelas colinas com pedras na boca. São eles Salvatore e seu filho mais velho em busca de um conselho divino, a confirmação do que já era desejado pelo pai da família.

O filme pode ser dividido em três atos: os preparativos para a viagem e o abandono do antigo lar; o percurso de navio junto às inúmeras famílias; e a chegada ao porto de Nova York, onde se dá o longo e burocrático processo de inspeção – o primeiro contato com o Novo Mundo.

Uma das cenas mais marcantes se dá com a partida do imenso transatlântico. De repente o filme fica mudo, sem qualquer som ou música. Vemos apenas uma grande massa de seres humanos se encarando, metade para um lado, metade para outro. À medida que o tempo passa esse enorme contingente começa a se dividir, vagarosamente. É a partida. Todos se encaram, mudos, perplexos. Não há alegria ou tristeza, apenas incertezas e expectativas quanto ao futuro.

A bordo da embarcação há uma inglesa, Lucy – ou “Luce”, segundo os italianos – cuja personalidade desperta uma curiosidade em Salvatore. Para entrar nos EUA moça precisa encontrar um marido, enquanto Salvatore é viúvo e sente a necessidade de uma mulher. O encontro entre os dois vem bem a calhar nesse ponto.

Apesar de ser um retrato fiel baseado nas cartas dos imigrantes da época, Crialese fez uso de passagens cômicas, muito engraçadas, como os sonhos de Salvatore, permeados de rios de leite e vegetais gigantescos – sua visão da América. A cena de sedução entre Lucy e o Sr. Mancuso no convés do navio talvez seja uma das mais memoráveis dos últimos tempos. Um balé visual de gestos e olhares ímpar.

A última parte pode ser considerada a mais crítica. São revelados os diversos procedimentos médicos e psicológicos pelos quais os viajantes devem passar. Num certo ponto, a avó da família Mancuso, indignada e cansada de tantos procedimentos, dispara uma crítica feroz contra o sistema de filtragem adotado pelos norte-americanos, colocando-os em seu devido lugar. Só esse confronto entre os dois mundos já vale o ingresso.

Cada passagem entre cenas é suave. O figurino é impecável e os atores estão pra lá de convincentes em seus papéis, com destaque para Charlotte Grainsbourg e Amato nos papéis principais. No filme, tudo parece ter sido escolhido à dedo pelo diretor, um verdadeiro trabalho artesanal. As duas horas de projeção passam num piscar de olhos, prova suficiente de que Crialese sem dúvida merece estar no rol dos grandes diretores dessa nova geração de cineastas.

Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=FiVUpK3SdHk

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