terça-feira, 2 de dezembro de 2014

MERGULHAR NO INTERIOR, SE DEFENDER DO EXTERIOR

É tudo uma loucura. Não...não. Nem tudo. Algumas coisas se salvam (algumas...). Esse texto - um grito desesperador - por exemplo. Ele se salva. Ele é sincero. Ele tem um pouco - só um pouco - de substância. Coisa que o mundo, em sua esmagadora maioria, não demonstra. Mas alguns se safam da miséria da inércia. Sinfonias de Tchaikovsky e Korsakov; obras de Dostoievski e John Fante e Pietro Ubaldi e Huberto Rohden; pensadores como Sócrates; cientistas, artistas, santos e místicos. E por aí vai. Até as pessoas simples. Desde que sejam introspectivas. A qualidade de todos esses supera a quantidade que impera e se impõe no mundo. Quantidade esta que dita as normas e define o que é ou não bom. Quantidade que julga, condenando ou glorificando o futuro e o passado a partir de seu ponto de vista relativo. Quantidade que diante do anormal classifica-o sempre como um defeito, e jamais uma possibilidade.

Quer admitamos ou não, tudo orbita em torno do dinheiro em nosso mundo. Tudo, direta ou indiretamente, que fazemos na vida leva em consideração o que será de nós em termos de fluxo monetário. É o carro-chefe que aciona as engrenagens da materialidade. Questões como: Quanto dinheiro irá cair em minha conta? Quantos anos poderei viver com minha aposentadoria? Quanto conforto estou perdendo fazendo essa escolha? entre outras, são feitas a cada momento.

Mas o dinheiro não é problema em si. Ele é um meio de troca eficaz. O problema está por trás dele. O problema está em ter colocado toda a vida em função dele, obrigando as pessoas a escolherem suas carreiras, projetos, profissões, maridos, esposas, amigos, cidades e tudo mais em função dele. O problema está num instinto atávico em valorizar apenas o que a média da mente humana consegue conceber como justo e certo e belo. O problema está no peso descomunal dado ao $. Assim como descomunal são as conseqüências dessa mentalidade.

Relâmpagos e trovões. Refugiar-se dos perigos externos.
Enquanto estamos imersos em profundos pensamentos,
criando incessantemente, para o mundo inclusive, este dá golpes.
Mas tudo bem. As pessoas se acostumam. Ou pelo menos se conformam. Não conseguem conceber algo a mais. Outra vida, outros métodos, outra forma de sentir e se relacionar... É muito difícil avançar no terreno das idéias. O espírito sempre foi o maior desafio. Maior porque mais imponderável, mais exigente. Mas as recompensas são de uma beatitude tão excelsa que suplantam todo passado de dores e sacrifícios. É a retribuição mais poderosa de um caminho calcado na sinceridade e vontade. Não é um dos inúmeros caminhos. É O caminho. O Caminho porque é o único movido pela substância, pela boa intenção, pelo desejo de expansão interior.

A tentativa de expor e humilhar quem faz diferente por sentir esse algo a mais não resolve e sim agrava o problema. Um problema que está mais num agressor numericamente em vantagem do que num agredido em minoria. Se este ainda resistir aos assaltos contínuos da vida, - às críticas, incompreensões, desconsiderações - após árdua luta e dores apocalípticas, sairá mais convicto. O mundo tentou dobrá-lo mas não conseguiu. Falhou porque não se esforçou em compreender uma realidade além de sua ilusão tida como realidade. E o mundo, com todo seu poder e seu dinheiro e seus corpos esculturais e suas propriedades e suas certezas - que se desmancham ao longo das décadas e séculos que nem um castelo de areia - e seus cargos e seus prazeres...este mundo entra em colapso psicológico-nervoso quando se defronta com esse ser sincero e convicto de suas atitudes. Ele o vê e não sabe lidar com ele. Alguns querem puni-lo mas não conseguem porque ele nada fez contra a lei. Ou melhor, fez, como todos fazem, em menor ou maior grau, porque todos fazem algo contra, mas escondem muito bem. Mas o problema é que esse tipo faz uma transgressão com diferentes finalidades. E as pessoas sentem estar diante de um fenômeno que não se encaixa em seu mosaico de possibilidades. Nó na cabeça. Temem enfrentá-lo, temem acusá-lo, temem confrontá-lo. Simplesmente afastam. No seu egoísmo temem ser revelados juntos com aquele que desejam desnudar.

Tudo está bem para o tipo médio, exceto sua mente e espírito. Logo, tudo está mal. A forma só sustenta uma imagem saudável graças a constantes gastos de energia e tempo em mascarar sua decadência. Recorre-se a confortos e consumo excessivo e barulhos. Mas só se ilude e se gasta, e no fim do túnel chega-se à triste realidade. Desta vez mais triste e desoladora. Uma espiral de perdição.

Quantos seres, prestes a despertarem para uma nova realidade, deixam a luta de trabalho interior ao menor sinal de reação do mundo externo. Quantas desistências diante da menor dificuldade! É a necessidade de ser aceito pela horizontalidade que inibe a construção de uma trajetória na verticalidade ascensional interior. Um caminho que, após superada as etapas iniciais, dá novas visões e novas possibilidades ao ser que ousou ir além. E essa superação, vista de fora (pelos outros) é tão fantástica quanto incompreensível. Muitos veêm e passam a crer - nem que um mínimo - nos milagres. A utopia passa a ser algo existente. E ver no mundo real um ser que atingiu tamanha harmonia com o Universo consola. Sem o saber, milhares de almas estão se preparando para se metamorfosear. Inconscientemente.

Louco? Gênio? Santo? Perigoso? Subversivo? Rebelde? Uma ferramenta para promover ascensões, eu diria. Uma vida inteira servindo uma finalidade tão divina que o ser percebe sua função no cosmo e se adequa à Lei. Segue seu Eu divino. Se apóia no imponderável. Conhece as causas profundas. Vive o fenômeno. Percebe os pequenos milagres que se operam a todo momento. E agradece. Infinitamente.

Esse ser se lança em trajetórias aparentemente loucas e sem sentido. Ele não planeja nem imagina a miríade de empecilhos futuros. Apenas sente um ímpeto. Uma força aparentemente descontrolada, sem lógica, mas com efeitos que se revelam cada vez mais sapientes com o decorrer dos anos. Um ser que sabe o que quer. Sente se arrastar numa correnteza. Não pensa. Ou melhor, pensa sim. Mas em outros termos. O seu sentimento sincero está além de qualquer explicação lógica. E é apenas com esse sentimento que o ser se lança na vastidão do desconhecido. Ninguém o ajudará exceto aquela força interior que lhe martelava a todo momento antes de se lançar.

A objetividade permite que reine um estado de aparente calma no mundo. Apenas se apoiando na realidade exterior, reconhecida e sentida pela quantidade, podem-se estabelecer regras sólidas que consigam manter uma (aparente) ordem. Ordem exterior. Mas e quanto àqueles seres introspectivos, voltados para si? Seres que dão maior peso à subjetividade, reconhecendo a sua e aceitando as outras, mas devendo se adequar às regras que satisfazem apenas as aparências? Que meios de viver plenamente esses tipos tem à disposição?

O mundo diz respeitar as diferenças. No entanto ele mesmo padroniza normas de conduta, julgando que elas representem o máximo de civilidade. As diferenças são respeitadas até o limite em que estas não ameacem a ordem vigente. Uma ordem estática, que ainda não se transformou numa ordem dinâmica. Inflexibilidade. Graças a isso a tarefa de progredir ainda é um martírio. Graças a isso muitas mentes do futuro ainda sofrem e morrem para apenas depois as sementes plantadas frutificarem. Deve-se avançar dolorosamente e lentamente. Sozinho. Quem vê mais consegue ousar mais.

Tudo é proporcional à maturação interior atingida. É uma bênção na descoberta; uma condenação na vivência; e (finalmente) uma libertação quando se sabe equilibrar ambos os mundos.

Abstração?

Quanto mais se sofre, quanto mais se observa, quanto mais se compreende, mais se percebe quão simples é a Lei de Deus. Tão simples que é vista como complexa em nosso mundo – que vê tudo de forma emborcada. Um mundo onde o simples é complexo e o complexo é simples. Um mundo na infância.

Para continuar a evolução devemos começar a desenvolver a intuição e realizar sínteses. Essas visões apoiarão a ciência, dando a orientação que lhe falta. Assim também a ética será renovada, se tornando apta a guiar o novo ser humano em formação.


E – por mais incrível que pareça – esse novo método não apenas será capaz de conceber além, mas tornar o aprendizado e a produção do presente muito mais suave e efetivo.

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