domingo, 30 de novembro de 2014

UM CICLO, DUAS FASES: PIRÂMIDE EXPANSIVA, PIRÂMIDE SELETIVA.

Tenho desenvolvido o gosto pela leitura desde minha adolescência. Nessa época comecei a ver o mundo de forma diferente. E consequentemente agir de modo diferente. Não apenas em um ou outro aspecto, mas em muitos. Isso me preocupou no começo, mas com o tempo aprendi a conviver com esses contrastes e buscar os ambientes adequados – onde eu pudesse ser invisível e desenvolver o que eu chamo de potencialidades.

A leitura veio como uma espécie de salvação. Era como se eu estivesse num pedaço de terra rodeado de crocodilos (nada contra o mundo em si, e sim contra a incompreensão dele), sem nenhuma explicação ou ocupação. E me lanço nas páginas da literatura mundial, da filosofia, das artes e da ciência. E em cada parte encontro uma visão diferente. Várias delas. Cada uma com seu ponto de vista. Visões aparentemente contraditórias.

Com os anos começo a perceber que esse contraste dos diferentes escritos reside mais na forma do que na substância. Claro, cada área do saber busca a verdade usando os seus métodos: a ciência está focada na análise, controle e experimentação; a religião no sentimento e intuição; a filosofia trabalhando para abalar conceitos tidos como certezas; a arte se aproximando do sentimento humano, mas remodelando conceitos usando palavras, sons, cores, texturas e etc, e por isso causando confusão, mas ao mesmo tempo colocando o público em contato com a subjetividade.

É fácil tecermos uma visão pejorativa de algo quando esse algo é usado de forma emborcada: a ciência mal aplicada (explosivos, armas atômicas, sistemas de vigilância,...), a arte com finalidade de destruir e não conceber nada além; a filosofia igualmente, se perdendo em embromações para exaltar o eruditismo e assim deixar a sua função de lado; a religião sendo usada para tornar absoluto o relativo de alguns, gerando contradições cada vez mais evidentes com o passar do tempo.

Diagrama gráfico da escalada do saber.
O problema não são as áreas do saber, e sim a inteligência que faz uso delas (o ser humano).

Enfim...voltando ao tema.

Eu pegava livros e lia. Começava com os temas mais interessantes (para mim) e familiares (idem). Com isso surgiam referências a outras obras. Livros que inicialmente eu ignorava porque não via sentido algum em suas teorias, idéias, histórias – ou não tinha coragem de ler porque o tema parecia muito pouco digerível. E a partir desse ponto eu percebi que era possível EXPANDIR minhas áreas de interesse (e saber), formando uma rede. Muito poder subterrâneo. Sensibilidade e paciência.

Com essa tal rede expandindo eu comecei a sentir uma sensação estranha. Passava a conhecer vários assuntos e sabia relacioná-los. Em alguns me aprofundava inclusive – conforme o interesse e facilidade. Mas faltava algo que desse sentido a tudo isso. Comecei a fazer projeções considerando várias possibilidades e cheguei à conclusão de que passaria a vida inteira lendo várias coisas sem no entanto ter uma melhora efetiva. Seria apenas mera distração. E cada vez demandando mais energia. Não que isso fosse (seja) necessariamente ruim, mas o ser humano sempre teve aquela vontade de encontrar algo ou alguém que englobasse vários aspectos. O substancial. A essência. E com isso passei a buscar uma orientação.

Após reler alguns livros antigos e ficar ainda mais fascinado com seu conteúdo, me dei conta do seguinte: bons livros (ou temas ou idéias) são aqueles(as) que sempre tem algo a nos ensinar quando relidos de tempos em tempos. Isso está relacionado com a visão vasta de alguns autores. Tão vasta que nossa sensibilidade é incapaz de absorver todos conceitos. Mas quando já estamos nos direcionando para uma transformação profunda nos damos conta de que, mesmo não compreendendo muito, aquelas palavras, aquelas idéias, aquelas formas de encarar o mundo trazem uma luz. Geram um encantamento que nossa mente é incapaz de explicar. E assim decidimos guardar esses volumes para relê-los um tempo depois.

Expansão: bom até certo ponto. importante para impulsionar
a próxima etapa, mais refinada, rumo ao saber.
Razão é o carro-chefe.
Não é a grande obra que se transforma. São as pessoas.

Da mesma forma, quando lemos algo e já sacamos tudo facilmente, conseguindo demonstrar sua incompletude e (se houver) contradições, descartamos porque ela não serve mais ao nosso patamar consciencial. Não se trata de preconceito – pois para outras pessoas aquilo pode ser importante agente transformador de suas vidas – e sim de saber quando podemos ascender na pirâmide evolutiva. E assim economizar tempo e energia, nos projetando para atividades mais envolventes e elevadas.

De qualquer maneira essa rede, agora guiada por uma orientação, começou a se estreitar depois de um período de expansão. “Voltando atrás?”, alguns diriam. Não. Trata-se de uma fase complementar e inversa de um ciclo.

Explico.

Quando o número de conhecimento começou a aumentar surgiu a necessidade de dar um sentido a tudo aquilo. Um significado sem o qual a expansão continuaria, tendendo para um desmembramento do saber por excesso de conceitos enraizados. Não haveria modo de sustentar tanto conhecimento. Igualmente urgia a necessidade de aplicá-los para algo útil (na minha vida e como efeito na vida do entorno). Porque na vida toda teoria sem aplicação é desperdício. Assim como toda aplicação sem suficiente teoria embasadora tende nos deixar estagnados num nível. Em suma, deve-se buscar o EQUILÍBRIO.

Com isso a vida se torna seletiva. Isto é, mais inteligente. Mais sábia porque orientada. O que era lido em grande quantidade passa a ser feito em menores doses. O mais rápido,mais lento. Mas ganha-se em profundidade. Numa mesma quantidade de páginas, tempo, energia e fala, mais conceitos, possibilidades, alegrias e clareza. O alargamento inicial absorvente levou a uma necessidade de estreitamento seletivo. Com isso ganha-se em eficiência e produtividade interior.

Seletividade: busca pelo saber e aplicação. Buscam-se
obras / idéias / pessoas que condensem o melhor de cada
aspecto da vida e do saber. Intuição
passa a ser o carro-chefe.
Reparem: é necessário a experiência de conhecimento expansiva para chegarmos ao seu ápice (necessidade de algo a mais) que, se interpretado construtivamente, levará à continuação do processo (busca profunda-orientada). Para aqueles que vêem de fora parece ter ocorrido uma regressão – a pirâmide não é vista como uma continuação de escalada, e sim como um ricochetear, retornando ao ponto inicial. Para quem vive (ou está de forma mas compreende porque está passando/passou) vê-se a continuidade do processo construtivo da personalidade, que tende para um ponto máximo.

Eis em linhas gerais como se dá o fenômeno de ascensão humana.  

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