quinta-feira, 13 de novembro de 2014

DA CHATICE TEIMOSA À SINCERIDADE PERSEVERANTE

Uma personalidade, vários meios, várias situações. Um destino que se molda a cada ciclo. Um destino forjado à medida que um ideal se consolida. Esse é o início do despertar da consciência, e com ela, a sensação de libertação.

Mesmo vivendo num mundo opressor sem garantias ou explicações coerentes, a dilatação dos conceitos enriquece qualquer pessoa. É uma libertação com propósito diverso. Não se trata de fugir de uma realidade opressora, mas de perceber riquezas despercebidas antes e com isso construir uma nova vida, com novas ocupações e novas fontes de inspiração e energia. Passa-se a ignorar o que não lhe acrescenta. Cada vez mais. O que interessa a muitos não causa atração ou repulsão a um ser desprendido da "realidade". O que desinteressa a muitos pode ser campo vastíssimo para evolução. Inversão de conceitos, inversão de valores. Transformação da vida. O abstrato passa a ser o campo de trabalho, mais estimulante e inabalável ao tempo e aos ataques; o concreto, uma ilusão a ser usada apenas como ferramenta.

A flor que nasce na pedra: intrusa por ser minoria frágil
ou prelúdio de uma nova era?
Quando alguém tido como chato por muito tempo ganha a fama de teimoso, está na hora de uma auto-reflexão. E - cuidado! - não se trata de um convite unidirecional cujo resultado ,tido como certo, deve ser o esperado de todos (e da pessoa), e sim uma escolha entre DOIS CAMINHOS:

(1) ou decide-se adotar métodos diferentes para levar a vida, ou
(2) continua-se o caminho trilhado (!).

“Mas como?” alguém pode perguntar. Isso levaria ao fracasso do ser em todas frentes de sua vida. Social, profissional, saúde,...Mas aí é que reside o poder da reflexão profunda e da fé férrea.

Muitos fenômenos físico-químicos, para surtirem o efeito desejado, necessitam de um tempo incomensurável para a realização plena. Na biologia pode-se afirmar o mesmo com segurança. No coletivo da humanidade, idem. Num projeto de vida, igualmente. Do micro ao macro, do átomo ao santo, do trivial ao complexo, qualquer mudança profunda (de estrutura, de sistema coletivo, de paradigma) exige uma reordenação no nível hierárquico em que ela deve operar. A analogia existe em e entre todos os planos. Quem percebeu isso tem condição de desvendar os mistérios do universo e ir além do concebível.

No fundo o processo (reflexão) nada mais é do que uma sucessão de micro-reflexões. Cada ciclo que se completa merece uma avaliação. A decisão de progredir deve se basear mais no sentimento do que na racionalidade. Mas esta não deve ser ignorada. Apenas deixada como co-piloto. A avaliação deve ser subjetiva. Do íntimo, e não na opinião do meio. Porque nosso interior diz mais do que todas externalidades, que são forma – e idem para todos. Daí a sabedoria de quem diz que querendo bem a nós estaremos melhorando o mundo. Não se trata de egoísmo, e sim de uma percepção de inter-relações e telefinalidade da vida. Porque quando estamos bem conosco expelimos o bem em todas direções. Da melhor maneira.

Ação imperceptível, discreta e efetiva.
Um serviço tão elevado, tão profissional,
que nossa incapacidade sentimental (e mental!)
só consegue classificar esses eventos como "sorte"
ou "milagre" (dependendo de sua crença).
Se todos soubessem entrar em contato com sua essência, muito menos dependência de superfluidades teríamos. Mas essa tarefa é dolorosa. É semelhante à metamorfose na qual a larva se transforma em borboleta. Enquanto esse ato de se plasmar é orgânico, o de nível humano é psíquico. É uma transformação que se dá em outro plano. Mais sutil, profundo e elaborado.

Quando se atinge e se consolida um estado de consciência pleno, não há mais volta. Toda sua existência será em função de uma ideia. Um conceito que se torna cada vez mais abstrato, mas se revela cada vez mais real para quem o percebe.

De nada adianta pedir por milagres se a todo momento somos incapazes de perceber os milhões que se apresentam intermitentemente diante de nossos olhos.

A natureza, um gesto, um olhar, uma palavra, um acontecimento animador, uma notícia, um inesperado gesto de carinho,...

O chato teimoso do presente deve ver se o seu caminho está lhe libertando (independente dos julgamentos externos) ou lhe aprisionando. Seu dever é para com ele mesmo. Se sua concepção estiver certa, o mundo lhe dará razão. Mesmo que isso demore anos, décadas ou vidas. No curto prazo apenas as sutis diferenças podem indicar admiração ou rejeição – gestos tão sutis quanto a sensibilidade exigida para captá-los. Seu agir será sempre o mesmo em substância, apesar da forma se plasmar de acordo com as circunstâncias. Assim o que era tido como chato e teimoso passará a ser reconhecido como sincero e perseverante. Inversão de valores do mundo.

Quando o ser se conecta no mais amplo aspecto aos caminhos da ascensão da espiritualidade vertical, estabelece-se uma conexão sólida com outro mundo, inconcebível para muitos. Uma ligação entre Céu e Terra. Ideal e Real. Futuro e Presente. Um ideal que se torna cada vez mais real, porque sentido e admitido. E o ser que o sente terá apoio infinito. Mesmo que sozinho no mundo. Essa perseverança vista de forma emborcada pelo mundo (teimosia) será o estímulo necessário para que o mundo se plasme.

O plantio é longo, doloroso e exige uma alta carga de criatividade. Mas vale a pena. Quem já sentiu as forças do alto se moverem - mesmo que nos mais discretos acontecimentos - está seguro e calmo em sua jornada.

Não se deseja reconhecimento. O prazer de ter ganho tanto sem depender do mundo é recompensa suficiente. Desse estado novo derivam todas qualidades práticas exigidas por nosso mundo concreto. A diferença: chegar a essa praticidade estando de acordo com o seu interior; sendo guiado com segurança; tendo uma fonte de estímulo infindável. Inesgotável porque alinhada com o Deus imanente. Tudo é subterraneamente alimentado. O mistério se faz. O mundo admira mas não compreende.

Mas não é fácil. Tudo é equilíbrio. Uma visão intensa gera sentimentos intensos, que devem ser controlados para evitar patologias mentais e/ou somáticas. Ver além requer podar sua atuação na superfície e intensificar a escavação de um universo esquecido.

Porque somos anjos decaídos em busca de uma perfeição perdida.

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