quarta-feira, 22 de outubro de 2014

REFLEXÕES SOBRE TEMAS (4)

"Discuta com serenidade; o opositor tem direitos iguais aos seus"

É curioso como certos temas - como este - surgem em momentos oportunos. Isto é, às vezes a oportunidade de refletir sobre um assunto surge logo após a vivência do tema em questão. Essa oportunidade forma ,a meu ver, a circunstância ideal para extrair o máximo das regiões mais profundas do inconsciente.

Até o presente momento tive duas ou três grandes discussões com colegas de trabalho (agora estão mais para amigos). E ao contrário do que é usual, esses conflitos de idéias e visões destruíram (alguns) muros e edificaram (algumas) pontes entre nós. E - muito engraçado - parece que tudo transcorreu desse jeito simplesmente porque o objetivo de todos envolvidos era (e é) a busca pela verdade. Cada um a seu modo. Todos com um ideal comum. Um ideal abstrato nas aparências e se revelando cada vez mais concreto, à medida que nos sensibilizamos para o desconhecido.

Grandes temas como política, economia, sexo, sociedade, cultura, arte, ciência discutidos à luz da razão e sem conceitos pré-concebidos tendem a iluminar os envolvidos. Cada um perceberá as igualdades universais (como os direitos) e as diferenças individuais (como as experiências) e assim será possível conduzir discussões de modo cada vez mais enérgico e estável, mantendo um estado de fusão entre as pessoas por maior tempo. Temas tido como polêmicos serão vistos à luz de uma fé raciocinada. As visões abrangerão mais pontos de vista (universalidade) Pura emoção. Não serão feitos ataques à vida dos outros e sim reflexões sobre idéias variadas. A unificação terá prioridade.

Como atingir um estado ao mesmo tempo de alta dinamicidade e estabilidade em conversas com temas que tocam pontos nevrálgicos? Primeiro deve-se admitir que não somos anjos - ou melhor, somos em nossa essência, mas ela está recoberta de materialidade. Estamos em busca de uma perfeição perdida. Depois, precisamos nos livrar dos preconceitos em relação às opiniões alheias. Muitas pessoas são aparentemente calmas, mas passam a vida se esquivando ou se mantendo neutras em assuntos delicados - que, apesar disso, são importantes e um dia esbarram nos afazeres cotidianos. Isso é bom até certo ponto. Mas a na vida chega-se um momento em que devemos adotar uma postura perante o mundo, e nesse momento a indiferença (essa fuga pacífica) será mais nocivo.

Quando alguém julga fútil um tema que o outro julga como sério - e vice-versa - a discussão tende à discórdia, e só produzirá afastamento entre os envolvidos, além de reforçar suas idéias originais, afastando-se mais um do outro. Cisão ao invés de unificação.

As pessoas são em sua maioria prisioneiras de uma forma mental. Abraçam poucos pontos de vista sobre a realidade que lhes bombardeia incessantemente. Logo, se revoltam por ter uma visão incompleta do Todo. Se isolam num relativismo que nada acrescenta, mesmo que façam isso de modo pacífico. Não entrar em conflito não significa ascensão evolutiva necessariamente.

É muito cômodo se prender a um aspecto da realidade, encontrar seus iguais e dizer que o mundo está errado. Usando argumentos pré-formatados, aparentemente irrefutáveis, é possível calar muitas vozes que, apesar de não se expressarem bem, sabem que aquele ponto final é vazio para uma mente verdadeiramente investigativa. Mas esta, mesmo se expressando bem, dificilmente fará suas idéias permearem o biótipo comum, que é incapaz de conceber modos de vida mais vastos e aspectos mais profundos.

Para resolver o problema da discussão destrutiva cada pessoa deveria se perguntar, fazendo uma auto-análise, se aquilo que ela julga sério (ou fútil) realmente o é. O fio condutor desse questionamento deve ser a finalidade da existência: evolução. A partir daí, é possível iniciar um longo processo de orientação. A discussão se torna construtiva. Ainda é confronto de idéias. Ainda é enérgica. Ainda é trabalhosa. Mas deixará todos mais esclarecidos ao terminar o debate. Essa é uma das artes da vida. Uma arte que assusta muitos, mas que é o caminho para a superação.

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