sábado, 13 de setembro de 2014

POR QUE EU ACREDITO NA REENCARNAÇÃO

Quando alguém torna um texto seu, com seus mais íntimos pensamentos, público, geralmente se trata de uma atitude pouco recomendável. Quantas vezes observei pessoas lançarem longos tratados sob mantos de moralidade sem no entanto revelarem nada mais do que problemas pessoais mal resolvidos (por sua própria culpa inclusive). Isso no entanto, não constitui um problema tão grave se tratando de um ser humano cuja ocupação não lhe exponha sob os holofotes da mídia (atores, jornalistas, políticos, etc). No entanto, a partir do ponto em que uma pessoa influente deixe seus instintos dominarem seus atos e estes sejam revelados ao público, o dano é tremendamente maior. Cisão sem explicação. Separatismo e choques. Vetorizarão dos males que pessoas tentam superar; enxugamento das conexões profundas sendo estabelecidas a nível individual e coletivo.

Falo sobre essa armadilha porque o tema exposto aqui talvez seja tão polêmico quanto àquele tratado em meu ensaio “Por que eu acredito em Deus”. Mas da mesma forma que ressaltei o meu desejo de demonstrar que não se trata de uma imposição, reproduzo a mesma vontade desde o início deste novo ensaio. Este, sem dúvida, está intimamente relacionado àquele, e pretendo, através da lógica e da razão, demonstrar que a ciência se aproxima cada vez mais da fronteira do que denominamos (ainda) imponderável.

Partindo de uma vontade esclarecedora – e portanto unificadora – decidi colocar no início do título “Por que”, de forma a deixar claro que desejo justificar de forma racional, apelando à razão e bom senso do leitor sem preconceitos, cujo desejo é antes de tudo conhecer a verdade, independentemente se esta lhe agrada ou não.

Problemas: estabilidade econômica,
patogênese do câncer, reencarnação.
Muitas pessoas buscam argumentos bíblicos para refutar ou comprovar a teoria da reencarnação, dependendo de qual lado estão. Isso é fazer uso da ciência de Deus (Teologia) para satisfazer uma vontade egocêntrica centrada unicamente em si ou seu grupo (egoísmo). No entanto, a partir do momento em que combinamos a visão teológica com a científica, e colocamos uma pitada de espírito filosófico, o fenômeno começa a ficar mais claro e os conceitos tendem à convergência.

O V Concílio Ecumênico de Constantinopla (553 d.C), foi polêmico por condenar a preexistência do espírito e a Apocatástase (restauração de todas as coisas). Isso se deu, de acordo com documentos históricos [1], à mulher do imperador romano Justiniano, a imperatriz Teodora. Essa mulher, de acordo com suas frequentes consultas a médiuns, ficou sabendo que foi uma prostituta em outra vida, e suas ex-colegas, por saberem disso e difundirem tão vergonhosas particularidades à léu, causavam grande revolta na imperatriz. Logo, para acabar com essa história, mandou eliminar todas as prostitutas da região de Constantinopla.

Com esse ato Teodora ganhou fama de assassina pelo povo, que era reencarnacionista e afirmou que ela seria assassinada 500 vezes em vidas futuras (o número de mulheres mortas por sua ordem).

Com isso a mulher de Justiniano passou a odiar a teoria da reencarnação e resolveu iniciar uma cruzada sem tréguas contra ela – a ideia era mais desagradável que os dizeres de suas colegas. Como se tratava de uma mulher influente, convenceu o marido a perseguir quem a concebeu ,Orígenes [2], um sábio da teologia e filosofia que viveu três séculos antes e estabeleceu os fundamentos da reencarnação.

Assim Teodora e Justiniano desestruturaram a doutrina da preexistência, levando como consequência à destruição da teoria da reencarnação.

No ano de 543 d.C Justiniano publicou um édito em que expunha e condenava as principais ideias de Orígenes, sendo uma delas a preexistência (CHAVES, 2002, p.185-186).

Eis em linhas gerais o contexto histórico no qual foi abolida a teoria reencarnacionista na Igreja. Como se vê, para os opositores fervorosos, trata-se de um caso semelhante à história dos cinco macacos e do cacho de bananas.

Quanto ao aspecto científico, lógico e racional, me apoio na obra “Problemas Atuais”, de Ubaldi.

A primeira contestação que sonda as mentes céticas se refere aos efeitos visíveis. Deseja-se uma prova científica de tal fenômeno, de modo a comprovar a pré-existência da alma e sua continuidade. A essa contestação podemos citar as qualidades inatas de certos indivíduos que, desde a mais tenra idade, apresentam aptidões fora do comum, que só podem ocorrer com milhares de horas de estudo e treino contínuo. No entanto, admitida essa necessidade, observamos crianças de 4 anos tocarem piano melhor do que pessoas que passaram a vida inteira se dedicando a música – e fazendo isso bem [4].

Apresentando estes casos excepcionais a mente racional (com razão) continuará demonstrando muitas dúvidas sobre a teoria da reencarnação, e ao mesmo tempo apresentará diversas explicações concretas para tal fenômeno. Responderão que se trata de uma vantagem genética que aumenta a taxa de assimilação (em uma ou várias atividades). Aumenta, mas não exclui a necessidade. É plausível. No entanto, o fato disso ser uma verdade – ou a possibilidade de sê-la – não significa que se tenha chegado às causas primeiras que expliquem essas habilidades. Ou melhor, essa fenomenal taxa de aprendizado da ordem de centenas ou milhares de vezes.

Quantas vezes a humanidade, através da ciência, estabeleceu como verdade absoluta algo até o momento que se demonstrava incompleto. Lembremos da teoria da gravitação de Newton expandida por Einstein; ou o modelo da Terra; ou as (alternadas) receitas médicas para uma vida saudável; e por aí vai. Verdades relativas.

Mas a questão é: se existe uma Lei diretora no Universo, e portanto uma justiça, como é possível que esta dê a um habilidades excepcionais enquanto outros se mantêm na média? Para o caso daqueles que creem nesse pensamento diretor, isso é inaceitável e deve-se recorrer a uma teoria que satisfaça à razão, à lógica e ao sentimento. Nesse caso a teopria reencarnatória é a única capaz de concatenar logicamente essas dúvidas.

Quem acredita que tudo é caos – e portanto inexiste uma justiça universal – “resolve” o problema facilmente, atribuindo ao acaso tal 'acidente' da Natureza, seja ele benéfico ou maléfico. No entanto, observemos atentamente o comportamento deste cético, com uma mente puramente racional e prática, que aparenetmente resolveu tudo num passe de mágica.

Muitas pessoas que declaram não crer numa Lei universal o fazem – a meu ver – por motivos práticos. Permeadas de medo de se lançarem num oceano de dúvidas que conduzirá a reflexões profundas e incômodos, é mais vantajoso (e esperto, neste mundo) se ater aos problemas imediatos e resolvê-los magistralmente – garantindo sucesso e segurança momentânea – do que se lançar em investigações que consomem tempo, energia e são incertas. Chegam a pseudo-conclusões. Os motivos são justificados: quantas vezes observou-se pessoas falarem do imponderável de forma demagógica, tentando impor teorias sem nenhuma base lógica e com o unico intuito de converter mentes. No entanto, o fato de grupos fazerem o uso da idéia para se autopromoverem não a desqualifica.

Outro ponto: pessoas céticas e que afirmam não existir Deus chegaram a essa conclusão baseado em experiências individuais (vivência) ou coletivas (estudo da História). No entanto essas mesmas pessoas que negam uma Justíça divina, afirmando que tudo é caos no universo, tem um senso moral do que é certo ou errado. Ou melhor, princípios que julgam universais e são involáveis na sua consciência. Muitos dizem que os espertos, com uma pitada de sorte, ganham o mundo, mas ao mesmo tempo essas pessoas, diante de situações em que poderiam se dar bem à custa dos outros, se veem incapazes de passar em cima do outro. Por quê? Existe a ação de um freio mental que atesta uma falta de crença em suas teorias. Sua consciência lhes diz que há algo de errado naquilo. Apesar da negação de uma ordem universal, as atitudes atestam possibilidades.

A teoria da reencarnação, como o próprio nome diz, é uma idéia que aponta para uma possibilidade lógica, ainda não detectada por nossos instrumentos.

Einstein, quando elaborou sua teoria da relatividade, não provou nada experimentalmente. No entanto, todos seus diagramas e formulações e linha de raciocínio, se não podiam ser aceitas de prontidão, igualmente não podiam ser negadas. E eis que, décadas após, com a conquista do espaço próximo, a humanidade colocou sua teoria à prova e a confirmou.

Á falta de sensores adequados só podemos nos declarar impotentes para as novas idéias. A negação é um ato de preconceito ou falta de espírito empreendedor, a meu ver, que deve ser superado por uma humanidade cada vez mais desejosa de ascender nas esferas morais, afeitvas, culturais e espirituais.

As teorias precedem às descobertas, mesmo que o mundo dê evidências a todo momento das mesmas – mas as pessoas se recusem a ver uma Lei naquilo. Estudando a História da ciência isso é cristalino.

Descobrimos alguns dos porquês. Mas existem os porquês dos porquês, que exigem novas concepções.

A humanidade tem o instinto atávico de negar o novo por ter assimilado por demasiado tempo o antigo. Verdades que eram adaptadas à forma mental antiga, com sua sensibilidade intelectual e moral aquèm dos padrões presentes (ainda baixos perante o divino), não resolvem os problemas atuais. Problemas cada vez mais demandantes e presentes. Problemas que nossas ciências, nossas religiões, nossas filosofias e nossa própria vida social e afetiva, encontram.

Para finalizar este ensaio ouso lançar uma idéia ousada além da conta.

Acredito que, sendo verdade ou não, a crença na Teoria da Reencarnação fará a humanidade conquistar uma posição nunca antes atingida. No campo afetivo, no trabalho, nos estudos, em tudo.
Por quê? Porque quando colocamos em nossa mente – mesmo que nos autoenganando – de que INEXISTEM LIMITES temporais para nossos planos, nosso FOCO será na ESSÊNCIA de nossas atividades.

A conquista de uma moça que amamos será feita através de um processo lento, gradual, firme e laborioso, com paciência e sem nervosismo e imposições, que pode nos levar a conquistar o inconquistável.

Um trabalho será feito com imersão total, sem medirmos os ganhos num prazo próximo. E com isso talvez atinjamos metas nunca antes imaginadas.

Quando não pensamos (conscientemente) em superfluidades como prazos tendemos a nos fundir apaixonadamente com aquilo que fazemos, e nesse mesmo prazo apertado conseguimos possivelmente realizar feitos incríveis. E mesmo que não, o efeito ao longo de anos, décadas e – para quem crê – vidas, é sentido. Incorpora-se no ser novas características. O difícil passa a ser natural. E assim podemos passar a trabalhar em planos mais vastos.

O filme Gattaca [5] tem uma cena que me encantou, no qual o irmão geneticamente inferior (Ethan Hawke), que sempre apostava um nado com o irmão, num percurso de ida e volta até a costa – e perdia – uma vez ganha de lavada do mesmo. O segredo? “Eu nunca pensei na volta.” A mente vence a genética. O espírito vence a matéria. A capacidade de superar a forma mental convencional suplanta qualquer superioridade genética.

Eis que o maior dos poderes se revela impalpável.


"O erro não se torna verdade por multiplicar-se na crença de muitos, nem a verdade de torna erro por ninguém a ver...".
Gandhi



Referências



[3] “Problemas Atuais”, A Teoria da Reencarnação (1a Parte). Pietro Ubaldi.



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