domingo, 28 de setembro de 2014

AMOR: PROFUNDO, LENTO, DISCRETO.

Amor é uma palavra que resume um sentimento inexprimível. Que se traduz numa série de atitudes tidas como irracionais. Porque não geram benefício para aquele possuído por esse sentimento profundo e indecifrável – ainda – em sua essência.

Amor não se traduz em desejo. Este se encontra longe daquele. Enquanto o primeiro se satisfaz com a simples existência e convivência com o ser amado, o segundo se traveste de altruísmo e utiliza-o para satisfazer as mais variadas espécies de necessidades instintivas. Um dá plenitude sem esforço. O outro drena e aprisiona (ambos). Um é independência, portanto tranquilidade. Outro é dependência, portanto desespero – em possuir e controlar e desviar.

Quando Deus decidiu permanecer conosco, em nosso íntimo, nesse universo caótico de matéria e lutas e incompreensão, caindo na imanência amorosa mas ao mesmo tempo se mantendo senhor da situação em sua transcendência poderosa, ele realizou o maior ato de amor. Porque isso significa que Ele decidiu desabar conjuntamente com sua criação para que ela conquiste a salvação.

Puxar para cima mesmo sendo incompreendido.
Deus poderia pensar: “Ahh..eles que se revoltaram. Que se percam para sempre e permaneçam desnorteados!” Nada seria afetado em seu Sistema perfeito. Sistema infinito, independente daqueles que O abandonaram, desejando experimentar o egoísmo (todos nós nesse Universo...). Mas não. Ele fez questão de se manter dentro de cada ser revoltado. Lá no fundo. Lá no íntimo. Indecifrável, irreconhecido, mas infinitamente influente em cada gesto ascensional dado por cada um de nós. Por que? Não sei. Mas dou graças a Ele por isso.

À medida que evoluímos construímos uma forma mental mais avançada. Primeiro intelectualmente, depois moralmente. O amor – que sempre existiu – começa a ser compreendido em sua real acepção . Ele não muda, mas a ideia que temos dele se aproxima de seu real poder absoluto. Fazemos isso mais pelo sentimento do que pelo raciocínio. Tão alto ele está! Para atingi-lo nos calcanhares necessitamos adotar a intuição.

O amor é uma manifestação da centelha divina. É profundo no significado.
O amor é uma descoberta via experiências. É lento no florescer.
O amor é sereno e tranquilizante. É discreto na manifestação.

O amor promove ascenção na verticalidade espiritual.

É um ato causado por uma sensação. Um dever seguido imperiosamente, por livre convicção, que não mede esforços nem teme alturas. Ele pensa de outra forma.

Muitos dizem que ele é irracional. Talvez porque julgaram senti-lo num dado momento de suas vidas, sem no entanto o conhecerem em seu mais amplo e profundo significado cósmico.

É buscar o ser até no inferno.
O tempo e a distância inexistem.

As supostas ofensas são compreendidas.
A falta de reconhecimento faz entristecer, mas jamais emudecer a sinfonia cósmica que se manifesta de mil formas sinceras e criativas.

É a potência fundamental dentro de nós. Poder infinito em concepção, infindável em dedicação e insondável em representação.

É o que o verdadeiro místico reconheceu e vive a cada dia.

É acima de tudo simples e transformador.

sábado, 27 de setembro de 2014

A BATALHA PERPÉTUA PELA ESTABILIDADE

 É muito comum cometermos excessos durante a vida. Em vários campos da vida. Em momentos diferentes e por razões diferentes. Isso varia de pessoa a pessoa, cada qual com sua inclinação particular e seu meio sócio-ambiental. E no final de ano, época de Natal, Ano Novo e Férias escolares os excessos vêm em massa.

É difícil encontrar uma pessoa que não abuse da comida, da bebida, da velocidade, do sexo (no caso dos dois últimos, é mais comum e intenso no Carnaval), dos elogios – em muitos casos (não todos), mais feitos para cumprir uma formalidade e portanto manter sua imagem – e dos gastos em bens materiais, necessários por um curto período de tempo, pouco úteis por um médio período, e desnecessários e onerosos no longo prazo. No entanto, é possível encontrar gente menos focada no que o mundo vê como motivo final da existência: o consumo desenfreado. 

A culpa desses excessos não pode recair completamente sobre as pessoas que os cometem. Trata-se de uma REAÇÃO a um outro tipo de excesso, que a maioria das pessoas não é capaz controlar: o excesso (de tensão, de tempo, de demanda de energia) da vida laboral, e a conseqüente ausência de oportunidades para o ser descobrir outras habilidades e ambientes e ideias e sentimentos. 

É esperado que, quando puxamos uma mola para um extremo – ou seja, tiramos ela do seu estado natural, de equilíbrio – ao soltarmos ela, a mesma tende a ir para o outro extremo, e após isso voltar para o extremo inicial, para o qual foi puxada inicialmente, e vice-versa. Indefinidamente. Um movimento de vai e volta cuja duração vai depender de uma grandeza chamada “amortecimento”, que é responsável por diminuir a amplitude do movimento a cada vai-e-volta executado pela mola. Pois bem, o Princípio dessa Lei do mundo Físico vale também para o mundo Humano.

Se somos forçados a uma situação de enclausuramento, por exemplo, como reação, ao sermos liberados para agirmos conforme nossa vontade, tenderemos a buscar (e valorizar) ambientes abertos. E da mesma forma, após passarmos muito tempo expostos, ao ar livre ou ambientes públicos, temos a vontade natural de nos recolhermos a título de podermos exercer nossos gostos individuais com concentração, seja em nosso quarto, nosso escritório, no banheiro, cozinha, porão ou sótão.

O problema de forçarmos em demasia uma particularidade inerente à nossa vida é que tendemos a saturá-la. Ou seja, por mais tempo que passemos fazendo essa atividade – por mais importante e necessária que seja – a partir de um ponto atinge-se um limite. Esse limite não é claramente definido e seu valor pode variar infinitamente de pessoa para pessoa. Ainda mais porque esse limite (apesar de existir para tudo e todos) pode ser variado em natureza dependendo da pessoa*. No entanto, um modo muito fácil de perceber qual é esse limite é através do SENTIMENTO.

O nosso corpo somático é um alarme eficaz contra os excessos que cometemos ou se cometem contra nossa pessoa. Quando não estamos conseguindo executar a mesma atividade com a mesma eficiência isso pode ser um indício de que estamos executando-a por um tempo demasiado grande ou numa posição (ou ambiente) demasiado desconfortável para sua execução. Logo, o corpo começa a demonstrar cansaço de seus sensores (vista cansada, dor na coluna, nos membros, câimbra, dor de cabeça, sede, fome, etc). Um outro possível motivo de não estarmos suficientemente engajados nessa atividade se refere à falta de motivação – sendo esta uma causa espiritual.

Mas, enfim, o que fazer para evitar os excessos de fim de ano e suas conseqüências?

A primeira coisa é nos darmos conta de que estamos num CICLO VICIOSO. E esse reconhecimento é muito importante. Porque se ignorarmos a realidade, não nos sentiremos estimulados a escaparmos desse campo gravitacional nefasto, que ora nos induz a um excesso, ora a outro. E sendo os picos e os vales MUITO acima (e abaixo) dos seus respectivos pontos de saturação, nossa vida tende a ser caracterizada por um tremendo desperdício de TEMPO e ENERGIA, que leva a crises emocionais e desorienta nossa mente. A grande maioria, ainda pouco amadurecida para se desligar do mundo à sua volta e se voltar para si, inicia um processo gradual de podagem de gostos e sonhos e idéias. É muito menos desgastante e o retorno do meio é rapidamente percebido. Cria-se a ilusão de que esse é o modo de lidar com a vida. E depois de muitos anos apagando nossas mais íntimas aspirações nos tornam um ser prisioneiro de uma forma mental que julgamos ser a nossa. Será?

O segundo passo é – após reconhecer a situação – criar uma atividade ou um costume DIFERENTE. E implementá-lo no dia a dia. Pode ser o ato de caminhar no parque, de jogar um jogo de tabuleiro, de ler um livro, estudar algo, ouvir uma música, conversar com alguém, escrever um texto, desenhar, pintar, viajar, etc, etc, etc. UMA atividade apenas. E é imprescindível que essa atividade seja diferente daquelas praticadas pela pessoa. Dessa forma, abre-se uma brecha que permita à pessoa ver o mundo e sentir as coisas de um modo diferente. E consequentemente essa brecha pode levar a pessoa a iniciar um processo de DESACELERAÇÃO numa direção e/ou MUDANÇA DE TRAJETÓRIA. Isto é, a nova percepção da vida leva a pessoa – agora com sensores diferentes e mais apurados – a se conscientizar espiritualmente e acionar seus ATUADORES, imprimindo forças nunca antes aplicadas a seu ser a título de alterar sua trajetória de vida e assim desvendar novos caminhos e eleger novos horizontes – mais espirituais do que materiais.

O terceiro e último passo é, após o início da mudança de trajetória, realimentá-la e iniciar um processo de mudança constante. Dessa forma será construída uma espiral ascendente, na qual a elevação representa a evolução e as voltas a natureza cíclica dos problemas, crescimentos e resoluções.

É muito importante que, após elegermos uma atividade, sejamos capazes de desenvolvê-la com prazer e permitir que ela revele outras atividades correlacionadas. Isso não é nada mais que EXPANSÃO a partir de um ponto, o qual irá gerar outros pontos, que gerarão outros. Pontos que possibilitem a escalada na evolução. E assim sucessivamente.

Com essas ideias creio que seja possível iniciarmos uma verdadeira mudança em nossas vidas, aumentando o nosso “amortecimento” para os golpes desnecessários que geramos e recebemos da sociedade, e buscando os patamares ideais em cada campo da vida.


* Nesse último caso me refiro ao limite natural da pessoa, e não da ideia que a mesma tenha a respeito de quanto deve ser.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

INCOMUNICABILIDADE: SOTERRADA MAS (SEMPRE) PRESENTE

Muitos são os motivos que me levaram a gostar dos filmes de Ingmar Bergman [1]. A fotografia é belíssima; os personagens são profundos e reais; os roteiros são densos e captam o essencial; o desenvolvimento da história segue o ritmo dos personagens;... Mas sem dúvida o maior deles é a coragem que este diretor sueco teve de revelar em todos – ou na maioria – de seus filmes a questão da INCOMUNICABILIDADE entre os seres humanos.

O Eclipse, de Antonioni.
Piero (Alain Delon) e Vittoria (Monica Vitti)
tem um romance anormal, tipico de uma era
caótica.
A dificuldade que nossa espécie tem em repassar suas ideias e sentimentos para seus semelhantes é sem dúvida uma das maiores causas dos conflitos bélicos e econômicos que permearam nossa breve (e violenta) história. Falo isso baseado nas leituras que venho fazendo [2], nas reflexões dos últimos dez anos e nas observações que venho feito dos fenômenos sociais, culturais, afetivos, políticos e econômicos.

Não apenas temos dificuldade de fazer uso adequado e ter uma interpretação judiciosa das palavras que emitimos e recebemos, como possuímos um medo imensurável de, mesmo possuindo toda capacidade, estabelecermos uma comunicação SINCERA com o semelhante. Isso vale no campo social, no afetivo, na exposição de uma ideia que possa salvar uma comunidade – ou melhorar o desempenho de uma empresa – ou situações do tipo. Quem perde com isso somos nós e os outros. Ou seja, TODOS.

Não vejo outro modo de começar a resolver esse problema do que nos arriscarmos mais (dentro de certos limites) no nosso cotidiano.

Bukowski – um escritor cuja vida desregrada só era superada pela sua sinceridade e maestria em tocar nos pontos certos – disse certa vez num de seus livros que

gente demais é cuidadosa demais. estudam, ensinam e fracassam.”

Bom, acredito que ele não estava se referindo àqueles e àquelas que ensinam, e sim a todas pessoas que percebem o mundo (estudam), agem conforme essa percepção (ensinam) e no entanto são incapazes de aumentarem a sua felicidade (fracassam) em função dessas duas primeiras. Por que? A meu ver trata-se de um excesso de cuidado ao lidarmos com o outro.

A Noite, de Antonioni. Lidia (Jeanne Moreau) e Giovanni
(Marcello Mastroianni) são um casal exausto de si mesmo.
Do meu ponto de vista – e baseado em tudo que venho observando e sentindo – a frase de Bukowski tem uma imensa profundidade e pode ser uma das chaves para melhorarmos nossas relações.

Ter o cuidado de não se intrometer na vida dos outros é ser um sinal de civilidade. No entanto, o excesso dessa não-intromissão pode nos levar a podar potenciais oportunidades de crescimento e pontes.

Nós, seres civilizados nos costumes, nos habituamos a exercer características de respeito ao próximo, nos desviando de qualquer tema que gere debates mais acirrados ou de qualquer observação ou início de conversa que possa incomodar terceiros – mas vale ressaltar que essa civilidade, apesar de boa, ainda é superficial e tem uma intenção mais focada na FORMA do que na SUBSTÂNCIA. No entanto, parece que muita gente tem levado isso tão a sério, que o fato de serem pessoas que não causem nenhum tipo de incômodo no seu entorno, ao mesmo tempo perdem OPORTUNIDADES fantásticas de estabelecerem amizades e contatos e aprenderem coisas (e quem sabe mais) desse mesmo entorno. Tudo por um motivo que – a meu ver – no fundo tem um quê de egoísmo, porque objetiva não “sujar” sua imagem sendo “chato”. Ou buscar os prazeres IMEDIATOS.

Ingmar Bergman (1918-2007).
Aplicando em todo seu entorno essa filosofia de vida descrita no parágrafo anterior, acabamos nos ilhando do resto do mundo. As diversões são sempre as mesmas, as variações são muitas nas formas e nenhuma na substância. Só o incômodo e a dor salvam. Mesmo que a ilha seja relativamente grande e pareça ser auto-suficiente, será que isso de fato é verdade? E como muitos pensam assim, tudo aparenta estar em harmonia. Mas vendo mais a fundo é possível desconfiar que essa “harmonia” talvez seja uma pseudo-harmonia. Eis o ponto preocupante que queria tangenciar.

Existe, a meu ver, um modo simples e indolor para iniciarmos uma nova filosofia de vida que nos possibilite (quem sabe) buscar uma felicidade SUSTENTÁVEL. Esse método consiste simplesmente em, quando houver a oportunidade, colocar esse tema em pauta. Sem medo, mas com a melhor das intenções. Para isso é essencial que pessoas com mais possibilidades (estudo, recursos, tempo e percepção) comecem a dar os passos iniciais rumo a essa aproximação universal. Mesmo que a trajetória inicial exija GRANDE ESFORÇO. Porque quanto maior o conhecimento, maior a responsabilidade.

Não sei se estou fazendo do modo certo, mas creio que, nas minhas condições materiais, possuo uma responsabilidade considerável de repassar esses pensamentos da forma mais acessível possível, sem deixar escapar os conceitos fundamentais. Portanto, acredito estar cumprindo – se não total, pelo menos em parte – uma parte de meus deveres para com a Lei universal que rege tudo e todos.


Referências

sábado, 20 de setembro de 2014

CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE EM TRÊS FASES

Nós aprendemos constantemente. Nós, seres vivos. Qualquer forma de vida, em qualquer estágio evolutivo orgânico e psíquico. Isso significa que existem inúmeras maneiras de assimilar um conhecimento. E após um processo de estudo que leva à compreensão, uma série de ciclos infindáveis de automatismos se dão. Ciclos responsáveis por internalizar o novo saber e transformá-lo em instintos e faculdades inatas posteriormente.

O processo de aprendizagem é lento. Se o ser já atingiu estágio evolutivo capaz de lhe trazer uma sensibilidade nervosa aguçada, perceberá quão vagaroso e firme é esse processo. Um fenômeno natural, conduzido para uma finalidade superior, com uma Lei universal – que assume várias formas no campo físico, dinâmico e psicológico – servindo como guia. Se a Lei é desobedecida, um alerta é dado em forma de dor. Em seu mais amplo significado.

A Lei é UNA, isto é, redutível a um princípio único. Mas assume uma multiplicidade de formas em nosso Universo. Os seres humanos vão descobrindo cada uma delas, passo-a-passo. Século a século. Tentativa por tentativa. Assimilação por assimilação. Buscam explicação para o que ocorre à sua volta à medida que ganham sensibilidade e exaurem ciclos já saturados. Alguns são pioneiros e trazem novos conceitos, teorias, invenções e sistemas. Artistas, gênios, místicos, santos,...Cada um a seu modo, trabalha para a evolução da humanidade. Seres dispostos a enfrentar tudo e todos em nome de um ideal ou teoria.

Um ciclo não se inicia sem que o precedente esteja em vias de exaurir. Nem poderia ser de outra forma. Antes de fazer faculdade vamos ao colégio, e antes disso ao ensino fundamental. Um casamento surge de um namoro, este de uma amizade, e esta de um coleguismo – me refiro a casos ideais.

Partimos da superfície e rumamos para o íntimo. O modo de criarmos segue o sentido

CAUSA → EFEITO                                                                                                            (1)

Mas descobrimos os fenômenos e as pessoas no sentido inverso, isto é

EFEITO → CAUSA                                                                                                            (2)

Nem poderia ser diferente. Em nosso estágio atual, percebemos pouco. Nossa memória se atém – em sua maior parte e na maioria das pessoas – a eventos de pouca real utilidade. É claro que ainda assim é um fato da vida e (portanto) esse comportamento tem um objetivo maior. Mas os caminhos poderiam ser mais suaves. E o serão, à medida que despertarmos a consciência.

À medida que nos depuramos vamos (re)adquirindo a capacidade de enxergar as causas primárias desde o primeiro momento. Dessa forma torna-se muito mais fácil identificar uma pessoa (relações afetivas, sociais,...) ou um fenômeno (físico, químico, econômico,...). Porque nossa mente já é capaz de captar desde o princípio as potencialidades latentes e em vias de florescer, baseado num potencial de observação ímpar. Eis o mistério dos profetas.

As relações (1) e (2) são apenas uma simplificação. Na verdade uma causa leva a diversos efeitos (tidos como causas para o posterior). Trata-se de uma longa cadeia.

CAUSA 1 → CAUSA 2 → ... → CAUSA N → EFEITO                                                       (3)

Da mesma forma, o mesmo vale em sentido contrário.

EFEITO → CAUSA N → ... → CAUSA 2 → CAUSA 1                                                       (4)

Assimilação. O despertar da curiosidade. 
E as descobertas consolidadas pela ciência seguem uma cadência. Vão sendo feitas em camadas, conforme a relação (4). Essa é a única forma do coletivo da humanidade assimilar racionalmente e poder aplicar em sua vida as novas descobertas. E a partir delas inventar (máquinas, novas teorias, novos conceitos, novos sistemas, etc). O mesmo vale para a relação entre seres humanos, que são como cebolas. Isto é, possuem camadas que vão se revelando para quem possui os sensores adequados.

Finalmente, é possível falar sobre o processo de construção da personalidade divina. Ou, em outras palavras, do florescer do ser espiritual preso dentro de nossa vida orgânica. Trata-se de algo que pode ocorrer simultaneamente e em ciclos sucessivos. Vale para tudo. Trata-se de um processo em três etapas, na qual a predecessora apoia a seguinte.

ASSIMILAÇÃO → REPRODUÇÃO → CRIAÇÃO                                                            (5)

Como exemplo imaginemos a música. Antes de aprendermos a tocar um instrumento musical precisamos ouvi-lo repetidas vezes. E fazemos isso porque gostamos da música. Nos tornamos ouvintes, e passamos a nos regozijar com a harmonia sonora. Essa é a fase de assimilação.

Reprodução. A alegria de experimentar os efeitos da criação.
A seguir, se as condições estiverem alinhadas, a maturidade desenvolvida e a coragem presente, passa-se à fase de reprodução. Nessa fase toda experiência adquirida passivamente, aliada à teorização mental, se lança no terreno da prática. Aí o ser começa a engatinhar no campo experimental, realizando tentativas por conta própria, com (muitos) erros e (poucos) acertos. E isso é muito bom, porque a internalização do erro contém o germen dos futuros acertos. Eis o porquê da máxima “a burrica é a base da inteligência” é pura verdade.

Quando o traquejo reprodutivo estiver consolidado, passa-se à fase da criação. É a coroação de um ciclo. A glória que é tanto maior quando mais elevado for o ciclo. Um estágio em que se encontram os grandes compositores, escritores, cientistas, estadistas e demais gênios, santos e místicos. Nela o ser é capaz de abstrair uma música (por exemplo), passando-a ao papel – sem nunca tê-la tocado, mas sabendo da sua divindade. Na verdade o ser passa a ser uma ferramenta em contato direto com uma entidade elevada, capaz de se elevar para o Alto e receber correntes de pensamentos sobre-humanas, e passá-las ao papel.

A relação (5) é de uma generalidade absoluta. Vejamos o processo em que um garoto conhece uma garota.

Primeiramente (assimilação), há a troca de idéias, conversas, troca de experiências, avaliações baseadas em critérios pessoais e aproximações sucessivas; Depois (reprodução), a vivência conjunta, na qual haverão diversas visões de mundo que se encontrarão pela primeira vez com uma intensidade fora do comum, exigindo paciência e soluções criativas; Finalmente (criação), se a etapa anterior for lidada com habilidade, haverá um intercâmbio de ideias e ideais construtivo, alçando ambas as partes a um novo patamar de existência.

Criação. Inspiração causada por pensamento profundo.
Pura emoção.
Um projeto de engenharia funciona da mesma forma.

Quando desejamos construir uma máquina (ou modelo de simulação), primeiro devemos compreender o que se deseja (requisitos para máquinas / representatividade para modelos). Ou seja, assimilar; A seguir, reproduzimos. Isto é, iniciamos o processo de criação (que ainda não é a dita cuja), utilizando ferramentas e métodos passados. Experimentamos criações antigas para nos (re)familiarizarmos; E finalmente, juntando componentes, sistemas (ou conceitos) diferentes, criamos algo novo.

E assim se dá a evolução do Universo em suas múltiplas facetas. Social, afetiva, sexual, científica, política, filosófica, religiosa, entre outras.

Passo-a-passo. Ciclicamente. Ascensorialmente. Magistralmente. Divinamente.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

VENCER A SI MESMO

Existe um comportamento sintomático do ser humano que o torna suscetível a males dos mais variados tipos. Trata-se do espírito de competição.

A princípio não há nada errado em competir. O problema está quando o espírito competitivo permeia em excesso a mente, permitindo que um assunto, guiado por esse instinto, invada diferentes esferas da vida, atrapalhando o desenvolvimento das mesmas de forma saudável. E também das relações sociais com nosso entorno. Trata-se de dar um peso além do recomendável a algo. Esse excesso de valorização pode ocorrer por diversos motivos. Um deles (talvez o principal) é o medo do indivíduo em se distanciar do rebanho do qual ele faz parte. Mas a questão central é que nos preocupamos mais em vencer o outro – em alguns casos a qualquer custo, mesmo em detrimento de nosso bem-estar – do que vencer a nós mesmos.

Vencer a si mesmo não é se destruir. É se renovar. É se TRANSFORMAR. É evoluir com o tempo. É uma postura de vida que não se interessa em estabelecer comparações com os outros a todo momento. E muito menos se lamentar ou se achar superior a outro baseado nessa comparação.

Vencer a si mesmo é uma meta sem prazo que, para ser atingida um dia, deve fazer uso de meios criativos e buscar estabelecer COOPERAÇÃO com as outras pessoas interessadas em vencerem – a si mesmas.

Desde que surgiu, a humanidade sempre teve suas ações (individuais e coletivas) voltadas para o aspecto competitivo. Se um povo ou um indivíduo não consegue algo a qualquer custo, seus desejos e rezas se voltam para atormentar aquele povo (ou indivíduo) que buscam e tem mais condições de conseguir esse algo. E geralmente, quanto mais próximo (culturalmente, historicamente, linguisticamente), mais chances de ser o primeiro alvo. Passa-se a querer o fracasso do outro mais do que seu próprio sucesso – que geralmente é obtido à custa dos outros. E o mais tragicômico: nos preocupamos muito pouco em buscar as causas de nosso fracasso e nos reorientarmos. E (principalmente) em desejar o sucesso dos outros. Tensão, desentendimento e conflito. Puro desgaste gerado por falta de estudo, pesquisa e amor.

Somos setas afiadas orientadas umas contra as outras. Os possíveis alinhamentos (grupos) se dão em grande parte por motivos egoístas. Tanto é que logo que um objetivo seja atingido por uma, ou um desentendimento se dê, o paralelismo construtivo se torna num cruzamento desacelerador. E assim caminha a humanidade: a passos lentos e árduos. Tendo a necessidade de errar mais do que o necessário.

O dia em que nos conscientizarmos que devemos nos orientar paralelamente, ajudando o outro ao invés de “vencê-lo”, tudo transcorrerá de forma suave e eficiente. Isso não significa perder nossa individualidade. Cada um de nós é uma seta com características e modos de comportamento singular. Apenas a orientação deve ser alinhada. Orientação vem com conscientização. Conscientização vem com reflexão.

Não devemos cooperar conosco no sentido de acreditarmos que todas nossas atitudes e idéias e sentimentos sejam o ideal. Devemos competir com nós mesmos, expondo nossas idéias a uma arena (com mentes que operem predominantemente no plano de idéias).

Logo, o modelo “Vencer os outros – Cooperar consigo”

Deve ser invertido pelo “Vencer a si mesmo – Cooperar com os outros”

Porque estamos todos INTERCONECTADOS.

A seguinte analogia fará o leitor adquirir uma melhor compreensão do que quero dizer.

Não somos detentores de todas verdades. Cada ser possui uma ou algumas. Uns mais do que outros. Mas isso não é fácil identificar nem é passível de julgamentos, uma vez que outros ainda podem estar numa fase de aprendizado que induz a mais erros.

Não sendo detentores de todas verdades – e considerando o somatório das verdades a chave para alcançarmos a salvação – devemos NOS ABRIR para as outras verdades (pessoas, grupos). E para isso se efetivar, muros e armas não terão o efeito desejado. Isso leva a pessoa a adotar a seguinte linha de pensamento: estudar, relacionar, conversar e se conhecer são ferramentas úteis para o crescimento individual. E isso leva a pessoa a buscar teorias formuladas por uns, idéias propagadas por outros, experiências vivenciadas por outros ainda e compartilhar seus próprios sentimentos e idéias nos meios receptivos a isso.

O fluxo cooperativo inter-seres na horizontalidade cria uma REDE. Cada ser deve pôr sua ideia em pauta (nos ambientes adequados!) e explicar o porquê de segui-la e após uma série de rodadas de observações do meio alterá-la, melhorá-la ou reformulá-la. Isso é um processo individual, que requer MATURIDADE e PERSEVERANÇA. É uma atitude que visa vencer os próprios redutos mentais que estão se tornando engessados.

Quem sobe sozinho sobe na ilusão.
Quem sobe com todos sobe na realidade.

A vitória só pode ser de todos quando todos se ajudam.
A derrota só pode ser de todos quando todos vencem isoladamente.

A transformação mental do ser humano há de comprovar essa máxima.



quarta-feira, 17 de setembro de 2014

NECESSÁRIO versus SUPÉRFLUO

É fato que não existe um consenso entre o que é essencial e o que é luxo entre os seres humanos. O necessário de alguns é o luxo de outros. De pessoa para pessoa, as variações ocorrem. Mesmo para indivíduos de uma mesma classe social, da mesma idade, com escolaridade idêntica, existem divergências. Desse modo, se torna muito difícil iniciar e desenvolver (saudavelmente) uma discussão acerca de uma política para garantir o mínimo necessário para que um ser humano possa viver dignamente.

Há certo tempo participei de um bate-papo informal – e caloroso – acerca desse tema. Para ser específico, o tema central girava em torno da liberdade de escolha profissional.

Meu opositor principal argumentava que uma pessoa que realmente goste de sua ocupação não terá sua qualidade de vida impactada pelo seu salário. Ou seja, independentemente da quantia que caia (ou não) em sua conta, o indivíduo que realmente faz aquilo que lhe agrada não se importará com seu padrão de vida material. Eu, por outro lado, apesar de admirar pessoas que se orientam puramente por uma vontade própria, espiritual, não ignoro que as variáveis materiais tenham influência na escolha da pessoa por uma ocupação. E que essa influência deve ser levada em consideração – explicarei o porquê disso oportunamente.

Num primeiro momento pode-se dizer que a opinião que defendo é mais materialista ou interesseira. Mas a meu ver deve existir sim uma consideração pelo retorno material. É claro que essa decisão não deve ser 100% orientada pelo retorno financeiro, mas esse fator deve ter um peso proporcional às necessidades mínimas do ser humano – que como disse, são relativas. E defendo essa ponderação porque, apesar de concordar que num mundo ideal – não-material – as escolhas tendem e devem ser 100% espirituais, não se pode ignorar a nossa constituição física e consequentes necessidades básicas (habitação, saúde, higiene, alimentação, educação,...) quando vivemos num mundo onde se depende da matéria ATÉ MESMO para se obter mais condições para desenvolvimento espiritual (traduzindo, fazermos o que gostamos). Além disso, se quisermos contribuir para o progresso da sociedade, há a necessidade de estarmos numa posição de segurança financeira que nos permita concentrarmos todas nossas energias – e tempo – em nossos projetos.

Pirâmide de Maslow
Meu colega argumentou que se pode viver com cerca de 260 reais. Essa quantia bastaria para qualquer pessoa fazer o que gosta. O número foi baseado no seguinte raciocínio: existe uma merenda do governo estadual que custa 1 real por refeição (duas vezes por dia, trinta dias por mês dá 60 reais); e, para moradia, 200 reais seriam suficientes para pagar um aluguel numa favela. E assim tem-se o básico. No entanto, sempre que me deparo com um raciocínio simples, e aparentemente tão eficiente, começo a esmiuçar. Porque sabe-se muito bem (intuitivamente ou racionalmente) que tanto nas ciências humanas quanto naturais a teoria é bem diferente da prática.

Vamos supor essa pessoa que faça o que gosta e receba 260 reais por mês por isso.

A primeira pergunta que surgiu na minha cabeça foi: E sua saúde? (porque um convênio médico é caro). E a resposta foi que eu estava “criando hipóteses” e “desviando o problema”.

Não compreendi, pois o que eu afirmava a princípio era de que a falta de dinheiro afetava sua qualidade de vida (que, neste mundo, com nossa constituição física, está intrinsecamente relacionada com os recursos materiais que dispomos. pelo menos até certo ponto. um ponto que, apesar de ninguém poder especificar direito, existe para cada um e tem um valor considerável). E a saúde, a meu ver, é uma vertente fundamental da vida para qualquer ser deste planeta.

Como necessitar saúde pode ser uma hipótese?”, eu me perguntava. E para outros tipos de itens que eu julgo fundamental como: boa alimentação, educação, criação de filhos, transporte, e um mínimo de lazer e cultura populares, recebia a mesma resposta. No entanto, para um ser humano poder fazer o que gosta, seu corpo e mente físicos devem estar em bom funcionamento. E isso implica que todas suas necessidades não-profissionais devam ser satisfeitas. Ou seja, caso haja uma doença, deve-se dispor de recursos para se pagar um tratamento ou cirurgia; caso essa pessoa deseje ter filhos e criá-los, deve se ter recursos para sua alimentação, educação, moradia e transporte, enquanto eles não atingem sua independência; etc.

Num ponto foi dito para mim que “Basta morar com os pais e não ter filhos”. Nesse caso a pessoa queria dizer que não é preciso ganhar nada e fazer o que gosta. De fato. No entanto, novamente caiu-se no erro de tratar o problema como algo encerrado no indivíduo. Ou seja, criou-se um volume de controle RESTRITO. Porque essa pessoa está sim consumindo recursos. O dinheiro de seus pais, pra ser mais exato, que estão SUBSIDIANDO as condições favoráveis para que esse filho possa se dar ao luxo de não precisar de dinheiro. Mas indiretamente ele está usando dinheiro. E muito.

Essa discussão é complexa e portanto desejo deixar alguns pontos fundamentais expostos aqui.

Uma pessoa que se diz feliz ganhando um salário mínimo deve ter sua opinião respeitada. Mas alguns pontos devem ser ressaltados. Eis os dois que julgo mais importantes:


Primeiro:
Essa pessoa, por carecer de uma educação formal e conversas e leituras e oportunidades para abrir sua mente (na grande maioria dos casos), pode ter adquirido uma visão estática do mundo, em que a estrutura hierárquica deve ser respeitada e não existe nada a mais para aspirar (quem aspira é “fresco”, “radical” ou “não tem o que fazer”).

O problema da pessoa se manter com essa visão restrita do mundo é que esse tipo de pessoa é facilmente controlável por aqueles que detém o poder e desejam manter as desigualdades. Inclusive, com um enfoque midiático certo, é possível tornar a visão dessa pessoa a opinião dominante de uma classe inteira, induzindo pessoas de outras classes de que realmente não se deve “reclamar” das coisas e agradecer pelo que se tem. Isto é, joga-se com um sentimento altruísta e intrínseco de cada ser humano, manipulando esse sentimento com objetivos escusos.


Segundo:
O fato da pessoa se sentir confortável ganhando um salário mínimo não significa que ela esteja tendo suas necessidades fisiológicas, culturais e sentimentais satisfeitas. Significa – a meu ver – que essas necessidades podem ter sido convertidas – mentalmente, ao longo dos anos, através de um processo de conformação à realidade – em coisas supérfluas.

O que quero dizer com tudo isso é que é muito fácil nos sentirmos satisfeitos quando não somos capazes de visualizar outras possibilidades e o mecanismo de funcionamento do mundo. Portanto, continuo defendendo a tese de que, pelo menos neste mundo, um certo conforto material é sim importante para se ter uma qualidade de vida – inclusive espiritual.

Devemos reconhecer que, por mais orientada que uma pessoa esteja para o lado espiritual, ela não pode ignorar suas necessidades fisiológicas. Caso contrário existe uma grande probabilidade dessa pessoa ser fortemente abatida por um imprevisto – que a vida comumente nos apresenta.

Acredito que vale a pena refletir sobre essas duas questões.

Eu particularmente compreendo a DIVERSIDADE dos pontos de vista a respeito do que é ou não necessário. Mas ao mesmo tempo tenho a intuição de que ao longo dos anos e séculos e milênios essa diversidade – de amplitude descomunal – vá CONVERGINDO. Lentamente. Porque é o único meio de começarmos a chegar a um acordo. Mas para isso é preciso que cada um se APROFUNDE nessas questões, saindo do lugar-comum. Saindo da zona de conforto.

E assim chegaremos um dia à Unidade*.

E o necessário será o necessário, e existirá.
E o supérfluo será o supérfluo, e não existirá.

Acredito que será assim.



* Ah...(só para esclarecer)...Unidade não significa padronização ou massificação. Unidade significa um conjunto de seres com características físicas, aptidões e gostos diferentes atuando em prol de um conjunto de ideais comuns.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A FELICIDADE NÃO SE COMPRA

Um elogio a uma vida, a um ideal, uma equipe.
Um agradecimento às pessoas que constroem e continuam construindo pontes entre o ideal e o real.

"A Felicidade não se Compra", nem se compara a
qualquer outra coisa. Me refiro à verdadeira felicidade.
George, Mary e Zuzu, sua filha caçula.
Existe um método muito eficaz para identificar se alguém é ou não rico. Basta observar o número de amigos que essa pessoa tem. E quando digo amigos, me refiro àquelas pessoas que, mesmo distantes, preenchem de alegria nossas mentes quando relembramos de momentos passados juntos. Pessoas que não te julgarão e te compreenderão, até nas suas atitudes mais insensatas. Pessoas que terão paciência em te escutar e te descobrir, mesmo que isso demore anos. Pessoas que estarão dispostas a “perder” tempo ao seu lado, ouvindo seus sonhos e alegrias e idéias a dores e que tentarão te conduzir a caminhos melhores, da melhor forma. Mesmo que esta tenha um tom áspero. Mas sempre será sincero. Quem tem esses tipos de amigos é verdadeiramente rico.

Minha vida carecia de uma explicação satisfatória. Essa situação de 'garoto perdido' era uma realidade concreta há poucos anos. Foram anos e anos vivendo de uma forma cada vez mais destoante da grande maioria. Exteriormente, na forma, eu era muito semelhante à maioria. Mas na abissal profundidade da minha alma, um processo intenso de maturação psicológica ocorria. Experiências sendo absorvidas. Erros sendo internalizados. Dores aparentemente gratuitas. Questões infindáveis sem uma explicação verdadeiramente convincente. E eu buscava as respostas. Perguntando ou observando o comportamento das pessoas tidas como referência. E avaliando se suas atitudes condiziam com seu discurso.

A família Bailey
As pessoas, os professores, os mestres, os sábios, a sociedade,...Todas as respostas pareciam ser prontas. Pré-formatadas. Uma espécie de repetição que tinha uma explicação racional e lógica até o momento em que se chegava à fronteira das causas profundas. Problemas tão fascinantes quanto fundamentais. E ignorados. Chegando nesse ponto, a resposta era substancialmente a mesma: “porque sim”, “as coisas sempre foram assim”; “isso não dá em nada”. E variações desse tipo. Infinitas e vazias. “Não é possível!”, eu exclamava. Estava diante de um universo sem sentido. E quanto mais estudava e constatava, maior a fome por conhecimento e por algo ou alguém capaz de resolver os problemas últimos. Ou ao menos esboçar algo do tipo.

Comecei a construir uma pirâmide do saber. Os filmes, os livros, as músicas, as teorias, as experiências (sociais, afetivas, laborais, etc) foram sendo filtradas. Toda enorme quantidade de conhecimento recebido começou a ser FILTRADO e RELACIONADO. E a SIMPLICIDADE emergiu como consequência.

De repente, comecei a me tornar uma pessoa mais seletiva, como todos ficamos com o passar dos anos. Mas pelo que sinto, isso se deu a uma taxa espantosa. Como se todo aquele novo ser, com aquela ânsia e potencialidades latentes estivesse apenas esperando os elementos ignitores. Entidades capazes de despertar o melhor de si.

Três ou quatro anos. Foi o tempo necessário para minha visão de mundo evolver a um patamar diverso. Infinitamente abaixo de um gênio, santo ou místico. Mas não adaptável ao mundo presente. O que era de valor pra mim não o era para a maioria. E vice-versa. Não em tudo, mas em muitas coisas. E o mundo só sabia rejeitar, mas jamais explicar o porquê de seus métodos de exclusão. E nisso eu, com minha nova visão, só me impulsionava mais à frente. Isto é, seguia minha natureza, me distanciando cada vez mais do dito normal. Mas isso, se era bom, ao mesmo tempo cortava meu contato com este mundo. E eu tinha (e tenho) necessidades nele: fome, amor, diversão, conversas, sorrisos, etc. Era necessário ser criativo e resolver essa questão.

A Salvação. Recompensa por levar uma vida reta,
combatendo o capital ganancioso, ouvindo o
coração e sempre encontrando soluções criativas.
Eis que comecei um segundo movimento. Comecei a escutar mais do que desejar falar. Compreender o exterior para enriquecer o interior. E percebi que muitas pessoas tem anseios e desejos que se assemelham aos meus. Apesar da forma de buscá-los ser diferente. Algumas chegam a revelar idéias e visões incríveis. E refinar seu tempo de ocupação, parecendo que em certos momentos que o meu mundo e o mundo das pessoas próximas possam se fundir.

Dessa forma aprendi a atuar no mundo, aproveitando o melhor dele, e ao mesmo tempo manter minha mente no infinito. A conexão estava feita.

Só falei de tudo isso porque ontem, domingo, tive a oportunidade de assistir um filme clássico no cinema. Um filme chamado “A Felicidade não se Compra”. É um VERDADEIRO MILAGRE. Porque eu já tinha visto esse filme várias vezes na telinha, mas sempre ansiei por vê-lo na tela grande. Foi uma imersão completa.

Muita gente acha filme clássico chato. Acreditam que preto e branco é algo superado. Creem que a ausência de efeitos especiais e astros do momento é pobreza. Isso foi atestado quando vi que haviam 6 pessoas na sala – eu e meu pai incluso. No entanto, lá estava diante de mim um filme que faz rir, chorar, pensar, se emocionar. E fazer o tempo flutuar. Eu e meu velho pagamos R$ 7,00. Os dois.

O tempo se arrasta para a maioria, obrigada a executar tarefas repetitivas e satisfazer os instintos.
O tempo anda para pessoas que estão relativamente bem ocupadas, em equilíbrio consigo.
O tempo flutua para quem consegue captar a magia da vida.

O “meu tempo” flutuou no domingo. Com Frank Capra (o diretor).


George Bailey num momento de dificuldade, na crise de 1929.
Como disse, já havia assistido o filme 
antes. Mas só ontem, após passar por algumas situações e conhecer o verdadeiro significado de certos ensinamentos eternos, pude captar com a máxima intensidade o significado de cada cena. Isso, para mim, é o verdadeiro milagre que a vida opera.

O personagem principal, George Bailey (James Stewart), é um jovem cheio de sonhos e honesto, que sabe (incertamente) e não sabe (temporariamente) o que quer. Mas tem boa vontade. E são suas boas intenções impulsivas que o conduzem a tomar atitudes que lhe trazem problemas (à princípio) e alegrias (depois). Sempre em ciclos mais intensos. É um homem sempre em choque com o poder e que se vê diante das piores tentações nos momentos de maior fragilidade.

A vida de George Bailey poderia ser cheia de aventuras. Mas sempre que a oportunidade de sair de seu pequeno vilarejo (Bedford Falls) aparece uma dificuldade surge, exigindo sua presença. Responsabilidade e paciência. E com essa cadeia de derrotas aparentes começa a se formar uma vida de retidão. E emoção.

No trabalho, com a firma herdada do pai, George consegue dar o exemplo, providenciando uma casa (e vida) decente para milhares de famílias de sua cidade, às custas de seu sucesso material.

Ele, num momento de quase falência junto a seus clientes, decide, por convicção numa justiça maior, mantê-los longe da aparente salvação do mercado. E sacrifica o dinheiro de sua lua-de-mel com Mary (Donna Reed), a moça que sempre e somente gostou dele, em prol de seus clientes. E ela, por amor à sua convicção, se coloca ao seu lado. Jamais se arrependendo.

Espírito vencendo a matéria; Justiça divina vencendo a (in)justiça humana; Amor profundo vencendo o interesse egoísta. E com isso os clientes viram amigos. De verdade.
Está selado o pacto com um jogo de forças positivas, que serão acionadas no momento certo.

O clímax do filme é o momento da maior prova a ser suportada por nosso personagem, verdadeiro modelo do homem moderno. Na hora de maior desespero, à beira da falência, da pobreza e do abandono (injustamente direcionados) ocorre o inesperado: a ajuda do Alto. Mas não se trata de um simples resolver de problemas, e sim de um impulso para o personagem recobrar a consciência de sua importância.

Uma visão do que seria Bedford Falls sem George Bailey leva ele (e o espectador) a perceber como a vida de um único homem pode tocar construtivamente – e salvar! – milhares de outras. E assim, via lógica e bom senso, nos convencemos de que uma vida de resistência e sacrifício e bondade vale mais do que todos os recursos materiais do universo.

Precisamos despertar nosso George Bailey latente,
Precisamos encontrar a nossa Mary,
Precisamos combater os Srs. Potters,
Precisamos despertar o interesse pelos reais valores da vida.

A verdadeira ascensão, o verdadeiro prazer, os melhores momentos, custam muito pouco.
Vi esse filme por R$ 3,50...


Cristo nos disse para nos ocuparmos das coisas de Deus (espírito) e que fazendo isso as outras coisas (materiais) nos serão dadas por acréscimo. Isso é o que uma pessoa preparada sente ao assistir A FELICIDADE NÃO SE COMPRA. E quando tudo se encaixa, a alegria é ímpar. 

Quem é bem intencionado nunca estará sozinho.
Quem faz o bem, o verdadeiro bem, sem medir esforços e desejar recompensas, será ajudado nos momentos mais sombrios.

Nada ou ninguém deste mundo pode fazer mal a uma pessoa boa.

Quem assistir esse filme passará a acreditar nessa máxima.

Assistir de verdade. Com mente, espírito e coração.

sábado, 13 de setembro de 2014

POR QUE EU ACREDITO NA REENCARNAÇÃO

Quando alguém torna um texto seu, com seus mais íntimos pensamentos, público, geralmente se trata de uma atitude pouco recomendável. Quantas vezes observei pessoas lançarem longos tratados sob mantos de moralidade sem no entanto revelarem nada mais do que problemas pessoais mal resolvidos (por sua própria culpa inclusive). Isso no entanto, não constitui um problema tão grave se tratando de um ser humano cuja ocupação não lhe exponha sob os holofotes da mídia (atores, jornalistas, políticos, etc). No entanto, a partir do ponto em que uma pessoa influente deixe seus instintos dominarem seus atos e estes sejam revelados ao público, o dano é tremendamente maior. Cisão sem explicação. Separatismo e choques. Vetorizarão dos males que pessoas tentam superar; enxugamento das conexões profundas sendo estabelecidas a nível individual e coletivo.

Falo sobre essa armadilha porque o tema exposto aqui talvez seja tão polêmico quanto àquele tratado em meu ensaio “Por que eu acredito em Deus”. Mas da mesma forma que ressaltei o meu desejo de demonstrar que não se trata de uma imposição, reproduzo a mesma vontade desde o início deste novo ensaio. Este, sem dúvida, está intimamente relacionado àquele, e pretendo, através da lógica e da razão, demonstrar que a ciência se aproxima cada vez mais da fronteira do que denominamos (ainda) imponderável.

Partindo de uma vontade esclarecedora – e portanto unificadora – decidi colocar no início do título “Por que”, de forma a deixar claro que desejo justificar de forma racional, apelando à razão e bom senso do leitor sem preconceitos, cujo desejo é antes de tudo conhecer a verdade, independentemente se esta lhe agrada ou não.

Problemas: estabilidade econômica,
patogênese do câncer, reencarnação.
Muitas pessoas buscam argumentos bíblicos para refutar ou comprovar a teoria da reencarnação, dependendo de qual lado estão. Isso é fazer uso da ciência de Deus (Teologia) para satisfazer uma vontade egocêntrica centrada unicamente em si ou seu grupo (egoísmo). No entanto, a partir do momento em que combinamos a visão teológica com a científica, e colocamos uma pitada de espírito filosófico, o fenômeno começa a ficar mais claro e os conceitos tendem à convergência.

O V Concílio Ecumênico de Constantinopla (553 d.C), foi polêmico por condenar a preexistência do espírito e a Apocatástase (restauração de todas as coisas). Isso se deu, de acordo com documentos históricos [1], à mulher do imperador romano Justiniano, a imperatriz Teodora. Essa mulher, de acordo com suas frequentes consultas a médiuns, ficou sabendo que foi uma prostituta em outra vida, e suas ex-colegas, por saberem disso e difundirem tão vergonhosas particularidades à léu, causavam grande revolta na imperatriz. Logo, para acabar com essa história, mandou eliminar todas as prostitutas da região de Constantinopla.

Com esse ato Teodora ganhou fama de assassina pelo povo, que era reencarnacionista e afirmou que ela seria assassinada 500 vezes em vidas futuras (o número de mulheres mortas por sua ordem).

Com isso a mulher de Justiniano passou a odiar a teoria da reencarnação e resolveu iniciar uma cruzada sem tréguas contra ela – a ideia era mais desagradável que os dizeres de suas colegas. Como se tratava de uma mulher influente, convenceu o marido a perseguir quem a concebeu ,Orígenes [2], um sábio da teologia e filosofia que viveu três séculos antes e estabeleceu os fundamentos da reencarnação.

Assim Teodora e Justiniano desestruturaram a doutrina da preexistência, levando como consequência à destruição da teoria da reencarnação.

No ano de 543 d.C Justiniano publicou um édito em que expunha e condenava as principais ideias de Orígenes, sendo uma delas a preexistência (CHAVES, 2002, p.185-186).

Eis em linhas gerais o contexto histórico no qual foi abolida a teoria reencarnacionista na Igreja. Como se vê, para os opositores fervorosos, trata-se de um caso semelhante à história dos cinco macacos e do cacho de bananas.

Quanto ao aspecto científico, lógico e racional, me apoio na obra “Problemas Atuais”, de Ubaldi.

A primeira contestação que sonda as mentes céticas se refere aos efeitos visíveis. Deseja-se uma prova científica de tal fenômeno, de modo a comprovar a pré-existência da alma e sua continuidade. A essa contestação podemos citar as qualidades inatas de certos indivíduos que, desde a mais tenra idade, apresentam aptidões fora do comum, que só podem ocorrer com milhares de horas de estudo e treino contínuo. No entanto, admitida essa necessidade, observamos crianças de 4 anos tocarem piano melhor do que pessoas que passaram a vida inteira se dedicando a música – e fazendo isso bem [4].

Apresentando estes casos excepcionais a mente racional (com razão) continuará demonstrando muitas dúvidas sobre a teoria da reencarnação, e ao mesmo tempo apresentará diversas explicações concretas para tal fenômeno. Responderão que se trata de uma vantagem genética que aumenta a taxa de assimilação (em uma ou várias atividades). Aumenta, mas não exclui a necessidade. É plausível. No entanto, o fato disso ser uma verdade – ou a possibilidade de sê-la – não significa que se tenha chegado às causas primeiras que expliquem essas habilidades. Ou melhor, essa fenomenal taxa de aprendizado da ordem de centenas ou milhares de vezes.

Quantas vezes a humanidade, através da ciência, estabeleceu como verdade absoluta algo até o momento que se demonstrava incompleto. Lembremos da teoria da gravitação de Newton expandida por Einstein; ou o modelo da Terra; ou as (alternadas) receitas médicas para uma vida saudável; e por aí vai. Verdades relativas.

Mas a questão é: se existe uma Lei diretora no Universo, e portanto uma justiça, como é possível que esta dê a um habilidades excepcionais enquanto outros se mantêm na média? Para o caso daqueles que creem nesse pensamento diretor, isso é inaceitável e deve-se recorrer a uma teoria que satisfaça à razão, à lógica e ao sentimento. Nesse caso a teopria reencarnatória é a única capaz de concatenar logicamente essas dúvidas.

Quem acredita que tudo é caos – e portanto inexiste uma justiça universal – “resolve” o problema facilmente, atribuindo ao acaso tal 'acidente' da Natureza, seja ele benéfico ou maléfico. No entanto, observemos atentamente o comportamento deste cético, com uma mente puramente racional e prática, que aparenetmente resolveu tudo num passe de mágica.

Muitas pessoas que declaram não crer numa Lei universal o fazem – a meu ver – por motivos práticos. Permeadas de medo de se lançarem num oceano de dúvidas que conduzirá a reflexões profundas e incômodos, é mais vantajoso (e esperto, neste mundo) se ater aos problemas imediatos e resolvê-los magistralmente – garantindo sucesso e segurança momentânea – do que se lançar em investigações que consomem tempo, energia e são incertas. Chegam a pseudo-conclusões. Os motivos são justificados: quantas vezes observou-se pessoas falarem do imponderável de forma demagógica, tentando impor teorias sem nenhuma base lógica e com o unico intuito de converter mentes. No entanto, o fato de grupos fazerem o uso da idéia para se autopromoverem não a desqualifica.

Outro ponto: pessoas céticas e que afirmam não existir Deus chegaram a essa conclusão baseado em experiências individuais (vivência) ou coletivas (estudo da História). No entanto essas mesmas pessoas que negam uma Justíça divina, afirmando que tudo é caos no universo, tem um senso moral do que é certo ou errado. Ou melhor, princípios que julgam universais e são involáveis na sua consciência. Muitos dizem que os espertos, com uma pitada de sorte, ganham o mundo, mas ao mesmo tempo essas pessoas, diante de situações em que poderiam se dar bem à custa dos outros, se veem incapazes de passar em cima do outro. Por quê? Existe a ação de um freio mental que atesta uma falta de crença em suas teorias. Sua consciência lhes diz que há algo de errado naquilo. Apesar da negação de uma ordem universal, as atitudes atestam possibilidades.

A teoria da reencarnação, como o próprio nome diz, é uma idéia que aponta para uma possibilidade lógica, ainda não detectada por nossos instrumentos.

Einstein, quando elaborou sua teoria da relatividade, não provou nada experimentalmente. No entanto, todos seus diagramas e formulações e linha de raciocínio, se não podiam ser aceitas de prontidão, igualmente não podiam ser negadas. E eis que, décadas após, com a conquista do espaço próximo, a humanidade colocou sua teoria à prova e a confirmou.

Á falta de sensores adequados só podemos nos declarar impotentes para as novas idéias. A negação é um ato de preconceito ou falta de espírito empreendedor, a meu ver, que deve ser superado por uma humanidade cada vez mais desejosa de ascender nas esferas morais, afeitvas, culturais e espirituais.

As teorias precedem às descobertas, mesmo que o mundo dê evidências a todo momento das mesmas – mas as pessoas se recusem a ver uma Lei naquilo. Estudando a História da ciência isso é cristalino.

Descobrimos alguns dos porquês. Mas existem os porquês dos porquês, que exigem novas concepções.

A humanidade tem o instinto atávico de negar o novo por ter assimilado por demasiado tempo o antigo. Verdades que eram adaptadas à forma mental antiga, com sua sensibilidade intelectual e moral aquèm dos padrões presentes (ainda baixos perante o divino), não resolvem os problemas atuais. Problemas cada vez mais demandantes e presentes. Problemas que nossas ciências, nossas religiões, nossas filosofias e nossa própria vida social e afetiva, encontram.

Para finalizar este ensaio ouso lançar uma idéia ousada além da conta.

Acredito que, sendo verdade ou não, a crença na Teoria da Reencarnação fará a humanidade conquistar uma posição nunca antes atingida. No campo afetivo, no trabalho, nos estudos, em tudo.
Por quê? Porque quando colocamos em nossa mente – mesmo que nos autoenganando – de que INEXISTEM LIMITES temporais para nossos planos, nosso FOCO será na ESSÊNCIA de nossas atividades.

A conquista de uma moça que amamos será feita através de um processo lento, gradual, firme e laborioso, com paciência e sem nervosismo e imposições, que pode nos levar a conquistar o inconquistável.

Um trabalho será feito com imersão total, sem medirmos os ganhos num prazo próximo. E com isso talvez atinjamos metas nunca antes imaginadas.

Quando não pensamos (conscientemente) em superfluidades como prazos tendemos a nos fundir apaixonadamente com aquilo que fazemos, e nesse mesmo prazo apertado conseguimos possivelmente realizar feitos incríveis. E mesmo que não, o efeito ao longo de anos, décadas e – para quem crê – vidas, é sentido. Incorpora-se no ser novas características. O difícil passa a ser natural. E assim podemos passar a trabalhar em planos mais vastos.

O filme Gattaca [5] tem uma cena que me encantou, no qual o irmão geneticamente inferior (Ethan Hawke), que sempre apostava um nado com o irmão, num percurso de ida e volta até a costa – e perdia – uma vez ganha de lavada do mesmo. O segredo? “Eu nunca pensei na volta.” A mente vence a genética. O espírito vence a matéria. A capacidade de superar a forma mental convencional suplanta qualquer superioridade genética.

Eis que o maior dos poderes se revela impalpável.


"O erro não se torna verdade por multiplicar-se na crença de muitos, nem a verdade de torna erro por ninguém a ver...".
Gandhi



Referências



[3] “Problemas Atuais”, A Teoria da Reencarnação (1a Parte). Pietro Ubaldi.