quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Absoluto guiando os relativos

Nos últimos anos vem crescendo nos meios sociais mais "progressistas" a ideia de relativismo dos costumes. Essa ideia encontra uma alta receptividade entre pessoas eruditas, que tiveram condições de estudar e gostam de refletir sobre seu passado e como o mundo vem sofrendo mudanças em todos seus âmbitos. Numa discussão acalorada, qualquer sinal de que alguém está prestes a superar a linha horizontal que diferencia todos - e ao mesmo tempo ignora qualquer verticalidade evolutiva/involutiva geral - é prontamente rejeitado. Pois tudo é relativo, e quem tenta rebater esse argumento (de energia aparentemente infindável) é vencido pelo próprio conceito que critica.

É inegável que existe uma profunda verdade no consenso da maioria: o relativismo existe. Uma cidade quente para um pode ser fria para outro; o que é belo para uma cultura ou pessoa pode não sê-lo para outra; a dificuldade de aprender piano para uma criança pode ser abissal, enquanto outra pode assimilar e executar sem suor os noturnos de Chopin em poucos dias; a quantia de dinheiro para alguém levar uma vida confortável pode variar infinitamente; e por aí vai. Ao mesmo tempo, percebe-se que, apesar de ser uma realidade deste mundo (presente, insisto), essa equação não fecha. Porque quando todos ou muitos se armam com essa ideia e vão para a batalha psicológico-verbal, uma trajetória circular infinita se consolida (um termo definido como 'loop' infinito pelos programadores). Tudo se justifica. Tudo se pode. Apesar de racionalmente ser incapaz de vencer mentes ágeis e estudadas, uma pessoa de bom senso sabe que não é bem por aí.

Diagrama gráfico que sintetiza o fenômeno evolutivo
Observar a História permite revivermos os grandes acontecimentos que marcaram época, além de sentirmos como as pessoas pensavam e agiam, compreendendo o porquê de seus atos (mesmo que infundados). Essa vivência, se for suficientemente intensa, colima numa catarse que leva o ser a perceber mudanças profundas no modo de pensar. 

Leis que antes eram aceitas por consenso geral hoje são consideradas como atos bárbaros na maioria do mundo (o apedrejamento, por exemplo); A ideia de uma Terra esférica (ou quase) era loucura para o povo há 500 anos; Negar que existem fenômenos psíquicos causados por algo que não provenha do cérebro, por exemplo, está se tornando cada dia mais estranho. A ciência avança e o imponderável de ontem começa a parecer menos delirante. Transformação. E isso faz as certezas de ontem serem vistas como observações superficiais, por ausência de referências e conhecimento da época. Isso não quer dizer que não haja verdade nelas. Simplesmente significa que a SENSIBILIDADE humana era demasiadamente baixa.

Alguém pode contestar o desenvolvimento da minha ideia original afirmando que o absoluto (passado) está se tornando relativo (vir-a-ser), conforme estou demonstrando. Isso é, a meu ver, outra observação incompleta. Eis o porquê: O absoluto de areia do passado era um conceito prematuro forjado por sociedades com menos conhecimento. Quando colocamos pontos finais em assuntos sem termos uma visão HOLÍSTICA, estes logo são apagados pelo vendaval do progresso. 

À medida que a inteligência individual e coletiva cresce, e com o início da ascensão do senso moral, as pessoas tendem a sintetizar de maneira mais sólida, tornando seus absolutos - suas ideias e teorias gerais - menos susceptíveis à erosão dialética. Mas com o aumento de pessoas atingindo tal patamar, forma-se uma série desses "absolutos" (absolutos em relação ao passado, relativos em relação ao presente) que se chocam - se não por via verbal, por outros meios: via não-convivência, via postura política, social, etc. Logo, tudo passa a ser relativo.

No entanto - e cada vez mais acredito nisso - o chocar dos pensamentos geram como produto ao longo das gerações sínteses, que nada mais são do que a ideia-filha, mais completa, mais depurada, mais elevada e portanto mais capaz de conquistar mentes e ser fonte para evolução.

Agora, o X da questão.

Existem pessoas visionárias (como Vitor Hugo, Jesus, São Francisco, Pietro Ubaldi, Albert Einstein, Galileu, Dostoievski,...) que vislumbram essas ideias além-do-presente. Vêem com dificuldade, mas sabem explicá-las - apesar de raríssimos terem o saber e a paciência de acompanhar até o final. No entanto, percebem muito mais do que a média culta da humanidade, cega a elas. E devem se consolar observando suas teorias se encaixarem perfeitamente a cada passo doloroso e ineficaz que seus semelhantes negadores do progresso dão. 

Queda e Salvação.
 Aqui não se trata de condenar, e sim constatar um dinamismo sutil que impera em nossas vidas.

Com isso percebe-se que existe um absoluto, mas ninguém atingiu-o ainda. No entanto, não podemos negar que: 

(1) existem mentes que se destacam na verticalidade evolutiva; 

(2) a grande maioria, imersa na unidimensionalidade horizontal, adota uma visão emborcada desses seres, classificando-os como diferentes em seu plano, mas nunca como guias.

O problema não está na existência de um absoluto. O grande mal está no instinto nefasto que temos de usá-lo para gerarmos classificações em nosso próprio plano evolutivo, denegrindo cada vez mais a possibilidade dessa ideia ser aceita.

Esse ensaio foi apenas a gênese de um pensamento muito mais profundo.

Para quem se interessar pelo assunto recomendo o estudo do livro "QUEDA E SALVAÇÃO", de P. Ubaldi.

A ascensão exige o desapego de conceitos antigos.


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