terça-feira, 5 de novembro de 2013

A Felicidade não se Compra (Frank Capra)


Poucos são os filmes que nos fazem ter esperança nas relações humanas. Mais difícil ainda é contar uma história assim cujos personagens sejam capazes de estarem bem próximos de nós, como George Bailey, um homem comum com sonhos e vontade de conhecer o mundo. Mas que o destino (sim, sempre o destino), feliz ou infelizmente, reservou coisas diferentes. 

Frank Capra era capaz de captar o universo interior de seus personagens. Talvez o melhor exemplo disso seja "A Felicidade não se Compra" (1946), que é, na minha opinião, sua melhor e mais completa obra.


A Felicidade não se Compra (1946)

Trata-se de uma narrativa simples com personagens simples. A vida de George Bailey (interpretado pelo eterno bom moço James Stewart), um rapaz que está ansioso por fazer faculdade e viajar pelo mundo, mas se vê obrigado a continuar os negócios do seu pai porque não havia outra opção econômica para a família. No entanto, ao assumir a presidência da pequena empresa de seu pai, ele tem de enfrentar um velho concorrente, o senhor Potter, um homem capaz de pisar em qualquer pessoa para fechar um bom negócio – o típico neoliberal moderno. Especialmente nas pessoas simples e trabalhadoras, como quase todos habitantes da pequena cidade.

O filme começa pela parte final, onde George está desesperado porque se vê incapaz de pagar uma dívida de 8 mil dólares para Potter. Vemos anjos – em forma de pontos luminosos – conversando no espaço sideral sobre a vida. Eles decidem enviar para a Terra um anjo, Clarence, cuja missão é evitar o suicídio de George Bailey. Mas antes Clarence precisa ficar a par de quem é o homem que deve ser salvo para compreender a sua situação. Voltamos no tempo.

James Stewart era sem dúvida o ator preferido de Capra. Alto, bem apessoado, com um ar de moço inocente e inteligente ao mesmo tempo, sua presença nas telas trazia vida aos personagens de Capra, transpirando a simplicidade, a raiva, a alegria, a dor, a tristeza, tudo de forma convincente. O que vemos na tela é um ser humano que poderia ser qualquer um de nós, com seus sonhos e sua vida. E muita (muita) vontade em perseguir seus sonhos e ideais. 

Impedido de sair de sua pequena cidade, George faz uma visita a Mary (Donna Reed, maravilhosa), uma moça que gosta dele desde que os dois eram crianças. Após algumas discussões não é possível para nenhum deles se desviar do inevitável, e eles acabam se casando, pois realmente se amam. Isso é demonstrado de um modo que só Frank Capra conseguiria. E é bela essa aproximação.

Vemos as dificuldades do dia a dia dos Bailey's em tocar seus negócios. O amor que eles têm pela sua comunidade é demonstrado através de seu trabalho. Ele trabalham pela sua cidade. Potter, por outro lado, faz a cidade trabalhar para ele, cobrando aluguéis surreais e oferecendo casas mal acabadas, ansioso para que alguém fique endividado em algum momento e tenha de recorrer ao seu escritório. Puro orgulho e egoísmo. Essas diferenças irão gerar uma competição na qual o poder da agressividade tende a deixar George numa situação de grande vulnerabilidade, que por conseguinte irá gerar uma tensão que o levará a pensar no suicídio. Aí surge Clarence e revela o que seria de sua pequena cidade se ele nunca tivesse existido.

Pode-se dizer que "A Felicidade não se compra" é um filme que despreza o capitalismo ganancioso de Potter e elogia o socialismo praticado pelos Bailey´s. Socialismo no sentido de colocar as pessoas (e não o dinheiro) em primeiro lugar. De colocar os seus amigos de anos em primeiro lugar. De colocar aqueles que trabalharam a vida inteira no seu lugar justo e lhes dar um lar decente e uma vida digna. E não de explorá-los continuamente.

O Destino também é um tema tratado. Será que seria melhor George Bailey realizar seus sonhos e nunca ter voltado à sua cidade? Ou será que algo aparentemente chato não acabou sendo melhor? (Afinal, ele ficou com Mary, o amor de sua vida, pôde ajudar seus conhecidos, e, melhor de tudo, combateu a ganância de Potter). Essa reflexão caba a nós, espectadores.

Você está se sentindo mal? Alugue “A Felicidade não se Compra”.

É Frank Capra em sua melhor forma.

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