quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Um Novo Modelo Político-econômico para uma Nova Sociedade

A continuidade e agravamento das tensões e conflitos sociais ao redor do mundo parecem nos dizer que algo não vai bem. A Primavera Árabe, a derrubada do governo na Islândia, a xenofobia européia, os crimes nas escolas se proliferando (virando moda), os protestos sociais no Brasil. Etc. Parece que existe muita injustiça social. Que existe algo que não vai bem. Que existe pouca democratização da cultura e muito controle sobre a vida das pessoas. Controle dos Estados e Corporações - que tem atingido dimensões de Estados.

Através da ciência sabemos que não existe efeito sem causa. E através do estudo das religiões sabe-se que isso se estende para o campo moral. Mas ter a consciência disso é apenas o primeiro passo para resolvermos um problema.

É ainda muito comum neste mundo seres humanos em cargos de poder atacarem causas secundárias ou terciárias de um problema (ou nem isso) visando sua solução. Nada mais ineficaz e infantil, na minha opinião. E é comum eles afirmarem que estão resolvendo - ou resolveram - eficientemente um problema. A criminalidade, por exemplo, é um setor problemático tratado dessa forma: prende-se e humilha-se qualquer suspeito - pobre, não-caucasiano e sem fama, de preferência - sem se pensar em sua reinserção na sociedade. E muito menos se pensa em dar condições dignas para todos desde a mais tenra infância, o que poderia muito bem evitar milhares de casos graves de criminalidade. Estas condições dignas são privilégio de classes altas. Resultado: a questão criminal é realimentada positivamente gerando efeitos cada vez mais catastróficos. Ano após ano.

O modo de (não) atacar o problema descrito anteriormente pode ser estendido a todos setores da sociedade, cada vez mais problemáticos nesses tempos líquidos (como diz Baumann). Pode-se perceber que num mundo sensato, os dirigentes mudariam a essência de sua tática de combate. Mas neste mundo ocorre o contrário: aumenta-se a intensidade do ataque na mesma direção. Aperta-se a mesma tecla, com mais força. E às vezes com mais freqüência, o que só piora a situação, gerando uma instabilidade crescente. Pura burrice ou egoísmo por parte de governos e empresas. Ou melhor, pura burrice E egoísmo, já que o egoísmo é burro e a burrice é egoísta.

Leonardo Boff (1938- )
Eu tenho o hábito de dizer que o sistema político-econômico vigente numa sociedade é aquele compatível com o nível intelecto-moral desta. Sob esse prima o capitalismo foi útil para a produção eficiente dos bens materiais até hoje. No entanto, não posso afirmar o mesmo a respeito da difusão desses mesmos bens. Tampouco na difusão da cultura e no desenvolvimento moral do indivíduo.

Quando uma criança é jovem, deve ter certos brinquedos e se alimentar de tal forma que os nutrientes e quantidade dos mesmos sejam adequados à sua fisiologia. No entanto, à medida que esta criança cresce, os brinquedos (que foram importantes para sua formação) e a alimentação (que foi importante para seu desenvolvimento) muda. Novos objetos e objetivos dão lugar a antigos. Novas experiências surgem. E assim ela se desenvolve de modo saudável.

O capitalismo foi um "alimento" que desenvolveu a humanidade - embora eu acredito que ele pudesse ter sido mais fraterno. mesmo sob sua ótica. Mas esse é um modelo que vem se esgotando, pois sua essência não é capaz de lidar com demandas cada vez mais crescentes e intensas de qualidade de vida, justiça social e valorização de riquezas intangíveis. Ele coloca o lucro como fim. E quanto mais ele se desenvolve, mais recursos drena do ambiente (matéria, seres vivos e humanos). Essa é uma política que não se sustenta a longo prazo, e o único meio de ir levando um sistema esgotado assim é revesti-lo com mantas que não exprimem sua verdadeira natureza.

Tomemos a Europa Ocidental e os EUA como exemplo. Muitos podem afirmar que são países ricos com muita qualidade de vida. É verdade. Mas o custo dessa qualidade de vida para o resto do planeta foi e é muito alto. Principalmente em termos de vida e saúde para habitantes de outras regiões do planeta. Ou seja, trata-se de um pseudo-desenvolvimento. Um parasitismo. Um "desenvolvimento" à custa de povos e territórios adjacentes e distantes. Insustentável a nível planetário.

Bertrand Russell (1872-1970)
Da mesma forma, os Estados "socialistas" do século XX parasitavam recursos de outros povos (e de seu próprio povo), alienando as mentes e moldando os corpos a um modo de vida incompatível com a natureza humana, que prima pela liberdade e livre expressão. Eram governos que se travestiam com bandeiras sociais, mas que em sua essência estavam centradas no capital. Só que este, ao invés de correr livremente, se concentrava nas mãos de um partido, ou seja, seus membros, e poucos grupos privilegiados - colaboradores em sua essência. Um modo de operar semelhante ao que ocorre na grande maioria das corporações de nossos tempos neoliberais, diga-se de passagem. Só que nestas não existe um foco de poder a ser combatido. O controle está pulverizado, de forma que o combate dele se torna muito mais difícil. Mesmo porque sua identificação não é fácil.

Eu diria que o mal feito por Mao, Stálin e outros líderes autoritários do século XX à idéia do socialismo é semelhante ao mal feito pelas Igrejas à Cristo e sua mensagem. Ou seja, são ditadores e instituições que fizeram uso de idéias e divindades para impor sua vontade e acabaram como conseqüência afastando as pessoas da religião e das políticas e governos de cunho mais socialista. É claro que no caso da religião o efeito demorou muito mais para ser rejeitado. O crescimento do número de ateus, por exemplo, começou a aumentar no século XIX, após séculos de crimes e abusos cometidos em nome de Deus, que não condiziam com a sua infinita sabedoria bondade. Conseqüência: pessoas muito inteligentes e esforçadas na prática dos ensinamentos morais passaram a vincular a Igreja - e às vezes muitas das entidades que ela dizia seguir - a uma instituição de alienação. O mesmo ocorreu com os conceitos de socialismo durante sua experiência no século seguinte.

Apesar de toda propaganda negativa ao longo da História, não vejo o porquê das pessoas abandonarem a idéia original e tentarem aplicá-las em suas vidas dando o exemplo. O problema está justamente no excesso de propaganda recebida por parte da mídia, família, (muitas) escolas e (grande parte da) sociedade em enterrar certos conceitos que até hoje não foram compreendidos em sua essência, e por isso devem ser vistos pela primeira vez - ou revistos de forma mais séria.

A grande mídia vem fazendo mal enorme ao sufocar conceitos compreendidos erroneamente e superficialmente pela sociedade. Sociedade essa que ainda possui pouca educação e pouca cultura em sua maioria. Não por sua culpa, mas em grande parte devido a longas jornadas de trabalho que são forçadas a encarar apenas a título de garantir sua subsistência. E também a uma pressão presente em suas mentes, inserida sutilmente através dos meios de comunicação, controlados por grupos que desejam manter as coisas funcionando do mesmo jeito.

Hughes Félicité Robert de Lamennais (1782-1854)
A libertação das mentes é o único caminho para iniciarmos verdadeira revolução em nossa sociedade. Quando as pessoas perceberem que existe saturação para os ganhos materiais e que devemos ter uma sociedade que garanta o básico para todos - para podermos desenvolver a mente e a alma - as coisas começarão a andar.

A necessidade de se ganhar relativamente pouco, gastando grande parte de seu tempo e energia para isso, e ainda mais usando esse relativamente pouco para pagar apenas o necessário para sobreviver, vem corroendo milhões de pessoas, que se vêem impedidas de desenvolver outras habilidades. Tudo em prol do lucro e consumo de bens absolutamente desnecessários.

Gostaria de encerrar aqui deixando uma lista de autores relevantes que falam e defendem temas tratados por mim neste artigo - mas de forma muito melhor, obviamente. É um trio variado em formação, época e nacionalidade, mas que possui unidade em uma coisa: difusão da verdade e busca da felicidade. São verdadeiramente evoluídos em todos os campos, e são prova para reforçar minhas idéias.  São eles:
  • Bertrand Russell
  • Hughes Félicité Robert de Lamennais
  • Leonardo Boff
Vale a pena ler a respeito da Teologia da Libertação (muito divulgado por Boff); "Elogio do Ócio" (do B. Russell) e obras diversas de Lamennais. Eles darão uma boa orientação sobre meios de construirmos uma sociedade melhor: Utopia para os conformados, um projeto a ser trabalhado para os verdadeiros operários das Eras.

Para quem se interessar, aí vai:

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