domingo, 13 de outubro de 2013

Um Mundo Multidimensional precisa de Pessoas Multidimensionais

Muitos de nós ainda reproduzem um modo de vida baseado em fórmulas antigas que se aplicavam a um mundo mais simples – mas não menos sofrido! – com pouca interconexão entre as pessoas. Um mundo mais lento, no qual poucos tinham acesso a muito e muitos tinham acesso a pouco. Mas esse modo de vida, que eu chamo de unidimensional, vem caindo em desuso cada vez mais. E as pessoas começam a sentir e perceber isso. Explico melhor.

Como encaramos o “trabalho”? (ainda). Encaramos o “trabalho” como uma atividade remunerada que – teoricamente – deve gerar o bem geral da sociedade e de seu executante. E também como algo bem definido. Se não no espaço, com certeza no tempo. Isto é, temos cercas e muros cronológicos que definem quando estamos realizando essa atividade ou não. Mas sabe-se muito bem – e cada vez mais – que existem verdadeiros e grandes furos nesse muro que separa a vida pessoal e o trabalho. E como o sociólogo italiano Domenico de Masi teoriza, – assim como muitos outros antes dele – o natural seria que uma permeasse a outra. De preferência a vida pessoal com maior intensidade (já que temos cada vez menos oportunidade de desenvolvê-la). No entanto, vemos um fluxo unidirecional no sentido trabalho-pessoa...

Certa vez, quando era estudante na faculdade e estava no ônibus, ouvi um moço dizer para uma antiga colega que não via há muito tempo que “não tinha tempo para fazer as coisas mais”, porque só “passou a viver o trabalho”. Isso me horrorizou de tal forma que não pude deixar de imaginar a miríade de habilidades e vivências que este jovem rapaz estava renunciando apenas por motivo de sobrevivência e inserção nesse mercado: convívio com os vizinhos, com os filhos, com a esposa, com os amigos, estudos, passeios, reflexões, natureza, arte, cultura,...Tudo reduzido ao máximo possível em troca de um meio de sobrevivência. Como se as atividades das quais ele abdicou para ter esse “trabalho” tivessem um papel secundário em sua vida – e na vida de todos nós.

Percebi que em nossa sociedade ainda é muito comum casos como o desse rapaz. Pessoas que poderiam ser e produzir muito mais (para a sociedade, e não para uma elite) mas que são impossibilitados disso em virtude de uma conjuntura econômica que preza pela produção e consumo desmensurados. A justificativa daqueles que apoiam e defendem esse modo de vida é a de que esses são os únicos meios para se atingir um verdadeiro estado de felicidade. Bem...estudando a história de nossa civilização, especialmente da Revolução Industrial até os dias atuais, me dei conta de que essa lógica realmente se aplicava bem ao nosso mundo. Especialmente após a introdução de uma série de tecnologias no campo da comunicação e transporte, que possibilitaram a difusão do conhecimento (mas não necessariamente sua democratização) e permitiu a ascensão sócio-cultural de indivíduos pertencentes a classes não “nobres” – desde que esses cumprissem o novo papel de trabalhadores da indústria. Mas como vivemos num mundo dinâmico – e que tende ao melhor no longo prazo – esse modelo parece se aplicar cada vez menos ao nosso modo de vida.

O indivíduo, assim como a humanidade, evolui por etapas. Nunca vi algo se dar de outra maneira. Seja na Natureza ou na Humanidade. E começo a sentir que o mundo industrial, na qual a pessoa passa grande parte de sua vida útil trabalhando em uma especialidade, está começando a ruir para dar lugar a um novo conceito de trabalho e, consequentemente, relações interpessoais. Nesse novo mundo, as pessoas terão oportunidades experimentar e desenvolver suas potencialidades em diversas áreas. E – melhor ainda – terão a oportunidade de criar um genuíno interesse por atividades que a princípio consideravam inúteis, mas que devido ao tempo e energia disponível, poderão exercer seus dotes de exploradores.

Bertrand Russel dizia – e ainda diz acredito – que uma pessoa tende a ser mais feliz à medida que se torna capaz de se interessar por atividades “inúteis” ou não-práticas. E que quanto maior o seu leque de conhecimento ou curiosidade por conhecer, menores as chances de você se entediar e maiores as chances de superar uma depressão ou perda de um ente querido ou uma demissão ou separação ou acontecimentos do gênero. E vivendo e observando as pessoas posso afirmar com segurança de que essa teoria parece ser uma lei da natureza humana. Porque a pessoa capaz de transitar em diversos campos e – principalmente – perceber uma interconexão entre eles tende a ter uma visão global de tudo que acontece em sua vida e na vida dos outros. Consequentemente, se na alma de alguém havia ódio por um grupo, classe ou indivíduo, essa repulsa tende a diminuir, ou mesmo se anular. Unicamente devido a essa percepção mais ampla do Universo.

O mundo muda constantemente. As pessoas também. E as relações entre elas.
Um indivíduo que possui apenas uma ferramenta para sobreviver numa sociedade diversa terá sérias dificuldades de transitar por essa sociedade e não compreenderá as diferenças, tentando enquadrar todos fenômenos que ocorrem no mundo sob o prisma de sua ferramenta. É um ser unidimensional, que viverá uma vida unidimensional. Já quem possui diversas ferramentas (ou a vontade de adquirir habilidades em adquirir outras) tem grandes perspectivas em lidar melhor com os pequenos e grandes problemas que a existência com certeza vai lhe oferecer. É um ser multidimensional, capaz de operar em vários campos.


Em suma, devemos expandir nossos horizontes, moldando-os sempre que possível. Sempre. E para isso, jamais devemos ter vergonha de sermos donos de uma vontade sobrenatural. Só assim alcançaremos o desenvolvimento que tanto almejamos em nossas vidas.

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