sábado, 19 de outubro de 2013

Por que a Ciência Deve estar Acima de Fronteiras Nacionais e Interesses Corporativos

Há alguns meses atrás assisti um filme pra lá de interessante que retaratava o início da vida acadêmica de Albert Einstein. O título: “Einstein e Eddington”. Este filme tratava das dificuldades que esse gênio da Física teve para difundir sua teoria (a Teoria da Relatividade Geral) no meio acadêmico de outros países. Por motivos nacionalistas...

Basicamente vemos retratada a relação científica – muito dificultada por barreiras nacionais – entre o cientista inglês Sir Arthur Stanley Eddington e Albert Einstein. Era o início da 1a Guerra Mundial (1914-1918), e Eddington acabara de ser nomeado astrônomo chefe da Universidade de Cambridge por Sir Oliver Lodge, seu chefe. Este lhe instruíra a investigar a nova teoria do jovem judeu alemão e ao mesmo tempo tentar derrubá-la, defendendo a teoria Newtoniana a qualquer custo. Ao mesmo tempo Einstein se encontrava na Academia Prussiana de Ciências tendo seu trabalho financiado pelo Estado alemão, cuja intenção era meramente usar a nova teoria como uma propaganda de guerra, na tentativa de derrubar o trabalho de Newton. O fato é que ambos os lados estavam impedidndo o progresso da ciência – e da humanidade – por motivos mesquinhos.

Pôster do filme "Einstein & Eddington" (2008)
Assistindo o filme o espectador se dá conta de que os cientistas estavam totalmente desprovidos de preconceitos, ignorando questões nacionais. A busca dos dois era pela verdade. Independente de qualquer detalhe como origem, língua, nacionalidade ou crença. Puro caráter. Mas infelizmente os Estados (britânico e alemão) sistematicamente impunham barreiras para a descoberta e difusão dessa nova verdade, mais interessados em se apropriar de uma teoria e usá-la para esmagar seu adversário do que em promover a verdade para o desenvolvimento de todos seres do planeta. Puro egoísmo.

Existem diversas passagens que mostram que o modelo de Mecânica celeste de Newton – apesar de correto e preciso – era um caso particular da teoria de Einstein, mais geral. E era essa limitação que precisava ser ampliada. Por exempo, numa cena vemos Eddington observando uma maquete do sistema solar, falando com um colega (ou sua esposa, agora não me lembro) sobre o problema de Mercúrio: sua trajetória não obedecia às Leis de Newton com precisão. O modelo clássico não captava esse fenômeno, apesar de descrever perfeitamente outras dezenas de movimentos. E é aí que a correspondência com seu colega de ciência do outro lado do canal (da Mancha) era tão importante. Haviam fendas a serem descobertas.

Uma cena engraçada é justamente quando Eddington comenta com seus superiores de Cambridge sobre os estudos sendo feitos por um cientista alemão que estavam questionando a abrangência da Física de Newton. “Quais são as referências dele?”, perguntaram ávidos em obter (talvez) uma resposta que lhes agradassem. Ao passo que Eddington reponde: “Nenhuma”. E todos riem de Einstein, subestimando o impacto que seus estudos teriam no futuro. Isso demonstra que originalidade e visão não está atrelada a volume de referências. Em suma: informação é uma coisa, inteligência é outra.

Eddington e Einstein na vida real
Esse fato histórico me deixou (mais) fascinado pela ciência. Mas o principal efeito do filme foi denunciar as mazelas dos chefes de estado e de institutos que estão mais preocupados com seus poderes e títulos do que com o desenvolvimento e bem-estar de sua espécie (e de todas as outras). E podemos estender esse egoísmo para o campo das pessoas jurídicas – sim...as corporações.

Da mesma forma que os Estados brigam entre si por ideologias, recursos e ciência, empresas – em sua grande maioria – agem da mesma forma. Só que no caso destas as brigas são mais por recursos e ciência. É possível observar, por exemplo, que muitas corporações, quando enviam funcionários para trocar ideias com seus concorrentes, informam aos seus que devem passar a menor quantidade de informação possível e extrair (para não dizer sugar...) o máximo possível da outra. Por definição biológica, esse tipo de relação é PARASITÁRIA. Tida como esperta em nosso mundo involuído. Mas que no fundo acaba minando o desenvolvimento dos próprios funcionários, impossibilitando-os de crescer intelectualmente, pois cada um restringe as informações que pode dar ao outro (o “concorrente”), e assim ambos se desgastam, fazendo uma encenação elegante por horas – que gera custo a ambas empresas – com o intuito de “vencer”. Cria-se um teatro-arena na qual a atuação e a agressividade devem ser exercidas no mais alto grau. Isso é anti-cristão e deve ser abolido num mundo que afirma ter o desejo de evoluir.

No entanto, eu não vejo como o mundo pode se tornar um lugar melhor enquanto o foco primário da preocupação humana for EXTRAIR o máximo de tudo e de todos e/ou eliminar seu semelhante (“concorrente”). Num contexto global isso nada mais é do que auto-mutilação. Sim. Exatamente. Porque a Lei da Causa-Efeito é universal e, portanto, age sobre todas ações, sejam elas de origem Natural ou Humana. Esse ganho de um sobre outro é temporário. O mal causado a outrem retorna na mesma proporção para o(s) agente(s) causador(es). Em forma diferente talvez. Mas retorna.

É só imaginarmos o Império Romano. Tamanho era seu poder que ninguém imaginava que um dia ele iria ruir. E ruiu porque o sistema estava saturado. Porque ele (o sistema) era centrado na dominação. E quando se tornou muito grande (dispendioso para controlar) e sem nada mais para dominar – além de causas políticas, econômicas, religiosas e sociais que não dá tempo de comentar aqui – começou a definhar. Lentamente. Ao longo dos séculos. E caiu.

Pode-se aplicar o tipo de análise anterior para qualquer sistema criado por nós, humanos. Se analisarmos em termos cósmicos, observaremos um comportamento semelhante. Ascensão, dominação, clímax e queda.

O que eu quero dizer com tudo isso é que essa lógica parasitária de operação das nações e corporações NÃO É SUSTENTÁVEL. A longo prazo não. E tende a ser abandonada por outra um pouco mais sensata.

Quando as barreiras nacionais e a ganância empresarial forem postas à pique, a ciência terá total liberdade para se desenvolver e – mais belo e importante de tudo – aplicar suas descobertas para gerar bem-estar para tudo e para todos. E para aproximar todas almas desse planeta.

Essa é a missão da Ciência.


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